domingo, 10 de agosto de 2008

Só um monte de gente falando


A televisão fala para ninguém e ninguém escuta!

Artur de Carvalho

Volta e meia, quando chego em casa e encontro a família na frente da televisão, eu arrumo um lugarzinho por ali e, após alguns minutos tentando me inteirar do que eles estão assistindo, eu pergunto se não está passando nada melhor. Um filminho ou coisa do gênero. A resposta, quase sempre, é a mesma:

- Não, só tem um monte de gente falando.

Assumindo o controle remoto e dando uma zapeada pelos canais, eu confirmo o veredicto. Tirando um ou outro canal que tenta nos vender uma pulseira de jade ou a churrasqueira do George Foreman, nos outros, invariavelmente, tem um homem ou uma mulher discorrendo sobre algum assunto de extrema importância lá para eles. Uns estão numa discussão acalorada sobre o esquema de jogo utilizado pelo Corinthians no último clássico, outros comentando sobre a fragilidade do modelo energético brasileiro diante da crise do gás boliviano, e ainda outros discorrendo horas a fio a respeito da aplicabilidade no Brasil da bem sucedida experiência realizada nas penitenciárias da Suécia, nas quais os sistemas de som reproduzem, durante todo o dia, uma seqüência de músicas clássicas, de preferência Mozart ou Strauss.

Não que os assuntos não sejam interessantes. Muito pelo contrário. Todos os temas, se a gente prestar bastante atenção, têm lá seus atrativos. O grande problema é que ninguém ouve os caras. Todos eles ali, empinadinhos em suas poltronas, os homens quase sempre de terno e gravata, as mulheres abusando um pouco da maquiagem, imaginando que, com aquela entrevista, mudarão a maneira de pensar do restante da humanidade e que, a partir daquele dia, o caminho para progresso e a paz mundial será novamente retomado, tendo, é claro, ele mesmo como líder.

Uma bobagem. Ninguém muda o mundo. Nem a Madre Tereza de Calcutá, apesar de seus esforços, mudou o mundo. Ou você acha que a miséria e o sofrimento acabaram depois de tudo o que ela fez? Pois não acabaram. Continuou tudo na mesma. Assim como continuou tudo na mesma depois dos Beatles que, se imaginassem que a sua revolução terminaria no punk rock, provavelmente nem a teriam começado. Ou até mesmo Jesus Cristo. Será que ele se deixaria crucificar se soubesse que a Igreja Católica ia desandar de tal maneira que iria dar na Inquisição? Ou no escândalo dos padres pedófilos?

A verdade é que nós temos sorte de não dar ouvidos para esse monte de gente que teima em ficar falando na televisão, tentando mudar o mundo. O mundo é - como direi? - uma grande excrescência e, como tal, melhor não mexer muito com ele. Porque, na maioria das vezes, a única coisa que vamos conseguir é piorar o cheiro.

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