segunda-feira, 28 de maio de 2012

"500 anos de falcatruas" - artigo de José Arbex Jr. sobre a impunidade da corrupção no Brasil

“Vou quebrar. Agora virei leproso, né? Agora eu só tenho defeitos, eu sou bandido”, queixa-se Fernando Cavendish, compadre do governador carioca Sérgio Cabral (PMDB) e dono da empreiteira Delta (afastado do cargo de presidente, em 25 de abril), acusado de manter relações espúrias com Carlos Augusto de Almeida Ramos, o bicheiro Carlinhos Cachoeira – a mesma empresa que, em 2008, contratou como assessor o deputado federal cassado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT), por módicos R$ 20 mil mensais. E Cachoeira é o mesmo que, em 2002, gravou uma tentativa de extorsão feita por Waldomiro Diniz, braço direito de José Dirceu, produzindo uma evidência que, dois anos mais tarde, daria origem ao espetáculo do “mensalão”. A rigor, portanto, o novo escândalo nada tem de novo: é apenas um desdobramento tardio do outro. Com a sinceridade típica dos derrotados, o queixume de Cavendish revela um traço fundamental da suposta democracia brasileira: ele virou “leproso” apenas e unicamente por ter “quebrado”, por ter sido apanhado com a boca no botija e não por estar no centro de uma imensa máquina de corrupção. O grande pecado no Brasil é perder, não é lesar o erário.

A eclosão do “novo” escândalo abriu, mais uma vez, as comportas à sofreguidão midiática dos tradicionais arautos do moralismo. As sessões da CPI mista criada para investigar o caso servirão de palco para que parlamentares vestidos de puras vestais apareçam sedentos de vingança, sangue e punição dos “leprosos”. Arremedos risíveis de Carlos Lacerda entoarão a mesma cantilena cívica e “republicana”, palavra predileta que soa como escárnio na boca de políticos do naipe do ainda senador Demóstenes Torres (desligado do DEM), amigo íntimo de Cachoeira e hoje a caminho do cadafalso. O curioso currículo “republicano” de Demóstenes inclui, entre outras pérolas, a “tese” de que escravas brasileiras consentiam no próprio estupro. Semanas, meses e anos se passarão, e nada – absolutamente nada – acontecerá, exceto por um ou outro episódio anedótico.

Nada acontecerá no sentido de que até mesmo a queda de um presidente sob acusação de corrupção, nos idos de 1992, deixou intacta a estrutura clientelista e opaca do Estado brasileiro. Tão intacta, que o atual senador Fernando Collor de Mello foi indicado para representar o seu partido (PTB) na “CPI do Cachoeira”. Seu primeiro pronunciamento, logo na abertura dos trabalhos, foi comicamente radical: tentou aprovar, em vão, a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, além de ter participado de conchavos e conversas de pé de ouvido com seus companheiros do PT. Nada, absolutamente nada acontecerá.

Em seu livro O poder do atraso – ensaios de sociologia da história lenta (Hucitec, 1994), o sociólogo José de Souza Martins mostra que o espantoso, em 1992, não foi a queda de Collor de Mello por prática de corrupção, mas  sim o mero fato de ele ter sido reconhecido como um político corrupto. Afinal, ele não fez nada de substancialmente distinto de seus antecessores. No Brasil contemporâneo, por exemplo, não foi reconhecido como um escândalo nacional a decretação, em 17 de abril, da extinção da pena, pela Justiça do Rio de Janeiro, do ex-banqueiro Salvatore o Cacciola, que estava em liberdade condicional desde 23 de agosto de 2011. Preso por prática de fraude contra o erário (incluindo o recebimento de uma “ajuda” do Banco Central, concedida em 1999, sob o governo FHC, no valor de R$ 1,5 bilhão, aproximadamente R$ 5 bilhões em valores atuais), foi condenado, em 2005, a 13 anos de reclusão. Passeia agora por aí, nem tão lindo, mas leve e solto, de posse de todo o dinheiro subtraído ao erário, ao passo que mães que furtam comida em mercearias e supermercados para alimentar filhos famintos amargam penas de até dez anos. A liberdade de Cacciola não aparece como um imenso e insuportável escândalo nacional, e é neste fato que reside a verdade da “democracia” brasileira, e não no grande circo dos bicheiros encalacrados.

Em 1992, a destituição de Collor parecia indicar que o Brasil, finalmente, entrava em uma nova fase de legitimidade institucional. Isso não aconteceu. A “história lenta” esmaga, com o peso de séculos de escravismo, quaisquer possibilidades de mudanças reais exigidas pela juventude, pelos trabalhadores, pela nação: O Brasil “moderno” paga propina ao Brasil arcaico para poder existir, sintetiza Souza Martins. A origem mais remota da corrupção é o sistema de casa grande e senzala, ainda muito longe de seu fim. Os donos da casa grande se julgam, com cínica razão, no direito de manobrar as instituições de Estado como se fossem assunto privado, infenso ao controle público – já que “público”, no caso, se confunde com a própria senzala. E exercem esse direito, com desenvoltura. A casa grande acredita, firmemente, não dever explicações à senzala. A “modernização” do Brasil e a incorporação à economia de vastos setores que antes estavam fora da esfera do consumo – a chamada “classe c” ou coisa que o valha – não alterou essa estrutura, apenas fortaleceu as máfias e oligarquias regionais, que também se sentem no direito de exigir a sua participação no bolo.

Não será necessário, aqui, descrever com pormenores o esquema tentacular montado por Cavendish e asseclas – tarefa cumprida por uma mídia que vai lucrar horrores com mais uma exposição das vísceras do cadáver eternamente putrefato daquilo que se convenciona chamar democracia brasileira -, para demonstrar aquilo que já se sabe, o que sempre se soube: parlamentares, governadores e figuras emblemáticas dos maiores partidos estão envolvidos. Sabemos até a quantia necessária para comprar, hoje, a boa-vontade de senadores e deputados, a se acreditar no próprio Cavendish: “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para caralho”, afirmou. Cavendish, Cachoeira e assemelhados são apenas faces de uma velha, velhíssima prática historicamente consagrada no Brasil, mediante a qual o dinheiro privado compra os favores dos encarregados de gerenciar a coisa pública. Ou, em outros termos, são agentes da privatização do estado por meio da corrupção. É uma prática que se alastra por todos os níveis de governo, dos municípios ao Planalto.

O cientista político Fernando Abrucio, colunista da revista Época, chama a atenção para um estudo recente publicado pelo Instituto Ethos (www.ethos.org.br), que demonstra a ocorrência de uma crescente concentração de poderes nas mãos dos poderes executivos estaduais. No controle do uso da máquina do estado, os governantes formam maiorias avassaladoras nas assembleias legislativas e impedem o surgimento de uma oposição real, além de angariar meios para sufocar qualquer tentativa de eventual investigação de práticas lesivas à democracia. Entre 2007 e 2010, diz o estudo, “em oito das 27 unidades federativas, a coalizão que venceu as eleições para governador obteve a maioria também na Assembleia Legislativa. Após a formação do governo, esse grupo cresceu para 21 Estados. Desse grupo, em sete a oposição foi reduzida a menos de 30%, em dois a menos de 20% e em outros dois a menos de 10%”. Ainda segundo o mesmo estudo, na maioria dos estados brasileiros os colegiados dos Tribunais de Contas têm relações de “forte proximidade política” com os governantes. Em resumo: os governadores controlam a maioria das assembleias legislativas, reduzidas à mais absoluta impotência, e são “amigos” dos “fiscais” dos TCUs. As raposas vigiam os galinheiros.

