sábado, 31 de agosto de 2013

O Capital e a história


O CAPITAL E A HISTÓRIA
Robert Kurz
Imagem de Pawel Kuczynski
A confiança no capitalismo parece inabalável, até na esquerda. Ele renascerá como Fénix das cinzas de todas as crises e iniciará novas retomas. Entretanto, já não pode ser negado que estamos actualmente confrontados com uma queda histórica. Uma nova crise económica mundial com consequências imprevisíveis está na ordem do dia da história. Porém, apesar de tudo, a pergunta geral é apenas: Quando é que a crise acaba? Que capitalismo virá após a crise? Esta expectativa alimenta-se do entendimento de que o capitalismo é o “eterno retorno do mesmo”. Os mecanismos fundamentais da valorização permanecem sempre os mesmos. É verdade que há revoluções tecnológicas, convulsões sociais, mudanças nas “relações de forças” e novas potências hegemónicas. Mas esta é apenas uma superficial “história de eventos”, um eterno sobe e desce de ciclos. Nesta perspectiva, a crise é meramente funcional para o capitalismo. Ela leva à “limpeza”, pois desvaloriza o capital em excesso. Assim se abre caminho para novos processos de acumulação.
Esse entendimento não leva a sério a dinâmica interna do capitalismo. Mas há também uma visão diferente. Segundo esta, a valorização só existe realmente numa dinâmica histórica de desenvolvimento crescente das forças produtivas. Não se trata apenas de mudança tecnológica, mas também são estabelecidas novas condições de valorização. É por isso que o capitalismo não é o “eterno retorno do mesmo”, mas um irreversível processo histórico, que conduz a um ponto culminante. Pois no decurso da história interna do capitalismo restringem-se as possibilidades de valorização. A força motriz é a libertação da força de trabalho, tornada cada vez mais supérflua por meio dos agregados tecnológico-científicos. O trabalho, no entanto, constitui a substância do capital, porque só ele produz mais-valia real. O capitalismo só pode compensar esta contradição interna através duma expansão do sistema de crédito, ou seja, através da antecipação de mais-valia futura. Este sistema de bola de neve, no entanto, tem de esbarrar em limitações, caso se estenda este adiantamento demasiado longe no futuro. Nesta perspectiva, as crises não têm apenas uma “função de limpeza”, mas agravam-se historicamente e levam até uma barreira interna da valorização.
Cabe agora a pergunta sobre qual o estatuto da nova crise económica mundial. Os representantes da segunda opinião são acusados de apenas quererem esperar pelo fim do capitalismo. Mas o atingir de uma barreira interna não substitui a emancipação social, pelo contrário, apenas lançaria a sociedade mundial no caos. Poder-se-ia muito mais acusar os representantes da primeira opinião de que eles, sim, pretendem esperar ingenuamente que o capitalismo seja relançado, após a “limpeza”. É esta a esperança que muitas esquerdas partilham com as elites dominantes. Mas o que acontece se a situação não se comportar assim? Se não pode ser especificado qualquer novo potencial de valorização real, a teoria da “limpeza” não passa de uma fórmula vazia. Uma nova produção com trabalho intensivo, no entanto, está longe da vista. A posição geral de expectativa poderá sofrer um mau despertar. A questão teria então de ser: o que vem após o capitalismo? A mera nacionalização das categorias capitalistas não é mais uma opção, pois ela já faz parte da história. Se esta crise tem de ser resolvida com a civilização, talvez seja necessário mais do que esperar pela próxima retoma.
Deutsch KAPITAL UND GESCHICHTE in http://www.exit-online.org Publicado em Neues Deutschland, Berlim, 24.04.2009.

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