quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

PATATIVA DO ASSARÉ -- AVE POESIA



A vida e a obra do poeta Patativa do Assaré, a relevância dos seus poemas, o significado político dos seus atos e a sua imensa contribuição à cultura brasileira. Dono de um ritmo poético de musicalidade única, mestre maior da arte da versificação e com um vocabulário que vai do dialeto da língua nordestina aos clássicos da língua portuguesa, Patativa do Assaré é a síntese do saber popular versus saber erudito. Patativa do Assaré consegue, com arte e beleza, unir a denúncia social com o lirismo. Aço e rosa. Quem lê ou escuta a poesia de Patativa do Assaré pensa, emociona-se e conscientiza-se do mundo, porque na sua poesia estão presentes todas as lutas e esperanças do povo; estão reunidas palavras e idéias que se erguem com a dignidade guerreira dos justos, contra todas as formas de obscurantismos e de exploração do homem. No ano de 2001, Patativa do Assaré foi escolhido como um dos mais importantes cearenses do século XX.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Privatizações: a Distopia do Capital (2014)


           O novo filme de Silvio Tendler ilumina e esclarece a lógica da política em tempos marcados pelo crescente desmonte do Estado brasileiro. A visão do Estado mínimo; a venda de ativos públicos ao setor privado; o ônus decorrente das políticas de desestatização traduzidos em fatos e imagens que emocionam e se constituem em uma verdadeira aula sobre a história recente do Brasil. Assim é Privatizações: a Distopia do Capital. Realização do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com o apoio da CUT Nacional, o filme traz a assinatura da produtora Caliban e a força da filmografia de um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro.

Em 56 minutos de projeção, intelectuais, políticos, técnicos e educadores traçam, desde a era Vargas, o percurso de sentimentos e momentos dramáticos da vida nacional. A perspectiva da produtora e dos realizadores é promover o debate em todas as regiões do país como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, afirma Silvio Tendler.

Vale registrar, ainda, o fato dos patrocinadores deste trabalho, fruto de ampla pesquisa, serem as entidades de classe dos engenheiros. Movido pelo permanente combate à perda da soberania em espaços estratégicos da economia, o movimento sindical tem a clareza de que “o processo de privatizações da década de 90 é a negação das premissas do projeto de desenvolvimento que sempre defendemos”.                                                                                                                                                                     

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mapeamento do antipetismo: o PT entre o cínico e o obsoleto

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O Partido dos Trabalhadores, preocupado com os altos índices de rejeição, contratou a empresa Marissol para fazer um mapeamento do antipetismo.
A matéria, publicada pela Exame, destaca que “a cúpula do PT já tem um diagnóstico primário das causas do antipetismo. Segundo dirigentes, a onda começou nos protestos de junho de 2013, quando militantes petistas foram agredidos em manifestações em São Paulo, tomou corpo durante o processo eleitoral deste ano e continuou depois das eleições, com as manifestações contra a presidente Dilma.”
Os intelectuais do PT ainda insistem na tese de que as jornadas de junho foram protagonizadas por fascistas de direita. Por que é tão difícil reconhecer que houve mudança nos modos de produção capitalistas e na dinâmica das lutas? Talvez a dificuldade em reconhecer as mudanças na base estrutural do capitalismo do século 20 se deva ao fato que isto significa romper com estruturas de poder autoritárias, que usam a força e a violência como garantia de êxito dos projetos empresariais e políticas privatistas.
As jornadas de junho estão inseridas em um processo de conflito social que se exprime na violência encarnada no ódio racial, na opressão de gênero e em privilégios socioeconômicos. No entanto, o cinismo do governo não se permite compreender as jornadas fora de uma disputa de hegemonia polarizada entre petismo e antipetismo, colocando-se assim como fiel da balança do panorama político brasileiro. Enquanto isso, os novos sujeitos do trabalho são reduzidos a inimigos fascistas que precisam ser esmagados por um biopoder totalizante. Já que a presente estrutura de poder, sobre o que se constrói a governabilidade (e o governismo), é incapaz de reconhecer e valorizar as diversidades e subjetividades resistentes à precarização do trabalho, à violência impregnada na rotina, à militarização e/ou milicialização dos territórios dos pobres, à falta de efetivação dos direitos sociais.
O governismo padece de uma obsolescência ideológica cuja saída só poderia estar num novo olhar sobre as relações do trabalho metropolitano, a fim de compreender a eclosão das resistências de junho não somente como lutas de classe operárias nos termos ortodoxos das conquistas salariais e de melhores condições de emprego, como também uma luta global por uma nova forma de democracia social participativa.
Entender os porquês da crescente rejeição ao governo e ao PT só será possível começando pelo fim da arrogância em considerar-se o centro irradiador de sentido do sistema político (ou da esquerda). É preciso perceber essa arrogância, bem como a responsabilidade pelos equívocos das políticas neodesenvolvimentistas, que acabaram por incrementar a estrutura de securitária de controle social, que historicamente submete os mais pobres e vulnerabilizados a um cotidiano brutalizante de medo, intimidação, silenciamento, execuções sumárias e torturas.

