O CONTINENTE latino-americano viveu um processo crescente de lutas e vitórias contra o neoliberalismo nesses últimos dez anos. Iniciou-se com a inesperada eleição de Hugo Chávez, em 1999, e a partir daí tivemos muitas vitórias políticas que derrotaram a Alca e a base de Manta, consolidaram governos progressistas na maioria dos países e começamos a avançar para construir um novo processo de integração latino-americano.
Nos últimos meses foram apresentadas as propostas de construção da Unasul (uma clara alternativa à falida OEA), do Banco do Sul (como alternativa ao Banco Mundial e ao FMI), do Banco Alba (um banco de desenvolvimento social) e da moeda regional Sucre, como alternativa ao dólar nas relações comerciais bilaterais do continente.
Também foram apresentados vários projetos de integração energética e de infraestrutura em todo continente e iniciativas de integração popular, como a ampliação da Escola Latino-americana de Medicina para estudantes pobres, a missão Milagros, que opera gratuitamente pessoas com deficiência visual, o programa de alfabetização de adultos “Sim, eu Posso”, que já libertou Cuba, Venezuela e Bolívia do analfabetismo e que agora começa a ser aplicado em outros países. Além disso, os médicos cubanos fazem trabalho solidário em praticamente todos os países do continente. E há a ação da Telesur, como alternativa à CNN, que está jogando papel fundamental na divulgação da resistência hondurenha que é censurada sistematicamente dentro do país.
O processo de integração de nossos países sem as empresas imperialistas e sem o governo dos Estados Unidos está recém-iniciando. Porém, nesse ínterim, tivemos mais dois fatos importantíssimos. A eclosão da crise do sistema capitalista mundial, a partir dos Estados Unidos e da Europa, e a eleição de Barack Obama, como clara manifestação de protesto das camadas mais pobres do povo estadunidense.
Com a crise do sistema e mudanças no regime do império, parecia que as condições iriam melhorar ainda mais. Ledo engano. O capital imperial e as forças direitistas da sociedade estadunidense se movem com muita força e ainda mantêm a hegemonia no Estado norte-americano, no complexo industrial-militar, nas forças armadas e até na mídia, dita como democrática. Disto havia nos alertado em vários escritos o professor José Luís Fiori.
Não deu outra. Nas últimas semanas estamos assistindo ao contra-ataque das forças do capital e do império, à revelia do comportamento pessoal ou da vontade política do presidente Obama. Tivemos um golpe militar clássico em Honduras, planejado na base militar e na embaixada estadunidense, dirigida por um embaixador cubano de nascimento e fascista de pensamento. Os membros do exército de Honduras agora estão recebendo em dólares!
Depois veio o anúncio (pois já estavam maquinando havia horas) da instalação de sete bases militares na Colômbia. Elas estão dentro de um pacote de subordinação ainda maior da Colômbia à estratégia estadunidense. Nesse pacote está a aprovação, pelo Congresso dos Estados Unidos, de tratado de livre comércio para, assim, libertar a Colômbia da dependência com a Venezuela. Também está incluso no pacote o terceiro mandato do presidente Alvaro Uribe.
Nesse cenário, aumentaram as provocações contra a Venezuela, algumas vindas de setores direitistas ou de paramilitares infiltrados no país – aliados com a oligarquia venezuelana, incansável na sua vocação golpista de tentar derrubar o presidente Chávez. Isso nos mostra que a Colômbia tenderá a desempenhar o mesmo papel na América Latina que o governo de Israel exerce no Oriente Médio.
Esse quadro completa-se com as pressões sobre Argentina, Bolívia e Equador. E, sobretudo, percebe-se em todo o continente que a imprensa burguesa, claramente articulada entre si e com os interesses imperialistas, aumentou o tom contra os governos progressistas locais, contra o presidente Chávez e contra as iniciativas da Alba. Está cada vez mais claro que a vontade política deles seria criar um conflito bélico entre Colômbia e Venezuela para conturbar de vez o processo bolivariano.
As reservas de petróleo no pré-sal (que estão em águas internacionais), que se confirmam cada vez maiores, e a enorme riqueza energética e de biodiversidade da Amazônia certamente também estão na mira deles.
Tudo isso está inserido num plano estratégico para frear os avanços dos governos progressistas em todo o continente: derrotar o processo da Alba e outras iniciativas de integração (vejam que alguns países recuaram na consolidação do Banco do Sul, entre eles o Brasil); impedir o processo de desenvolvimento industrial de nossos países; recolocá-los na condição de exportadores de matérias-primas, que é o único papel que aceitam na divisão internacional do capital.
Infelizmente, as forças de esquerda e os movimentos sociais assistem a tudo isso ainda sem dar-se conta da gravidade dos fatos e da mudança que está em curso nas táticas do império, que retomou a iniciativa política e militar.
É urgente que logremos algum tipo de articulação, entre todas as forças progressistas, contra o golpe de Honduras, contra a instalação das bases na Colômbia e pelo fim das provocações ao governo da Venezuela, como barreiras fundamentais para consolidar as forças progressistas e seguir adiante nos processos de integração latino-americana.
* Brasil de Fato
domingo, 20 de setembro de 2009
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