Repete-se, portanto, nos Estados, o mesmo esquema que se presencia no âmbito federal, onde nunca vigorou o “equilíbrio entre poderes”: o país é sistematicamente governado por medidas provisórias que brotam aos milhares do Executivo, reduzindo o Congresso a um grupo destinado a atribuir legitimidade aos atos emanados de um monarca eleito a cada quatro anos. O máximo que se negocia, no Congresso, são as fatias do orçamento que servirão para alimentar os esquemas regionais de favores e clientelismo – precisamente, o espaço em que atuam empreiteiras, bicheiros e que tais. Há, em resumo, um simulacro de equilíbrio entre os poderes, uma grande farsa que apenas se torna momentaneamente perceptível quando algum grande esquema é desmontado, como acontece agora.

Nos raros momentos de “abertura forçada”, as engrenagens do sistema são perigosamente expostas, a sua lógica real se revela, a tampa do bueiro se abre e deixa escapar os gases fétidos do esgoto. As linhas de clivagem, de disputas de interesse entre máfias, de desafetos e ressentimentos se abrem e atingem todos os poderes, incluindo o ultra fechado, opaco e aristocrático Supremo Tribunal Federal. Ao deixar a presidência do STF, em 18 de abril, Cezar Peluzo sequer recebeu a tradicional homenagem de seus pares, fato sem precedentes num ambiente em que o cerimonial é tudo. Conhecido pela sede de sangue com que lutou pela extradição do italiano Cesare Battisti, ex-preso político no Brasil, e pelas tentativas de obstar a ação da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, Peluzo concluiu o mandato jogando pedras no seu par, o ministro Joaquim Barbosa, que, ao rebater, qualificou-o como "ridículo", "brega", "caipira", "corporativo", "desleal", "tirano" e "pequeno". Mas, muito provavelmente, há mais em jogo do que meros desafetos pessoais: Barbosa é relator do “mensalão” e assumirá em sete meses a presidência do STF, como sucessor de Ayres Britto, que substitui Peluzo. Como é público e notório, Peluzo e Barbosa jogam em times diferentes, tanto no caso do “mensalão” como em tantos outros. A eclosão da crise agita os implicados, aquece a retórica e diminui a prudência.

Vísceras expostas, o espetáculo midiático se encarrega de criar a sensação de que “desta vez” a justiça será feita, e que a democracia sairá fortalecida. Leitores, telespectadores e ouvintes aguardam com ansiedade por novos acontecimentos, torcem pelos seus ídolos no congresso, aplaudem os discursos, vaiam os bandidos, organizam passeatas. Em momentos extremos, a justa expectativa cívica quase supera a paixão pelo futebol. “Desta vez” a justiça será feita. Como num passe de mágica, a histeria coletiva parece impossibilitar qualquer análise minimamente crítica. O que importa se o vilão Collor ressurge das cinzas como o campeão da moralidade? Quem se lembra de João Arruda, senador pelo PSDB e líder do governo no senado, em 2001, quando foi forçado a renunciar, em patético pranto nacionalmente veiculado pela TV, em meio a um escândalo de corrupção, apenas para ser eleito governador do Distrito Federal, pelo DEM, cinco anos depois, de onde saiu preso, em 2010, novamente por prática de crime contra a ordem pública? Alguém se atreve a dizer que ele não voltará? O que importa se mesmo a mobilização de milhões, em 1984, pelas Diretas Já, acabaram desembocando na condução do oligarca José Ribamar Sarney, ex-presidente da Arena, o grande partido da ditadura, ao cargo máximo da suposta democracia brasileira? Ribamar, o presidente democrata.

A memória desaparece, sob o impacto da catarse. “Desta vez” a justiça será feita. Mas não será, pelos simples fato de que os fundamentos do esquema de corrupção não serão sequer arranhados. É ainda o sociólogo Souza Martins que oferece um diagnóstico contundente: “Corruptos não são apenas alguns. A maioria dos brasileiros, sem o saber, está envolvida na trama da corrupção. É que a corrupção entre nós é endêmica e histórica, impregnou a cultura do povo e está distribuída por praticamente toda a esfera pública. Ela se originou no regime patrimonial que deu nascimento a esta nação: troca de favores materiais por favores políticos, troca de voto por favorecimentos, fazer política negando a igualdade de direitos, o voto como bem material e privado e não como direito que encerra deveres para com o país. A grande corrupção não seria possível se não fosse expressão de uma cultura da corrupção miúda e cotidiana. Vários notoriamente envolvidos no caso do mensalão foram reeleitos na eleição seguinte. Vários retornaram ao parlamento proclamando que tiveram a inocência reconhecida pelo povo no ato de reelegê-los. Aqui, ao votar, com as muitas e óbvias exceções que há, nós apenas nos rendemos, entregamos incondicionalmente a nossa vontade política aos eleitos, renunciamos.”

Mas, ao contrário do que se poderia depreender de sua análise, não há uma inexorabilidade histórica em curso. O Brasil não é “cronicamente inviável”, nem há um destino previamente traçado. Há um caminho a ser percorrido para promover mudanças reais. Basta destruir o sistema que faz coincidir três mapas: o mapa dos donos do latifúndio, do agronegócio e do sistema financeiro, o mapa dos donos da mídia e o mapa dos que controlam o congresso nacional. Mas isso está muito longe de acontecer, a julgar, por exemplo, pela brilhante vitória que eles tiveram com a aprovação, em 25 de abril, do novo Código Florestal, com a prestimosa ajuda de seus lacaios do PC do B. Quando, enfim, esses três mapas deixarem de ser um só –-, mesmo nos marcos de um regime capitalista ou social democrata (se isso por possível neste país), o Brasil será outro. Mas, para isso, terá que abolir a escravidão. 


Fonte:Npc

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Catastroika (legendas em português)



O novo documentário da equipa responsável por Dividocracia chama-se Castastroika e faz um relato avassalador sobre o impacte da privatização massiva de bens públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás. Catastroika denuncia exemplos concretos na Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, obviamente, na Grécia, em sectores como os transportes, a água ou a energia. Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy.
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate». Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objectivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como se está a ver na Grécia, o total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, nomeadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão social e níveis de vida condignos.
Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro. Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemónico omnipresente nos media convencionais, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta ou a barbárie.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

