sexta-feira, 22 de agosto de 2008

"Aquatofana"

Depois de uma noite pretenciosa a chover, plenária do PT, vodka e cerveja com amigos, conversa da boa que não faltara, carona com colega peguei porque? Meu meio de locomoção deixei pro futuro papai, logo em minha mão celular e numero de pessoa com corpo cheirando a "aquatofana" liguei, com tratamento de rei fiquei, prazer por horas passei e de Paulo Queiroz poeta por demais apaixonado, poema transcrevo pra vcs.

Obs: Se com palavras de poeta falei, foi por noite bem dormida com "aquatofana" passei, hehehehehhehe



"RESPONDE-ME, MINHA PARCA AMANTE"
(Paulo Queiroz)

E se eu me forjar um amante sem medidas, e conceber que tu és a minha deusa, despida, fêmea de desejos e esperanças? E se eu transcender àquelas velhas formas de amar, somente para tê-la aqui dentro como se fosse uma gelha na face feliz do meu coração? Teria eu o teu amor para sempre? Ou te farias morte para os meus sonhos de homem? Responde-me, minha parca amante.
E se eu escapasse da reputação e preterisse as coisas mais essenciais que construí ao longo da vida, somente para cortejar-te, seria eu feliz? Ou estaria condenado aos eventuais pesares de te esperar numa inquietude de saudade e sofreguidão? E depois, se eu me entregasse como se não houvesse alternativa para viver, e acreditasse piamente que tu és vida, sendo deusa, parca, e se tu me dissesses insistentemente que me amas, e me pedisses o corpo, a alma, o espírito como presentes teus e, como num logro, me surpreendesses com comportamentos pérfidos? E então, eu morreria? Responde-me, minha parca amante.
Admita: dei-me a ti, como se dá a um Deus a oblação mais perfeita que há entre os mortais; sofri, todavia... Hoje, brado súplicas tão silenciosas, em solidão, como se meus gritos não alçassem aos céus, e sem forças para subir, caíssem em meus próprios ouvidos, como ao Rei Davi ocorreu. E num regresso triste, gritos de amor... de remorso... talvez de fúria... de morte...
Mas, é lastimoso isso, não? Sim, pois, senão, lembra-te, quando pedistes o meu amor e a minha vida? Eu indaguei-te, num evidente despreparo para a paixão: e se tudo o que eu sonhei, tudo o que construí, tudo o que criei, imaginei, se tudo isso contrariar os teus desígnios e projetos de vida? E se todos os meus amores forem postos de lado, os amigos, a família, por teu amor? Tudo por ti, como será? Serei recompensado com a tua presença constante nas lacunas da minha carne? Ou dirás: o amor tem dessas coisas, não se pode prever sua longevidade... Dirás?
E se eu chorar te esperando, e de nada que eu faça consiga saber onde estás? E se, ainda assim, não haja, ao te encontrar, aplacação para os instantes de aflição e saudade; devo prantear, ou recolher-me ao conformismo de que a escolha foi minha? O que farei?... Diz-me, minha parca amante... E se num sonho mui aprazível, regozijante eu, de fato, ver-te minha amada-nua? E se eu gozar duma esperança desmedida, do sentimento mais frugal, e no despertar tu te fizeres parca? E se tu te vestires de morte de amor, como farei depois? Diz-me.
Responde-me, minha parca amante: o que devo pensar do medo? O que devo pensar da inaptidão para o amor? Ensinarás a mim suportar o sofrimento por ti, meu amor? Ensinarás a mim acolher inerte e indolente a morte da minha alma? Ou, fria'mante, dirás: a escolha foi tua?! Dirás? Se fores dizer-me, digo a ti antes: não devias ter-me pedido amor, minha parca amante.

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