sábado, 3 de novembro de 2012

Brasília, Outros 50

A capital foi decapitada em 64, pela ditadura deles, resistiu; a capital foi ultrajada pela arrogância, deles, que criaram currais eleitorais na distribuição de lotes e horRORIZaram a cidadania, mas sobreviveu; a capital foi traída por eles, em sua confiança, quando o que seria um “renascer”, uma “retomada” da sua utopia foi jogada no ralo das meias e infâmias, precisa levantar. Eles não nos merecem.

Eles são selos cúmplices do silêncio comprado, são celas acarpetadas com ares de gabinetes, são as salas perfumadas pelos dejetos lobistas.

Eles são o que são porque, de certo modo, permitimos a existência deles. E não percebemos as máscaras da conversa fácil como simulacro de um caráter frívolo. Eles nos desacatam com tamanho escárnio que só nos resta aprender como servir melhor para que eles nunca mais voltem…

Eles do poder sem pudor. Eles da fala que não diz. Do pensar que não reflete. Do compromisso caricato mal ensaiado pelos truques do marketing. Eles são os bons atores dos maus atos. Eles deixam rastros para alertar a cidade sobre suas pegadas de lama. Eles omitem quando deveriam mostrar.

Eles distorcem quando deveriam publicar. Eles se apresentam e se proclamam como honrados exatamente por não contar com a legitimidade da honra.

Eles se escondem como ratos e insetos, assim que a luz ouse brilhar. Eles simulam um amor que não possuem. Eles demonstram um afeto que não sentem. Eles beijam o que vão cuspir. Eles afagam o que vão apedrejar. Eles destroem o que pelo trabalho de tantos, foi erguido.

Eles profanam JK. Eles aviltam o suor candango. Eles não sabem o cheiro da terra vermelha. Eles não plantam, devastam. Eles não criam, castram. Eles não rimam, cometem crimes.

Eles são os penetras no banquete de todas as regiões brasileiras mestiçadas nessa cidade. Eles gritam, na hora do sussurro. Eles policiam, na hora da carícia. Eles sofrem, quando todos gozam. Eles não sabem que somos capazes de atrever-nos às trevas. Eles esqueceram que dobramos as barras, cortamos as chibatas, rompemos as amarras.

Eles desconhecem o quanto ainda podemos abrir poros nos porões. O quanto sabemos buzinar para amolecer o muro ou tombá-lo quando for preciso o murro. Eles são as amarras, nós a garra. Eles são uns, nós, muitos em outros.
Mas eles não vão acabar com ela: a cidade. A esperança de um povo que se fez capital para mostrar que a nossa penúria econômica não nos impediu de sonhar. Eles só conseguiram nos fortalecer em fazer tudo de novo para que todos se renovem.

Eles nos fizeram lembrar a importância de ser sociedade organizada. Eles provocam indignação e com isso nos ensinam que a festa é libertária, mas a liberdade se conquista, mesmo, é com lutas. Em todas as frentes, com todas as linguagens, com todos os ímpares e todos os pares.

Eles estão mais nítidos, agora, revelados que foram pela própria máquina. Eles deixaram as confortáveis sombras de “autoridades irretocáveis” para nos mostrar o quanto a política precisa ser assumida como autoria do bem comum. Eles são o vírus, nós o antídoto.

Eles são a farsa, nós somos a força. Eles são as chagas, nós a cicatriz. Eles a loucura, nós a cura. Eles a demência, nós a consciência. Eles a culatra, nós a cultura. Eles sempre foram eles, nós é que às vezes deixamos que eles chegassem onde não deveriam ter chegado.

Eles, BASTA!

Tetê Catalão é poeta, jornalista, letrista, ativista cultural sempre de plantão. Há tempos semeia versos e cantigas de maldizer na imprensa, para a alegria de uns e a irritação de outros… Atualmente, é também secretário de Cidadania Cultural do ministério da Cultura. Está na rede Cultura Digital.BR e no Twitter
Publicado na edição de abril 2010, revista do Sindicato do Judiciário/Sindijus-DF

Nenhum comentário:

Ao visitante

entre.
leia.
comente.
sugira.
não faça nada.
enfim, sinta-se a vontade.

Compartilhe este conteúdo em sua rede

Postagens populares