VIVEMOS ATUALMENTE EM UMA REALIDADE DISTORCIDA E QUE INTERESSA A UMA MINORIA DE PODEROSOS

Há algumas décadas os aparelhos de hegemonia privados, termo criado e muito bem utilizado por Antônio Gramsci, professor italiano preso e torturado até a morte pelo regime fascista de Benito Mussolini na segunda guerra mundial, vem desempenhando um papel central para manutenção do sistema capitalista. Para dar embasamento ao restante do texto é importante esclarecermos o que são esses tais aparelhos de hegemonia privados, eles resumidamente nada mais são do que organizações que estão fora da estrutura do Estado, mas que junto a ele trabalham para manter a sociedade sob o domínio de uma minoria, através da divulgação de ideias reformistas e outras formas de alienação de massas. Bons exemplos são os meios de comunicação e as igrejas, que sempre estão com um discurso afinado e sereno para defender os interesses da classe dominante.
É notório o quanto essas organizações são tendenciosas. A manipulação de informações como ferramenta de domínio das massas é uma antiga estratégia, seu exemplo mais clássico nos tempos modernos pode ser personificado na imagem do Ministro Nacional de Esclarecimentos Públicos e Propaganda da Alemanha de Adolf Hitler, Joseph Paul Goebbels, que logo após os alemães atacarem covardemente um destacamento das forças polonesas e assassinar todos, os vestiram com os uniformes do exército nazista e os fotografaram, isso tudo a mando do próprio Goebbels, em seguida divulgaram ao resto do mundo a notícia de que as forças alemãs tinham sido atacadas e que havia sim a necessidade de uma resposta imediata e enérgica para com a Polônia. Através dessa mentira o regime nazista justificou sua invasão e toda a barbárie que se seguiu no leste europeu perante a comunidade internacional.
No momento atual estamos vivendo uma grave crise. Para Istvan Mészáros, húngaro e grande pensador marxista, essa crise não é mais cíclica e sim estrutural, caracteriza se assim pelo fato de as medidas que são adotadas para contornar uma crise cíclica não terem efeitos mais que amenizadores nessa. A falta de uma estrutura econômica e social sustentável para o capitalismo faz com que suas fragilidades se exponham e exacerbam muito mais, aumentando às lacunas e diferenças sociais através da expropriação das terras de pequenos camponeses e acumulação dos meios de produção nas mãos de poucos. Historicamente nesses momentos acontecem grandes revoltas que acabam culminando em processos revolucionários que acabam por alterar toda a estrutura da sociedade a começar pelas relações de trabalho.
Infelizmente mesmo nós estamos vivendo em uma conjuntura favorável a busca pela emancipação da classe trabalhadora não estamos unidos e muito menos consciente do que está acontecendo. Vivemos em uma sociedade que foi dividida em varias castas diferentes por esses aparelhos de hegemonia privados. Ao invés de existir as duas classes que caracterizam e dão corpo ao capitalismo, a classe trabalhadora e a classe burguesa, a grande massa enxerga sociedade repartida em homens, mulheres, jovens, velhos, negros, brancos, amarelos, descrentes, crentes, lésbicas, gays, índios entre outras diferenciações feitas e impostas como dogmas à opinião pública pelos interessados em manter esse sistema explorador e gerador de diferenças.
Manter as minorias afastadas umas das outras, impedir com que o trabalhador se reconheça como agente histórico e desperte sua consciência classista garante uma sobrevida ao capitalismo, já que ele depende desse individualismo para se reproduzir. A ganância e o egoísmo são ensinados as crianças desde o primeiro momento que estão expostas a sociedade. A banalização do ser e a supervalorização do ter tem se mostrado a principal forma de adestramento das massas.
Temos que estar preparados se quisermos construir uma sociedade livre, justa e igualitária nos direitos e deveres coletivos, múltipla e com diversidade nas opções individuais, costumes e culturas. Manter se preso no conservadorismo pode parecer ser muito cômodo no momento, mas nada mais é que uma negação da nossa própria existência enquanto agentes políticos e transformadores da realidade. Nossa luta é para que as diferenças sociais sejam repudiadas e combatidas com veemência, mas as diferenças de opinião ou opção sejam respeitadas e assimiladas.
Como diria o sábio Antonio Gramsci; "O desafio da modernidade é viver sem ilusões , sem se tornar desiludido ".
 Por: Marcelo Cadore, Cordenador Estadual - SindaspiSC
 

domingo, 13 de maio de 2012

Crise capitalista: O que é o factor limitativo?

 [Herman Daly] No mundo pobre de antigamente o capital era o factor limitativo do crescimento económico. Mas agora vivemos num mundo rico.

