quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Empreendedorismo é lema das classes dominantes



O patronato no Brasil comemora a ascensão de um novo ítem na pauta de exportações do País: O empreendedorismo. Não, não é nenhum bem de consumo, não se trata tampouco de bem de capital. Matéria prima? Talvez, mas não exatamente aquilo que conhecemos como commodities, que são mercadorias como frutas, grãos e minérios, cuja produção e venda aos países ricos é uma tarefa que cabe a nações como o Brasil na divisão internacional do trabalho. O novo vilão descoberto pelos capitalistas de segundo escalão que operam no Brasil é a campanha, ora em pleno vigor, para convencer os trabalhadores de que “o espírito empresarial” é o valor supremo a ser cultivado no mundo atual.
Pois agora uma dúzia de mercadores reunidos na Confederação das Associações Comerciais do Brasil (ACCB) descobriu um grande negócio em levar cursos e material didático de elogio ao capitalismo a países como Moçambique, Chile, Colômbia e México. Não por acaso os alvos são países da América Latina e da África, continentes onde o descontentamento das classes populares com as promessas do livre mercado e da democracia burguesa preocupa o poder econômico internacional e as elites locais. A necessidade faz o sapo pular. Acossados pela indignação das massas com os modelos e políticas de miséria, a demanda passou a ser, além de bananas e laranjas, também de “know-how” em matéria de empulhação.

No final do ano passado, entre os dias 20 e 22 de novembro, aconteceu em São Paulo a 13ª edição do Encontro Internacional de Empreendedores. Representantes do patronato daqueles e de outros países – como do Uruguai, Paquistão e claro, do próprio Brasil – se reuniram a fim de conhecer o Projeto Empreender, que é fruto de uma parceria entre o Sebrae e associações comerciais de todo o país. O projeto existe desde 1991. Pois vinte e dois participantes do encontro na capital paulista tomaram o caminho da vizinha Santo André para conhecerem um dos núcleos do Empreender. A fim de dar um exemplo do que se querem exportar, os diretores do projeto apresentaram sua atuação nesta cidade do ABC como uma espécie de meninas dos olhos.
Não se sabe ao certo o que os homens de negócios viram e gostaram tanto em Santo André, mas certamente não lhes interessou muito a situação da própria cidade, desindustrializada e castigada pelo desemprego, pela deterioração das condições de vida da população e condenada pelo capital a abrigar uma grande reserva de mão-de-obra barata para os setores de serviços da metrópole vizinha.
Como é óbvio, este Projeto Empreender não alterou em nada esta realidade. Ao contrário, seus idealizadores e gerentes tiraram proveito da ruína, digamos, “empreendida” ali pelo poder econômico para formar meia dúzia de pequenos empresários que servirão como exemplo do nada. Ou melhor, servirão como mostruário para a principal mentira contada pelos vendedores desta grande ilusão que é o “empreendedorismo”. A mentira de que todos podem — e devem — ser patrões.

O engodo chega às salas de aula

Para seus arautos, no entanto, importa que a moda do empreendedorismo cumpra seu papel de enraizar os valores das empresas entre o povo explorado por elas, e que, afinal, o trabalho de disseminar este novo evangelho seja algo lucrativo para quem está disposto a entrar de cabeça em mais esta oportunidade de negócios.
Empreendedorismo virou a palavra da moda. Abundam elogios à “criatividade” das pessoas humildes, à necessidade de se difundir entre elas o “espírito empresarial” e a percepção adequada para aproveitar oportunidades. É a tentativa de atualização da velha lengalenga liberal das oportunidades iguais, da mentira de que o sol capitalista nasce para todos, do velho esforço da burguesia de tentar canalizar a força das classes populares para alimentar o próprio sistema que as oprime, com o objetivo de minar a solidariedade entre os trabalhadores e deixar a luta de classes em segundo plano.
Em suma: a empulhação consiste em tentar fazer crer que a liberdade não está no horizonte de emancipação dos povos frente aos grilhões do capital, na superação do capitalismo e na construção de uma democracia nova, mas sim em cada um abrir seu próprio negócio.
A Rede Globo vem aderindo a esta campanha com entusiasmo incontido. Durante a “Semana do Empreendedorismo”, o Jornal Nacional exibiu uma série de reportagens chamada “Faça e aconteça”, festejando a empulhação. Um dos episódios da série foi intitulado “empreendedorismo também se aprende na escola”. Sim, pelo menos é o que há algum tempo se vê nas escolas dos filhos das elites brasileiras. O slogan de uma das mais famosas delas, por exemplo, é “formando empreendedores”. Mas agora os gerentes políticos dos interesses das elites querem fazer o mesmo com as escolas públicas, onde estudam os filhos da classe trabalhadora. As escolas estaduais do Piauí, por exemplo, poderão incluir oficialmente o ensino de empreendedorismo na grade curricular deste ano. As escolas públicas de Resende, no sul do estado do Rio de Janeiro, também transformou o engodo em matéria de sala de aula.
São apenas dois exemplos de algo cujas alegadas boas intenções não resistem ao mais elementar questionamento, deixando à mostra a natureza fraudulenta deste arremedo de política educacional. O coordenador de um destes projetos picaretas de empreendedorismo em escolas municipais do Rio, em entrevista à própria Globo, deixou escapar que ali, na escola pública, “a gente não quer formar nenhum empresário. A gente quer que eles tenham espírito empreendedor”. Ou seja: ser patrão não é para o bico de qualquer um, mas não é por isso que qualquer um não deva cultivar um “espírito empreendedor”. Isto significa que estão iludindo esta garotada, os filhos do proletariado, com as promessas do inimigo de classe.
É preciso compreender que todo este esforço da burguesia e de seus fiéis escudeiros vem sendo reforçado nos últimos anos em razão dos sinais que vêm de todo o mundo de acirramento do processo revolucionário capitaneado pelas massas trabalhadoras. Portanto, não basta que cada trabalhador não se deixe iludir com toda esta conversa mole; é preciso também trabalhar contra este consenso que se forma acerca do “empreendedorismo”.
Por: Hugo R. C. Souza

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