Três coisas bem associadas: carnaval, máscara e fantasia. Na atual
configuração sociocultural as três coisas me parece ainda mais
inseparáveis. Mais que casadinho e queijo com goiabada.
A palavra máscara, tem duas origens. Vem do Latim “mascus” que significa
fantasma; e do árabe “maskharah” que significa palhaço ou homem
disfarçado. Já a palavra carnaval possivelmente vem do latim clássico
“Carnen Leváre”, substantivo que significa "abstenção de carne". Seria
uma alusão ao fato de que no carnaval seria os últimos dias para comer
carne antes da quaresma, ou talvez significando a “despedida do corpo”,
sendo os dias separados para satisfazer as necessidades carnais antes do
período religioso. Fantasia tem sua origem do verbo Grego “Phaínein”,
que significa “fazer aparecer”. É por meio da fantasia que faz-se
notado.
A máscara está associada a representação de um personagem criado para
entretenimento. É justamente nesta festa que as máscaras são muito
usadas. Um dos mais renomados antropólogos brasileiros, Roberto DaMatta,
afirmou que é no carnaval que surge a possibilidade de grupos e classes
sociais distintas se encontrarem, constituindo-se uma festa para todos;
“(..) um cenário e uma atmosfera social onde tudo pode ser trocado de
lugar (...)”. É nesse período que um gari pode usar máscaras.
Representar aquilo que ele de fato gostaria de ser, são sabendo que é um
mascarado, ou, em árabe, um palhaço que faz uns poucos rirem; rirem de
sua ilusão. Época de mascarar seu fracasso, na maioria das vezes imposto
sobre ele por nosso país do carnaval. É também nesse período, como em
muitas outras oportunidades, que o poder público marcara a realidade
sob as máscaras tradicionais do pão e circo.
No carnaval todos podem usar suas fantasias. O mais excluído e fraco
indivíduo pode se fantasiar de rei, de empresário, de jogador de futebol
bem sucedido e o que mais desejar em seus sonhos adquiridos em noites
de insônia. Dizia DaMatta, que “[...] por tudo isso, o carnaval é a
possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição na
estrutura social”. É de fato o momento da fantasia. De tirá-la do
armário e do baú do pensamento e trazer para a rua, como se tudo fosse
possível. Fantasias e mais fantasias... pena que só fantasias. Fantasias
confeccionada pela ideologia do carnaval; a festa da carne que se
consome antes do dia santo chegar... antes do indivíduo partir para os
braços do seu Criador. Até lá, a carne vai sendo consumida nas brasas do
descaso público, no que chamam de inferno presente... amanhã, quem sabe
não é dia santo?
Em meio ao entretenimento carnavalesco, os foliões vão usando suas
máscaras e fantasias, dando formato a maior festa brasileira de
representação da realidade fantasiosa... Ali, carnaval, máscara e
fantasia são mais inseparáveis que casadinho e queijo com goiabada.
Por Cristiano Bodart
• Texto originalmente escrito para o Jornal Hora Aghá. 10 de Fev. de 2013.
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