Reparem: Qual é o limite para as pescas anuais – os barcos de pesca (capital) ou o que resta de peixe no mar (recursos naturais)? Nitidamente este último. Qual é o limite para o número de barris de petróleo extraídos – as plataformas e plataforms de perfuração (capital) ou o que resta dos depósitos de petróleo acessível – ou a capacidade de a atmosfera absorver o CO2 do petróleo queimado (ambos recursos naturais)? Qual é o limite para a produção de madeira – o número de moto-serras e de serrações, ou as florestas e o seu ritmo de crescimento? Qual é o limite para a agricultura por irrigação – as bombas e os aspersores ou o ritmo de reposição aquífera e os caudais dos rios? Isto deve chegar para pelo menos sugerir que vivemos num mundo refreado pelos recursos naturais e não num mundo refreado pelo capital.
A lógica económica recomenda que se invista e se economize o factor limitativo. A lógica económica não mudou; o que mudou foi o factor limitativo. Actualmente aquilo que temos que economizar e aquilo em que temos que investir é nos recursos naturais, e não no capital. Os economistas ainda não reconheceram esta mudança fundamental no padrão da escassez. Frederick Soddy, prémio Nobel da química e economista por vocação, previu esta mudança há oitenta anos. Argumentou que, em última análise, a humanidade vive da luz solar, captada através das plantas, do solo e da água. Esta base permanente fundamental para a vida é temporariamente complementada com a libertação da luz solar capturada durante os Verões do Paleozóico que está a ser rapidamente delapidada para alimentar aquilo a que ele chamava "a época do desperdício". Estamos tão viciados neste subsídio a curto prazo que os nossos tecnocratas defendem que se reduza parte da energia solar que recebemos para dar mais espaço térmico para a queima dos combustíveis fósseis! Estes doutores cretinos também andam atarefados a degradar quimicamente o solo superficial e a poluir a água, enquanto brincam com a base genética das plantas, tudo isto com o objectivo de maximizar o crescimento a curto prazo. Como diz Wes Jackson, as plantas agrícolas agora têm genes escolhidos pelo Conselho do Comércio de Chicago, e não por se adequarem ao ecossistema e à geografia dos organismos que as rodeiam.
O que é que impede os economistas de aceitarem a visão de Soddy? A sua animosidade contra a dependência da natureza, e a sua devoção ao domínio. Esta atitude básica tem sido auxiliada pelo compromisso teórico ao factor da substituição e pela rejeição da complementaridade pelos economistas clássicos actuais. Sem complementaridade não pode haver factor limitativo – se o capital e os recursos naturais são substitutos na produção, então nenhum deles pode ser limitativo – se um deles começar a faltar, basta substitui-lo pelo outro e continuar a produzir. Se são complementares, ambos são necessários e o que for mais escasso é limitativo.
Antigamente os economistas acreditavam que o capital era o factor limitativo. Portanto, implicitamente, deviam ter acreditado na complementaridade entre o capital e os recursos naturais nessa economia de um mundo pobre. Mas, quando os recursos começaram a ser limitativos na economia do novo mundo rico, em vez de reconhecerem a mudança no padrão da escassez e o novo factor limitativo, abandonaram toda e qualquer ideia de factor limitativo, realçando a capacidade de substituição e excluindo a complementaridade. A nova razão para destacar o capital sobre os recursos naturais é a afirmação de que o capital é um substituto quase perfeito para os recursos.
William Nordhaus e James Tobin foram muito explícitos ("Is Growth Obsolete?," 1972, NBER, Economic Growth, New York: Columbia University Press):
O modelo de crescimento standard predominante parte do princípio que não há limites quanto à viabilidade de ampliar os abastecimentos dos agentes de produção não humanos. É basicamente um modelo de dois factores em que a produção depende apenas da mão-de-obra e do capital reprodutível. A terra e os recursos, o terceiro membro da tríade clássica, foram postos de lado… a justificação tácita tem sido que o capital reprodutível é um substituto quase perfeito para a terra e para outros recursos não renováveis.
A afirmação de que o capital é um substituto quase perfeito para os recursos naturais é um absurdo. Para já, a substituição é reversível. Se o capital é um substituto quase perfeito para os recursos, então os recursos são um substituto quase perfeito para o capital – então, porque é que se dão ao trabalho de acumular capital se a natureza já nos dotou com um substituto quase perfeito?
Não é por acaso que o nosso sistema se chama "capitalismo" em vez de "recursismo natural". É ideologicamente inconveniente para o capitalismo que o capital tenha deixado de ser o factor limitativo. Mas essa inconveniência tem sido contornada afirmando-se que o capital é um bom substituto para os recursos naturais. Sempre fiel à sua animosidade básica na negação de qualquer dependência fundamental da natureza, a economia neoclássica só encontrou duas alternativas – ou a natureza não é escassa e o capital é limitativo, ou a escassez da natureza não interessa porque o capital feito pelo homem é um substituto quase perfeito para os recursos naturais. Em qualquer dos casos é o homem que controla a natureza, graças ao capital, e isso é que é importante. O facto de o capital feito pelo homem ser ele próprio feito a partir de recursos naturais, não tem qualquer importância.
O absurdo da afirmação de que o capital e os recursos naturais são bons substitutos foi ainda mais profundamente demonstrado por Georgescu-Roegen na sua teoria da produção fundos-fluxos. Reconhece que os factores de produção são de dois tipos qualitativamente diferentes: (1) fluxos de recursos que são transformados fisicamente em fluxos de produtos e de desperdícios; e (2) fundos de capital e de mão-de-obra, agentes ou instrumentos de transformação que não são incorporados fisicamente no produto. Se encontrarmos um parafuso duma máquina ou um bocado de um dedo de um trabalhador numa lata de sopa, temos razão para uma reclamação, e não a confirmação da noção metafísica de que o capital e a mão-de-obra se encontram "incorporados" no produto!
Há graus variáveis de substituição entre diferentes fluxos de recursos naturais e entre os fundos da mão-de-obra e do capital. Mas a relação básica entre fluxo de recursos, por um lado, e fundos de capital (ou mão-de-obra), por outro, é a complementaridade. A causa eficiente (capital) não substitui a causa material (recursos). Não podemos fazer o mesmo bolo com metade dos ingredientes, mesmo que se duplique ou triplique o número de cozinheiras e de fornos. Os fundos e os fluxos são complementares.
Mais ainda, o capital é a produção actual excedentária trocada por uma garantia contra a produção futura – fisicamente é feito a partir de recursos naturais. Não é fácil substituir recursos naturais quando o presumível substituto é ele próprio feito a partir dos recursos naturais.
Reconhece-se hoje de forma geral, até mesmo os economistas, que há demasiado endividamento a nível mundial, tanto público como privado. A razão para tão grande endividamento é que temos tido expectativas absurdamente irrealistas quanto à eficácia do capital em produzir o crescimento real necessário para resgatar a dívida, que é "capital" com outro nome. Por outras palavras, a dívida que se vai amontoando nas tentativas falhadas de fazer crescer a riqueza tão depressa quanto a dívida é prova da realidade dos limites ao crescimento. Mas, em vez de ser vista como tal, é considerada como a principal razão para tentar atingir um crescimento ainda maior, contraindo mais dívidas, e passando as dívidas incobráveis da contabilidade dos bancos privados para a do erário público, ou seja, monetarizando-as.
A ilusão que levou a essas infundadas expectativas de crescimento foi a crença de que, através do crescimento, podíamos acabar com a pobreza sem a necessidade de partilhar. À medida que os pobres ficassem mais ricos, os ricos ficariam ainda mais ricos" Pouca gente esperava que o crescimento agregado, por si mesmo, se tornasse anti-económico, começasse a custar-nos mais do que o seu valor marginal, tornando-nos colectivamente mais pobres e não mais ricos. Mas foi o que aconteceu. Apesar disso, os nossos economistas, os nossos banqueiros e os nossos políticos ainda têm expectativas irrealistas quanto ao crescimento. Tal como o jogador perdedor tentam apostar o dobro ou nada num crescimento maior.
Não podíamos fazer uma folga da roleta do crescimento para reavaliar a economia em estado estacionário? Afinal, a ideia está profundamente enraizada na economia clássica, assim como na física e na biologia. O movimento perpétuo e o crescimento infinito não são premissas razoáveis sobre as quais se possa basear uma política económica.
Até certo ponto há muita gente que certamente sabe isso. Então porque é que mantemos o crescimento como a primeira prioridade nacional? Primeiro, somos enganados porque a nossa medida de crescimento, o PIB, conta toda a "actividade económica", misturando assim os custos e os benefícios, em vez de comparar os seus valores marginais. Segundo, o benefício líquido acumulado do crescimento passado atinge o máximo exactamente no ponto em que o crescimento futuro se torna anti-económico (quando o benefício marginal decrescente se torna igual ao custo marginal crescente) e a experiência passada deixa de ser um bom guia para o futuro neste aspecto. Terceiro, porque, mesmo que os benefícios do crescimento futuro sejam neste momento menores do que os custos, as nossas elites que tomam decisões descobriram como manter os benefícios extras que estão a diminuir, "partilhando" os custos extras em explosão com os pobres, com o futuro e com outras espécies. Os meios de comunicação, propriedade das elites, os grupos de pensamento financiados pelas grandes empresas, os economistas enfeudados da academia, e o Banco Mundial – para não falar da Gold Sacks e de Wall Street – todos entoam hinos ao crescimento em perfeita sintonia e iludem os cidadãos ordinários.
O que é que vai acontecer?

