Economias periféricas em teto de zinco quente.
As
economias dominantes já resolveram a maior parte dos seus problemas do
último período de crise; as dominadas os acumulam cada vez mais. JOSÉ MARTINS.
O
ministro brasileiro da Economia, Guido Mantega, é um economista que
entende de economia. Isso é uma raridade. Bem diferente dos seus
antecessores no comando da economia do país; e muito mais que os eunucos
do FMI, Banco Mundial, etc. Talvez por isso a mídia imperialista não
canse de pedir sua cabeça. Um homem que pensa é um homem perigoso. O
problema é que ele comanda uma economia dominada na ordem imperialista
mundial. Um piloto de fórmula 1 competindo com um fusquinha.
Mas
vamos aos fatos. Mantega declarou recentemente que o crescimento
econômico deve ser retomado, porém de forma lenta. E que a crise
internacional que afetou vários países desde 2008 “está arrefecendo”, e
os efeitos da melhora desse cenário que “sinaliza o início de um novo
ciclo de expansão da economia mundial, principalmente para os países
emergentes”, deve ocorrer a passos lentos. “Isso é um processo lento
porque os países, principalmente os avançados - onde foi o epicentro da
crise -, têm vários problemas para resolver. É por isso que nossas
projeções para os próximos anos ainda são moderadas”, disse ele. [1]
O competente ministro faz um discurso politicamente bem articulado, mas distante da dura realidade econômica mundial dos próximos seis meses. É importante esse horizonte de curto prazo,
pois dele depende as pretensões do seu governo na disputa eleitoral no
mês de Outubro e, portanto, sua própria permanência no seu cargo de
ministro que ocupa há mais de seis anos. Porém, mais importante que as
escaramuças eleitorais das diferentes fações das classes dominantes, das
quais ele é um servo fiel, são as convulsões sociais que já começam a
explodir no país, como que anunciando as dores do parto de uma depressão
econômica marcada para dentro de 18 a 24 meses.
Vejamos, então, importantes indicadores para uma avaliação séria dessa atual conjuntura econômica mundial e brasileira. Os indicadores antecedentes
calculados mensalmente pela Organização para o Comércio e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, são importantes para
antecipar a evolução da atividade econômica das principais economias
mundiais. Seu conhecido relatório mensal Composite Leading Indicators foi divulgado nesta terça-feira 13 de Maio.[2] Seus números indicam aceleração contínua do crescimento
para todas as economias dominantes, como EUA, Alemanha, Japão, etc.
Para as maiores economias dominadas – China, Brasil, Índia e Rússia –
indica enfraquecimento do crescimento econômico. As curvas abaixo ilustram essa tendência totalmente desigual para dominantes e dominadas
Economias OCDE (dominantes). Economia chinesa.
Economia brasileira.
Revela-se
nas radiografias acima que as economias dominantes devem acelerar acima
da tendência nos próximos seis meses. As dominadas devem desacelerar
abaixo. Portanto, o primeiro pecado do ministro brasileiro da Economia é
não separar as diferentes perspectivas das economias dominantes e das
economias dominadas. Mas, como confirmam os números da OCDE, a realidade
do desenvolvimento desigual e combinado do mercado mundial se desdobra
em dois blocos rigidamente organizados – o bloco das economias
dominantes crescendo como uma disciplinada franco-maçonaria; o bloco das
dominadas caindo como um empesteado exército de Branca Leone.
Detalhando um pouco mais a evolução para os próximos seis meses: no bloco das economias dominantes, o relatório indica estável aceleração do crescimento (stable growth momentum) para a totalidade das economias. Céu de brigadeiro! Uma excepcional aceleração mais intensa (positive change in momentum) no mesmo período é apontada apenas para a Zona do Euro e Itália.
No bloco das economias dominadas, ao contrário, registra-se um crescimento abaixo da tendência (growth below trend)
para a totalidade das economias. Apertem os cintos, vamos passar zonas
de alta turbulência! A mais atingida será a economia brasileira do
ministro Mantega, seguida, pela ordem de turbulências, a China, a Índia
e, finalmente, a Rússia. O seguindo pecado de Mantega, portanto, é não
perceber que as economias dominantes já resolveram a maior parte dos
seus problemas do último período de crise, enquanto as dominadas só
fazem acumulá-los cada vez mais. E que as projeções para os próximos
anos não são moderadas, são catastróficas.
[1] Agência Brasil – “Mantega prevê recuperação lenta do aquecimento econômico global” – 29/04/2014 http://agenciabrasil.ebc.com.br
FONTE: criticadaeconomia
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