quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Hipocrisia pura
'A FÓRMULA DA HIPOCRISIA: Coar mosquitos e engolir camelos'*
(Dedicado à todos os leitores, blogueiros, advogados, deputados, juizes, jornalistas ... simples mortais, ou não, que vestirem a carapuça...)
Fábula grega em dois atos
Personagens: o Gafanhoto estressado e a Aranha bem-intencionada.
Cena um: O Gafanhoto tenta convencer a Aranha de que um colega de trabalho dos dois, o Camaleão, é um hipócrita de carteirinha.
- Esse Camaleão é um fingido, Aranha. Sempre mudando de cor conforme a ocasião.
- Mas essa não seria só a natureza dele, Gafanhoto? Ele não foi criado desse jeito?
- Nada! Antigamente, ele fazia o mesmo que nós, dava duro para ganhar a vida. Depois, virou esse artista em tempo integral, sempre escondido atrás de disfarces e artimanhas.
- Mas por que ele faria isso?
- Para tirar proveito da situação. Ele fica ali, na moita, com aquela cara inofensiva, mas, na primeira oportunidade, abocanha os descuidados.
- Puxa, é verdade. Eu que passo horas tecendo a minha teia, no maior capricho…
- E eu, que fico pulando de um lado para outro sem parar? É por isso que vivo estressado. Se me distraio, o Camaleão solta a língua e me pega.
- É mesmo. Se você não me abre os oito olhos, eu nunca teria pensado nisso.
- Por que você é singela e bem-intencionada. Sabe como chama o que o Camaleão está fazendo? Competição desleal no local de trabalho!
- Faz sentido. Você é um sábio, Gafanhoto.
- Obrigado, Aranha. Mas o ponto é que não podemos, nunca, confiar no Camaleão.
- Será que não haveria um jeito de neutralizá-lo?
- Bom, para nosso benefício mútuo, eu acho que tenho um plano infalível.
- Tem? – Perguntou o gafanhoto.
- Tenho. Escute.
Cena dois: o Gafanhoto se aproxima para escutar o plano da aranha. E se enrosca na teia. Imediatamente, ela o pica e começa a embrulhá-lo para o almoço.
- O que você está fazendo, Aranha? Nós não somos colegas e parceiros?
- Não leve a mal, meu caro Gafanhoto, mas essa é a lei aqui da selva: boa intenção é uma coisa e prioridade pessoal é outra…
O mundo é dos hipócritas!
Essa fábula faz-me lembrar dos hipócritas. Eles estão por todas as partes do globo. Nesse momento eles podem “devorando gafanhotos”; dirigindo veículos; fazendo comícios; escrevendo livros; administrando empresas; ou, ainda, quem sabe, lendo este livro (Cada um julgue-se a si mesmo).
Pode ser um adolescente ou um adulto. Negro ou branco. Rico ou pobre. Catedrático ou indouto. Não interessa! a hipocrisia está por todos os lados. Lares, trabalhos, faculdades e igrejas estão infestadas. Ela não faz acepção de pessoas nem se preocupa com a cotação do dólar.
Na maioria das vezes ela tenta se esconder. A discrição, aliás, é uma de suas características marcantes, ao lado da falta de vergonha e da esperteza. Basta, porém, somente uma frase ou um ato para ela surgir. Com aparência de quem roubou o doce de uma criança ou empurrou um bêbado ladeira abaixo, ela surge com as “mãos sujas” dizendo: “não fiz nada de errado!”.
James Spiegel diz que “quase diariamente, reportagens sobre a hipocrisia são transmitidas na mídia. Políticos respeitados são acusados de negociações obscuras. Ícones do esporte e do showbusiness são detidos por posse de drogas. Líderes religiosos confessam ter relações sexuais fora do casamento ou contra as determinações da igreja. Estamos todos bem familiarizados com os inúmeros casos de personalidades que recentemente se tornaram sinônimos de hipocrisia. Esse fenômeno, porém, nada tem de novo. Toda era teve seus hipócritas.”
....
Máscaras teatrais
Em suas apresentações os atores gregos e romanos tinham o costume de usar grandes máscaras, munidos de dispositivos mecânicos para aumentar a força da voz. Assim, a palavra hipócrita (do grego hypokrisis), veio a ser usada metaforicamente para descrever o fingimento, o disfarce ou a dissimulação que era representada em palco pelos atores.
Esse, porém, é um conceito etimológico. Tentemos definir a hipocrisia no que tange à prática.
Pensadores do mundo antigo e da atualidade têm tentado definir o termo. Uma das descrições mais antigas é encontrada em "A República", de Platão, onde Glauco mostra o perfil do homem injusto:
"E, antes de tudo, que o injusto e mau proceda como os artistas peritos. Um timoneiro de valor ou um grande médico discerne em sua arte os meios possíveis e os impossíveis. Por outro lado, se o homem injusto quer ser perfeito na injustiça, cumpre-lhe haver-se com tal habilidade, que permaneça sempre oculto: porque o que se deixa apanhar revela, por isso mesmo, que não entende do ofício. O ápice da injustiça é parecer justo sem o ser. Assim, atribuamos ao homem perfeitamente injusto a injustiça perfeita, sem nenhuma mitigação, supondo que cometa os maiores crimes e firme a reputação de justiça..." (...)
* Por Valmir Nascimento Milomem
Este texto me fez lembrar de fatos recentes em nosso município,na qual em época de campanha pra prefeito um determinado candidato foi mostrado fazendo insinuações nada amoistosas para os eleitores e ele simplesmente se fez de vítima passando a ser o injustiçado em todo o processo e passou a se ocultar a tudo aquilo..... Vejam vcs a que ponto chega a hipocrisia
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