Fonte: Resistir
CARTA DAS MÃES SEM TERRA

Falamos aos filhos e filhas da terra, de todas as nações. Aos que não foram convidados para o banquete. Aos que por séculos esperam na fila da história. Não seremos espectadoras de um filme esperando a luz se apagar. É tempo de acreditar na possibilidade de vencer a dor.
Levantamos-nos com as mães que perdem seus filhos e filhas nas guerras, nas chacinas urbanas, no cano de fuzil, nos campos de concentração, nos atos de femicídios e genocídios, na violência doméstica, nas perseguições políticas, nas cercas aramadas. Nos levantamos com as mães que perdem seus filhos e filhas por não ter o leite, o pão, a terra e o acesso aos conhecimentos acumulados pela humanidade. Nos levantamos com as mães que perambulam com seus filhos e filhas em busca de um mundo novo. Nos levantamos para clamar por justiça social e dignidade!
Erguemos nossas mãos, nossas enxadas, nossas foices e nossas consciências para convocar todas as mulheres trabalhadoras do mundo para nos unirmos contra os exploradores da terra, da vida, da nossa força de trabalho e do nosso corpo.
Dirigimos-nos aos que se dizem senhores do mundo. Não queremos e nem pedimos sua permissão para cortar cercas e semear flores e sonhos. Não lhes falaremos palavras dúbias. Estamos em luta pela terra, água, em defesa das sementes e da biodiversidade, pelo direito de decidir sobre nossa vida, nossos alimentos, pelo direito ao trabalho, por nosso futuro e pela solidariedade entre os povos.
O “desenvolvimento e a modernidade” avançam sobre o mundo e abrem feridas. Em seu nome outorgam-se leis que colocam em risco a humanidade. Contra o deserto verde e a desesperança rompemos o silêncio e denunciamos o pó sobre o sonho e o cárcere das flores. A sua modernidade é da escuridão e da fome, por isso, não nos serve. Não ousem senhores, dar um passo a frente com seu projeto de morte.
A manipulação criminosa da biogenética, os monocultivos, o agrocombustível e o agronegócio vêm atentar contra a soberania alimentar e a possibilidade de um mundo ecologicamente correto e socialmente justo. Não permitiremos a destruição da humanidade. Saibam senhores, não aceitaremos que assassinem nossos filhos e filhas seja por violência ou por falta de comida.
Neste dia das mães reafirmamos nossa determinação em transformar o campo em espaço de esperança, de alegria e acima de tudo, de luta. No nosso projeto, todos e todas têm direito a uma vida digna, a melhores condições de vida, ao aroma e perfume das flores. Queremos transformar o mundo para que seja mais justo e igualitário. E que sejam respeitados todos os sujeitos que dele fazem parte.
Seguiremos semeando a inquietude revolucionária por reforma agrária, por justiça social e por soberania popular e alimentar. Essa é a nossa missão, e assim deverá ser para todas as mães camponesas perseguidas pela violência do agronegócio e hidronegócio.
A todas as mães do mundo inteiro só resta a organização e a luta. Lutemos incansavelmente contra o sistema neoliberal que transforma os alimentos, a água, a terra, os conhecimentos dos povos e o corpo das mulheres em mercadorias.
É chegado o tempo de exigir justiça e punição aos responsáveis pela exploração, pela violência, pelo genocídio, pelos massacres.
É chegado o tempo de erguer novas paisagens, novos homens e novas mulheres.
É chegado o tempo de vislumbrar o novo horizonte. Estamos de pé vigilantes e esculpindo noite e dia a fertilidade e a rebeldia que nascem das entranhas da mãe-terra.
Viva a mãe terra. Para que vivam as mães da terra.
Maio de 2007
MST - Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

I Feira Regional dos Saberes e Sabores da Agricultura Familiar Camponesa‏



DIAS 01, 02 E 03 DE JUNHO
GUARUJÁ DO SUL - SC
I FEIRA REGIONAL DE SABERES E SABORES DA AGRICULTURA FAMILIAR CAMPONESA.
 IV FEIRA REGIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA.
I SEMINÁRIO REGIONAL DA AGROECOLOGIA E CAMPESINATO.
ACAMPAMENTO REGIONAL DA JUVENTUDE.
Show com PEDRO ORTAÇA e Saci Arte


A Feira acontecerá nos dias 01, 02 e 03 de Junho. Além de um espaço de troca de experiências e intercâmbio entre o público participante, o evento será um dos primeiros momentos de discussão política de uma série de organizações espontâneas e autônomas que nasceram no último período de luta e enfrentamento ante o avanço da exploração dos trabalhadores do campo e da cidade, apontando à necessidade de articulação e aliança concreta entre as mesmas.
A forma espontânea como nasceram tais organizações evidenciam que aquela série de instrumentos criados ao longo dos anos 80, 90 e 2000 não deram conta de incluir grande parcela desses trabalhadores na luta efetiva contra o avanço do capitalismo no campo. Certamente, esse processo revela a possibilidade real da construção de novas ferramentas organizativas que garantam a participação mais efetiva dos camponeses enquanto sujeitos concretos da transformação da realidade.
Portanto, tem-se como objetivo promover a valorização e o resgate da cultura e conhecimentos históricos dos pequenos agricultores do Oeste de Santa Catarina; fortalecer as experiências de resistência existentes na região; oferecer contraponto ao padrão hegemônico da Indústria Cultural; fomentar a produção agroecológica de alimentos básicos às necessidades das famílias; discutir a conjuntura nacional e agrícola, as formas de luta no campo e os desafios organizacionais do campesinato.

EXPOSIÇÃO.
O evento contará com a exposição de produtos da Agricultura Camponesa e da economia solidária, como: Sementes, mudas, comidas e bebidas, frutas, derivados de leite, cana-de-açúcar, carnes, panificados, cereais, hortaliças, compotas, artesanato, plantas medicinais e medicina natural, pequenos animais, receitas populares, exposição de saberes populares e das ciências naturais, etc.
A exposição será feita por agricultores e entidades advindas de diversas realidades: sindicatos, cooperativas, agroindústrias familiares, agricultores (as), Epagri, movimentos sociais, pastorais, ONG’s, Universidades, Fórum regional de economia solidária, parceiros, entre outros.
Os stands serão disponibilizados sem custo para os expositores, pois o objetivo da feira não é gerar lucro, mas difundir os saberes e sabores da Agricultura Familiar Camponesa, bem como promover a troca e partilha dos mesmos.
 OFICINAS TEMÁTICAS
No sábado á tarde e domingo pela manhã serão realizadas diversas oficinas. Elas acontecerão concomitante uma a outra e os participantes poderão participar de todas, conforme o interesse, pois após acompanhar um espaço podem se dirigir a outro. Há a previsão de realização das seguintes oficinas:
11.      Pastoreio Racional Voisin (PRV)
22.      Cultivo e Preparo de Ervas Medicinais
33.      Criação de Bezerras
44.      Armazenamento de Água no Solo
55.      Homeopatia e Fitoterapia Animal
66.      Confecção de Biofertilizantes
77.      Experiências de produção caseira
88.      Agrobiodiversidade X Transgênicos
99.      Homeopatia Humana
110.  Farinha de Rocha
111.  Centro de Formação em Economia Solidária (Experiências urbanas – Construção civil e confecção)
112.  Cooperativismo
113.  Compostagem
114.  Bambu (Mobiliário)
115.  Sementes Florestais
116.  Sementes Crioulas

ACAMPAMENTO REGIONAL DA JUVENTUDE
Da mesma forma, paralelo a feira, será organizado o acampamento regional da juventude. Será um espaço de intercâmbio e troca de experiências, bem como oportunizará aos jovens a participação, de forma integral, na feira e no seminário.
 PROGRAMAÇÃO DA FEIRA.

