quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Candidatos, me enganem que eu gosto!

O projeto Excelências, da Transparência Brasil, está divulgando a evolução patrimonial de vereadores que buscam reeleição ou concorrem a prefeituras e vice-prefeituras nas capitais estaduais e de senadores e deputados federais e estaduais que concorrem a prefeituras e vice-prefeituras diversas, país afora. O estudo leva em conta as declarações de bens apresentadas em 2006 e em 2008. E mais uma vez, mostra que essas declarações muitas vezes não passam de peças de ficção, para enganar os tribunais eleitorais e os eleitores. Algumas, se verdadeiras, revelam o caráter do candidato. Jô Moraes (PCdoB-MG), candidata a prefeita de Belo Horizonte, declarou bens em 2006 totalizando 128.400 reais. O valor caiu para 98 mil neste ano (menos 23,7%). Uma deputada federal que recebe bem mais que 20 mil reais por mês parece não saber gerenciar os próprios bens, mas se candidata a administrar uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes.

Não é o caso, aparentemente, de um colega de Jô na bancada federal mineira e concorrente à prefeitura de BH, Leonardo Quintão (PMDB-MG), cujos bens aumentaram em 91,5% em dois anos, chegando a 1,88 milhão de reais. Ou de outro colega da bancada, deputado Custódio Mattos (PSDB-MG), candidato a prefeito de Juiz de Fora. Sua declaração de bens saltou de 933.468 reais, para 1.467.447, um aumento de 57,2%. Nada mal, para dois anos de trabalho parlamentar. Ou ainda, do candidato a vice-prefeito de Belo Horizonte Roberto Carvalho (PT-MG), deputado estadual, que teve seus bens elevados no mesmo período em 58,4%, chegando a 665.133 reais.

Jô Moraes, porém, está bem acompanhada. O candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PV, deputado federal Fernando Gabeira, declarou bens de 59.375 reais em 2006 e de 54.071 agora, uma queda de 8,9%. Pobrezinho! Seu concorrente Arnaldo Viana, do PDT, não se saiu melhor. Nesses dois anos na Câmara dos Deputados, viu sua fortuna reduzir-se em 35,8%, saindo de 635.068 para 407.583 reais neste ano. Chico Alencar, candidato a prefeito do Rio pelo PSOL, teve um desempenho econômico um pouco melhor. Seus bens se desvalorizaram em 4,4% em dois anos, aterrissando nos 186.098 reais.

Não sei se é o caso dos citados, mas segundo a Transparência Brasil, "muitos dos parlamentares que foram candidatos em 2006 e cujos patrimônios declarados naquele ano somam zero apresentaram à Justiça Eleitoral declarações do seguinte tipo: ’Casa na rua Tal, número N - Valor: R$ 0,00’".

Portanto, peça de ficção aceita pela Justiça Eleitoral para fazer de bobo os eleitores.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ex-bispo da poderosa Igreja Universal do Reino de Deus, que paga bons salários, e candidato a prefeito do Rio de Janeiro, declarou bens de 78.081 reais em 2006 e de 180.900 neste ano, uma evolução patrimonial de 131,7%. Mesmo assim, um homem muito pobre pelos padrões dos políticos tradicionais. É preciso muita fé para acreditar nessas declarações, mas quem duvidar pode ser condenado aos quintos dos infernos!

E há aqueles que não têm medo nem de diabo nem de cara feia de eleitor. Por exemplo, o deputado estadual Zito, do PSDB-RJ, aliado de Fernando Gabeira nessas eleições e com feudo em Duque de Caxias, declarou bens de 1.911.127 reais em 2006 e de 3.500.611 agora (83,2% de aumento em dois anos). Ou o deputado estadual Soliney Silva, do PSDB do Maranhão, cujos bens pularam em apenas dois anos de 497.410 reais para 3.331.612, aumento de quase 570%. É candidato a prefeito do município de Coelho Neto... pobre escritor!

Mas esse Soliney é até modesto, em comparação com o deputado federal Ilderlei Cordeiro (PPS-Acre) que viu sua fortuna aumentar de 1.745.000 para 5,35 milhões em dois anos legislando a nosso favor (acréscimo de 206,6%). Ele é candidato a prefeito de Cruzeiro do Sul. Em junho passado, por decisão unânime, o Plenário do Supremo Tribunal Federal determinou que ele responda a ação penal privada por injúria à ex-deputada estadual Naluh Maria Lima Gouveia dos Santos (PT), hoje conselheira do Tribunal de Contas do Acre (TCE-AC). Nada a ver, portanto, com enriquecimento ilícito em cargo público.

Uma surpresa é a declaração do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, candidato a prefeito de Salvador pelo DEM baiano. Neto de um dos homens mais poderosos da política baiana em mais de 30 anos, falecido recentemente, seus bens declarados à Justiça Eleitoral somam apenas 1.641.885 reais. Verdade que dobrou em dois anos (em 2006, eram de 820.559 reais), mas eu esperava mais desse herdeiro do império do ex-governador, ex-ministro, ex-senador Antônio Carlos Magalhães. Mais uma obra de ficção? Vá-se saber...

08.2008

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