1º dia – Sexta Feira:
19:00 horas, Abertura oficial da Feira, Palestras com Carlos Schmidt e Olavo Ghedini (Os desafios da Economia Alternativa e a Cooperação Camponesa, respectivamente),  e chegada das caravanas da juventude;

2º dia: Sábado.
08:30 Horas: Visitação aos stands;
09:00 Horas: Início do I Seminário Regional da Agroecologia e Campesinato;
12:30 Horas: Almoço (R$ 5,00);
14:00 Horas: Reinício do Seminário e realização de oficinas temáticas;
17:00 Horas: Encerramento do Seminário;
18:00 Horas: Fechamento dos stands;
18:30 Horas: Café Colonial;
21:00 Horas: Show com PEDRO ORTAÇA;
23:00 Horas: Baile da Roça;

3º dia - Domingo.
08:00 Horas: Abertura dos stands, visitação e oficinas temáticas;
09:00 Horas: Apresentações populares;
12:00 Horas: Almoço;
13:30 Horas: Matiné da terceira idade, visitação aos stands, apresentações de artistas locais e regionais;
16:30 Horas: Matiné aberto;
19:00 Horas: Encerramento.

CONTATOS
Claudio: (49)9135-8175 (Vivo) – claudiojuniorgs@gmail.com
Luiz: (49)9952-1328 (Tim) – luizcampones@hotmail.com



Pag. 6 (Verso) PROGRAMAÇÃO DO I SEMINARIO REGIONAL DA AGROECOLOGIA E CAMPESINATO – 02\06 (Sábado).
Programação – Manhã
Programação – Tarde
09:00 – 09:30
Abertura
13:30 – 14:00
Animação
09:30 - 10:10
Palestra I
Tema: Análise de Conjuntura Mundial e Brasileira
Mário Maestri
Pós–Doutor em História pela Université Catholique de Louvain, UCL, Bélgica.
14:00 – 14:40
Palestra III
Tema: Movimentos Sociais Hoje
1.      Renato Nucci
2.      Intelectual Orgânico, militante dos Movimentos Sociais de Campinas – SP.

10:10 - 10:50
Debate
 14:40 – 15:20
Debate
10:50 – 11:00
Animação
15:20 – 15:30
Animação
11:00 – 11:40
Palestra II
Tema: Conjuntura Camponesa no Brasil Hoje
Horácio Martins de Carvalho
Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Nacional de Agronomia da Universidade Rural do Brasil e especialista em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo.
15:30 – 16:10
Palestra IV
Tema: Exploração e Expanção do Capitalismo no Campo: Desafios e Perspectivas para o campesinato

Clarilton Edzard  Davoine Cardoso Ribas

Doutorado em Ciências Sociais. Universidade Estadual de Campinas. Pós-Doutorado. Universidade Técnica de Lisboa.

 11:40 – 12:20
Debate
16:10 - 16:40
Debate
12:30 – 13:30
Almoço
16:40 - 17:15
Encaminhamentos\Encerramento

 Pessoas de Chapecó interessadas em participar do evento, podem entrar em contato com este blogueiro.
produtodamente@hotmail.com
49-33230697

domingo, 6 de maio de 2012

Biografia de Karl Marx, o maior pensador da humanidade

Homem de Ciência e Lutador Socialista
“…Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da natureza humana [...] Marx descobriu também a lei específica que move o atual modo de produção capitalista e a sociedade burguesa criada por ele”. Mas ele não se contentava com os estudos,com as brilhantes conclusões a que chegava como resultado de suas investigações. O que considerava a verdadeira missão de sua vida? “…Marx era, acima de tudo, um revolucionário. Cooperar para a derrubada da sociedade capitalista, contribuir para a emancipação do proletariado. A luta era seu elemento.” (Engels, discurso no túmulo de Marx em 17/3/1883).
O interesse pelo estudo, pela pesquisa, para entender os fenômenos em sua essência e não apenas em sua aparência, acompanhou desde a mais tenra idade Karl Einrich Marx, que nasceu em Treves (Prússia, Alemanha) no dia 5 de maio de1818. O pai, Einrich Marx e a mãe, Henriqueta Pressburg eram de origem judaica. Os primeiros estudos foram no Liceude Treves, mas ele não se limitava aos ensinamentos da escola. Freqüentava a casa de Ludwig de Westafalen, funcionário do governo prussiano e homem de vasta cultura. Outro fator também atraía o garoto: uma bela menina, Jenny, filha do sábio amigo e também muito interessada em beber na fonte do conhecimento. Com ela, Marx casar-se-ia aos 26 anos e viveria a vida inteira.
Em 1835, foi para a Universidade de Bonn mas logo se transferiu para a de Berlim,“centro de toda cultura e de toda a verdade”, como a classificava o filósofo Hegel. Foi nela que depois de muito estudo, muita reflexão, se tornou um jovem hegeliano. Marx dedicou-se ao estudo da filosofia, do direito, da história, da geografia e expressava essa ânsia de saber nas cartas ao pai e em poesias.
Abandonou cedo os estudos de Direito para aprofundar os conhecimentos filosóficos e obteve o título de doutor em1841. Tentou uma vaga de livre docente,mas as universidades prussianas não simpatizavam com livres pensadores.
A oportunidade de trabalho surgiu quando um grupo de liberais da Renânia fundou um jornal, a Gazeta Renana e convidou os jovens hegelianos para a redação. Constatou então que para escrever sobre questões da atualidade, como as teorias do socialismo francês e as questões agrárias da Renânia, não bastava o saber filosófico, tornando-se necessário estudar a fundo a Economia Política e o Socialismo.
Os estudos da economia política e do socialismo levaram Marx a romper com a visão hegeliana e aderir ao comunismo. Em outubro de 1843, morando em Paris com Jenny, com quem se casara em setembro daquele ano, escreveu em Anais Franco-alemães, publicação que dirigiu: “…O sistema de lucro e do comércio, da propriedade privada e da exploração do homem, acarreta no seio da sociedade atual, um dilaceramento que o antigo sistema é incapaz de curar porque ele não cria nem cura, mas apenas existe e goza”.
Anais Franco-alemães publicou um trabalho intitulado Esboço de uma Crítica da Economia Política, que Max classificou de genial. Era de autoria de Friedrich Engels, que por sua vez acompanhava com admiração os escritos de Marx. Os dois se encontraram em Paris em setembro de 1844, ocasião em que nasceu uma amizade e uma parceria ímpares e fundamentais para a elaboração da teoria do socialismo científico (Sobre Engels,veja A Verdade nº 47).
Até ser expulso da França em 1845, a pedido do governo prussiano, Marx conviveu com os operários, conheceu seus movimentos, os socialistas utópicos e teóricos como Proudhon, com quem estabeleceu uma polêmica.
Proudhon escreveu A Filosofia da Miséria, obra em que criticava os utópicos, que pretendiam construir uma nova ordem social “sobre os sentimentos paradisíacos de fraternidade, de amor, de abnegação”. Propunha ação concreta, mediante a criação de grupos de produção autônomos, que trocariam entre si os produtos criados por eles, prescindindo da moeda e estabelecendo relações de cooperação e solidariedade. As atividades seriam organizadas de acordo com as necessidades da Comunidade .
Marx respondeu em A Miséria da Filosofia que Proudhon não compreendeu que as relações sociais entre os homens estão estreitamente ligadas às forças produtivas. No capitalismo, à medida que a burguesia se desenvolve, surge um novo proletariado; uma luta é travada entre a classe proletária e a burguesia, dado o caráter contraditório do sistema, pois as mesmas condições nas quais se produz a riqueza se produz a miséria. A única solução justa, diz Marx, porque provém da situação real, é organizar a classe oprimida para tornar a luta consciente. No decorrer dessas lutas é que nascerá a nova sociedade; aliás, ressalta, isso só poderá se suceder quando as forças produtivas tiverem atingido elevado grau de desenvolvimento.
O Manifesto Comunista e a organização do proletariado
Expulso de Paris, Marx foi para Bruxelas, onde ingressou na Liga dos Comunistas, organização dos operários alemães imigrados, à qual já pertencia Engels. A Liga definiu seus princípios e atribuiu a Marx e Engels a tarefa de dar-lhes forma e fundamentação teórica. Nasceu o Manifesto do Partido Comunista publicado em 1848, que se tornou a bíblia do movimento operário revolucionário. O Manifesto trata de três temas essenciais:
1-  a história do desenvolvimento da burguesia. Sua obra positiva e negativa;
2-  a luta de classe e o papel do proletariado;
3-  a ação revolucionária dos comunistas.
Mal é editado o Manifesto Comunista, eclode a revolução de 1848, que destrona a monarquia reinstalada na França pela burguesia, e se espalha por toda a Europa. Marx foi imediatamente preso e expulso de Bruxelas. Engels conseguiu se engajar no movimento revolucionário e participou de várias batalhas. Com a derrota, deixou o país. Ambos foram viver na Inglaterra, Marx em Londres e Engels em Manchester, mas comunicavam-se diariamente e voltaram a ser vizinhos 20 anos depois. Nesse período Marx se dedicou à elaboração de O Capital, sua principal obra, e aos contatos com o movimento operário.
A idéia surgiu da correspondência entre militantes operários da Inglaterra e da França e em setembro de 1864 se fundou a Associação Internacional de Trabalhadores. A mensagem inaugural, redigida por Marx, destaca a necessidade de uma ação econômica e política da classe operária em favor da transformação da sociedade. Marx dedicou-se á Internacional de 1865 a 1871, ano em que ela foi dissolvida, graças à ação dos anarquistas seguidores de Michael Bakunine (ativista russo).
Pai doce, terno e indulgente
Foi a Internacional que levou o jovem militante Paul Lafargue a conhecer Marx, de quem se tornou discípulo, amigo, admirador e genro, pois se casou com Laura, uma de suas três filhas (O casal Marx/Jenny teve seis filhos – quatro meninas e dois meninos-, dos quais só três meninas sobreviveram [Jenny, Laura e Eleanor]).
É Lafargue quem detalha aspectos da vida pessoal de Marx, destacando sua energia incansável para os estudos e para a ação. Seu cérebro não parava e durante as caminhadas que faziam no final da tarde, discorria sobre questões relativas ao capital, obra que estava elaborando na época e da qual só redigiu o I Volume, tendo Engels escrito os dois seguintes, a partir das anotações que o amigo deixou.
Quando cansava do trabalho científico, lia romances, dramaturgia, conhecia de cor as obras de Shakespeare ou álgebra (chegou a escrever um trabalho sobre cálculo infinitesimal). Os domingos eram reservados para as filhas, uma exigência delas. “Pai doce, terno e indulgente, não dava ordens, pedia as coisas por obséquio, persuadia-as a não fazer aquilo que contrariasse seus desejos. E como era obedecido! As filhas não o chamavam de pai e sim de ‘mouro’, apelido que lhe deram por causa de sua cor mate, de sua barba e dos cabelos negros”.
O proletariado tomou o céu de assalto
Em fins de 1870, o proletariado francês voltava a efervescer e uma insurreição se anunciava. O Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores avaliou que não havia amadurecimento das condições objetivas para assegurar o poder da classe operária e implantar o socialismo e emitiu resolução redigida por Marx, apelando para que “… utilizem, tranqüilamente e com energia, os meios que lhes oferecerem as liberdades republicanas a fim de poderem efetivar a organização de sua própria classe. Isso lhes proporcionará forças novas e gigantescas para a renascença da França e a realização da tarefa comum: a libertação do proletariado”.
Mas os operários parisienses não deram ouvidos; cansados da política antidemocrática, humilhados, no dia 18 de março de 1871 tomaram o poder e instalaram a Comuna de Paris, anunciando as primeiras medidas de construção de uma sociedade socialista. A duração foi efêmera, mas rica de experiências que Marx consolidaria na sua obra A Guerra Civil na França.
A Internacional deu todo o apoio possível ao proletariado francês em luta,tanto durante a guerra, como depois, protegendo os exilados e denunciando ao mundo a cruel repressão que a burguesia desencadeou sobre os operários parisienses e suas famílias.
Os últimos anos
Foram de sofrimento, com as doenças que lhe atingiram e à mulher, Jenny, que faleceu no dia 2 de dezembro de1881. Ao tomar conhecimento do fato, Engels comentou: “O mouro morreu também”. E não se enganava. Já debilitado,com problemas pulmonares , no dia 14 de março de 1883, o genial pensador faleceu repentinamente enquanto repousava numa cadeira em seu aposento de trabalho.
No sepultamento, sem cerimonial,como era seu desejo, junto à esposa, colaboradora e companheira de toda a vida, Engels discursou: “… É praticamente impossível calcular o que o proletariado militante da Europa e da América e a ciência histórica perderam com a morte deste homem…”
Legado e atualidade do marxismo
“Os filósofos buscam interpretar o mundo, enquanto nós queremos transforma-lo”, assim diferenciava Marx o materialismo histórico e dialético da filosofia clássica e mesmo da hegeliana. E o marxismo tem sido, de fato, guia para ação dos movimentos revolucionários dos trabalhadores em todo o mundo.
Apressada, a burguesia comemorou a derrocada dos regimes ditos socialistas da URSS e do leste europeu no final dos anos 80 e início da década de 90 e chegou a propalar o “fim da história”, deixando de observar que a tragédia se deu exatamente porque os dirigentes, atraídos pelo canto de sereia burguês, se desviaram do marxismo que norteou a Revolução Bolchevique de 1917, dirigida por Lênin, um genial discípulo de Marx.
Mas não demorou e o champanhe foi substituído por lágrimas, em decorrência dos conflitos que se sucederam nos quatro cantos do mundo e atingiram o centro do imperialismo.
Ao contrário, a evolução do capitalismo só tem comprovado as teses marxistas e seu caráter científico.
Globalização: por que a surpresa?
Nas suas jogadas de marketing, os teóricos da burguesia e seus meios de comunicação apresentaram a chamada “globalização” como algo novo, avassalador, que suplantaria qualquer resistência e bloquearia qualquer tentativa de transformação social. Ora, o capitalismo tem caráter mundial desde o seu surgimento: o que foram as grandes navegações? A colonização? É de sua essência,como afirmou o Manifesto Comunista, no ano de 1848: “… Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países.”
Os fatos recentes comprovam também que quanto mais se desenvolve, mais o capitalismo “forja as armas que o levarão à morte”. A produtividade é cada vez maior, mas o avanço tecnológico que a possibilita produz um exército permanente de desempregados e comprime os salários dos que permanecem na ativa, reduzindo assustadoramente o número de consumidores. Por isso, as crises se repetem em ciclos cada vez menores e atingem tanto a periferia como os países centrais. Seu declínio e a vitória do proletariado são, portanto, inevitáveis.
Essa vitória não é automática, entretanto. Ela carece da ação do proletariado consciente e organizado enquanto classe “para si”, tendo à frente os comunistas, “parcela mais decidida e avançada dos partidos operários de cada país” e que têm uma visão internacionalista, capaz de fomentar a união mundial dos oprimidos, realizando a conclamação com que Marx e Engels concluíram o Manifesto: “Proletários de todos os países,uni-vos”.
Através dos séculos
Para finalizar essa tarefa hercúlea, falar sobre Marx em uma página, queda a minha pena, incapaz de expressar algo diferente ou que se aproxime, pelo menos, do que proferiu Engels ante o túmulo em que foi depositado o corpo do grande pensador e herói do proletariado: “…o homem mais odiado e caluniado pela burguesia morreu venerado e querido, chorado por milhões de trabalhadores da causa revolucionária. Seu nome viverá através dos séculos e, com ele, sua obra”.
Luiz Alves
(Publicado no Jornal A Verdade, nº 48)

O GRANDE AUSENTE Por: Ivo Tonet

Nesta peça, que é o momento atual da história da humanidade, está faltando um personagem. E não é um personagem qualquer, mas um dos mais importantes.
Dos dois personagens mais importantes desta peça, apenas um está presente. Trata-se da burguesia. Esta continua, com toda força a representar o seu papel. Ela continua a levar adiante, a ferro e fogo, o seu projeto, mesmo que isso comprometa o futuro da humanidade.
O lugar do outro personagem, o proletariado, infelizmente está vazio.
Dizem até que ele abandonou definitivamente a cena e que o seu papel teria sido assumido por outros personagens. Entendo que isso não é, de modo nenhum, verdade. Tanto do ponto de vista teórico, como do ponto de vista empírico, não há nenhuma prova de que o proletariado tenha desaparecido e de que o seu papel de protagonista fundamental da revolução tenha sido assumido por outros personagens.
Este lugar, o de personagem fundamental na direção do processo revolucionário, pertence ao proletariado não por uma definição metafísica, mas por sua posição no processo concreto de produção da riqueza no capitalismo. Por sua posição nesse processo, é ele, como já afirmavam Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, a única classe efetivamente revolucionária, uma vez que somente ela tem uma contradição absolutamente antagônica com o capital.
Não obstante todas as transformações sofridas pelo processo produtivo, especialmente nas últimas décadas, que resultaram em enormes mudanças na classe operária, esta continua a ocupar o lugar de antagonista radical do capital, pois é ela que produz, ao mesmo tempo, a riqueza material, a mais-valia e o capital. Nem sequer do ponto de vista quantitativo existem provas de que a classe operária tenha diminuído de modo muito significativo.
Apesar de estar ausente, hoje, como protagonista ativo e consciente, deste lugar, ele lhe pertence por natureza.
A questão, então, é: por que esse lugar está vazio? Por que a classe operária está ausente dessa tarefa de conduzir a luta revolucionária contra o capital?
A resposta a essa pergunta é da máxima importância, pois dela dependerá a identificação dos entraves que se opõem a que o proletariado volte a assumir o seu papel de dirigente do processo revolucionário. Todavia, a resposta a essa questão é muito complexa, pois implicaria examinar o processo histórico acontecido desde as primeiras lutas operárias a partir do século XIX.  Dada a brevidade deste texto, não poderei mais do que indicar dois elementos que me parecem fundamentais. Embora apresentados separadamente, eles não podem ser considerados de modo isolado, pois fazem parte de um mesmo processo e se determinam mutuamente.
Em primeiro lugar, as transformações ocorridas no processo produtivo, com rebatimentos em todas as outras dimensões sociais. Essas transformações, que resultam sempre das periódicas crises sofridas pelo capital, levaram a mudanças no interior da própria classe trabalhadora. Uma dessas mudanças teve relevância especial. Trata-se da divisão que se estabeleceu entre uma camada de trabalhadores que, durante o período de desenvolvimento que medeia uma crise e outra do capital, teve acesso a ganhos mais significativos e, portanto, a um padrão de vida mais elevado. Essa situação colocou tal parcela da classe trabalhadora em oposição à maioria da mesma classe que não teve acesso aos mesmos ganhos. É a famosa “aristocracia operária” de que falava Lenin. Ocupando os postos na maioria das organizações operárias, essa parcela, mais interessada em manter e melhorar os seus ganhos do que em fazer a revolução, imprimiu às lutas da classe operária um caráter fortemente reformista.
Em segundo lugar, e de modo articulado com a primeira questão, a mudança da centralidade do trabalho para a centralidade da política.
Para evitar mal-entendidos, esclareço que, por centralidade do trabalho, entendo, de um lado, o fato de que o trabalho, isto é, a transformação da natureza para produzir valores de uso, é o fundamento do mundo social. De outro lado, o fato de que, no modo de produção capitalista, a classe operária é o sujeito fundamental – embora não único – da revolução. Por esses dois motivos, uma revolução comunista implica, necessariamente, uma transformação na forma do trabalho que elimine o trabalho assalariado e o substitua pelo trabalho associado.
Por sua vez, por centralidade da política, entendo por atribuição ao Estado, que é o núcleo central do poder político, a tarefa de conduzir o processo de superação do capitalismo e de construção de uma sociedade comunista.
Tanto pela via reformista (social-democracia) quanto pela via revolucionária (de tipo soviético), a tarefa de conduzir a superação do capitalismo e de construir o comunismo foi atribuída ao Estado. Ambas as vias, por caminhos diferentes – a primeira pela via da reforma e a segunda pela via da coexistência pacífica – imprimiram à luta da classe operária um caráter predominantemente reformista. De um lado, tratava-se de chegar ao comunismo pela via das conquistas parciais e paulatinas, sem, portanto, confrontar direta e radicalmente o capital e o Estado. De outro lado, tratava-se de defender a “pátria do socialismo” – a União Soviética – na crença de que o capitalismo seria vencido pela atração que esse socialismo em construção exerceria nos próprios países capitalistas. Colaboração de classes e não o confronto passou, então, a ser o tom das lutas da classe operária.
Desse modo, a classe operária foi perdendo o horizonte revolucionário, deixando de assumir o seu protagonismo como inimiga radical do capital e pautando as suas lutas apenas por melhorias pontuais, que não questionavam a ordem social capitalista.
Nenhuma outra classe, nenhuma outra categoria, nenhum outro movimento social pode ocupar esse lugar que pertence, por natureza, à classe operária. As lutas de todos os outros segmentos sociais são, sem dúvida, importantes, mas elas só ganharão um sentido revolucionário na medida em que estiverem norteadas pela luta da classe operária contra o capital e contra o seu mais importante sustentáculo, que é o Estado.
Contribuir, hoje, para que a classe operária volte a ocupar o seu lugar de antagonista radical do capital e lidere o processo revolucionário é condição necessária para a resolução dos gravíssimos problemas com os quais se debate a humanidade. Essa é, pois, uma importantíssima tarefa de todos aqueles que estão comprometidos com um futuro digno para a humanidade.
O GRANDE AUSENTE, pelo viés do colaborador Ivo Tonet*
*Ivo Tonet é professor de filosofia da Universidade Federal de Alagoas. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ivo Tonet colaborou com este texto exclusivo escrito em abril de 2012.
 
Fonte: http://www.revistaovies.com/colaboradores/2012/05/o-grande-ausente/

Leia mais: http://adrianonascimento.webnode.com.br/news/o-grande-ausente-por-ivo-tonet/
 

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