Por isso, ignorar as mudanças estruturais do capitalismo no século 20 e seguir querendo impor as velhas formas de organização das lutas do trabalho consiste numa tentativa de desqualificar politicamente a recomposição dos trabalhadores da metrópole, que se articulam e organizam sua cooperação de outros modos. Este definitivamente não é um caminho para entender porque a multidão insurgente de junho rejeita o atual governo e o PT.

Lamentavelmente, o PT e sua militância estão obsoletos, afogaram-se num mar de prepotência e intolerância diante da alteridade. Toda crítica vem sendo tratada como discurso de ódio e a seguir achatada num bloco unitário e amorfo de “antipetismo”. O extremismo petista parte, então, para a solução mais simples: denunciar como fascista tudo o que lhe desagrada, enfatizando o discurso de polarização partidária, que é forma não só de destruir o inimigo, como também de dobrar as críticas vindas à esquerda, segundo a tentativa de construir um discurso unificado hegemônico das “esquerdas”, quer dizer, a unificação que atende à vontade do governismo.
A velha guarda da militância operária não consegue (e não quer) enxergar a falência dos grandes agregados coletivos-identitários baseados noutra composição do trabalho (do operariado-massa dos grandes distritos industrializados do  passado), atendo-se ainda a um cinturão de sindicatos pelegos, engrenados acriticamente na transmissão de pautas e diretivas do governo, cooptados por uma institucionalidade em crise.

Em primeiro lugar, é preciso assumir os males da “governabilidade” empreendida pelas políticas neodesenvolvimentistas dos últimos 12 anos, para começar a enxergar com lucidez o porquê de as lutas não suporem mais a centralidade das instituições representativas (partidos políticos e sindicatos). Essa centralidade se deslocou para incorporar o potencial dos trabalhadores metropolitanos em toda a amplitude da cooperação social, dos fluxos transversais da cidade, da rede de singularidades que não deixam de ser singularidades quando se unem na luta e criação de alternativas. Isto significa entender que não há líderes neste processo.

No entanto, enquanto vigorar a demagogia em pretender construir a realidade de maneira tão simplória, etiquetando as lutas em “de direita” ou “de esquerda” em função das conveniências partidárias e eleitorais, qualquer pesquisa não servirá senão para negar os fatos. As contingências irredutíveis dos fatos são assim ignoradas, do que só poderá resultar a manipulação da pesquisa, a partir de pressupostos enviesados voltados a reeditar a mesma polarização falsa: petistas (amigos) x antipetistas (inimigos).
O fracasso de um modelo de organização partidária de esquerda que parou no tempo está novamente evidenciado no momento em que pretende reimpor os mesmos binarismos, a mesma máquina de consensos forjados a partir da mera necessidade de manter-se no poder, mesmo que isto signifique negar as lutas, destruir a organização política do trabalho e criminalizar quem luta por uma democracia melhor.
Querem identificar líderes? querem sondar o tecido social atrás do que já acreditam conhecer, a fim de reencontrar redimidas as velhas estruturas, e assim propagar um discurso de polarização que, no calor do conflito social, não lhe corresponde?
Que tal, então, estudarem a crise da representatividade? Que tal tentarem olhar para junho de 2013 dentro de um contexto global e local de lutas interconectadas, por novas formas, métodos e instituições?
Mas não, querem mesmo é associar black blocs a Bolsonaros!
Toda resistência a uma violência ilegítima do Estado seletivo protagonizada pelas jornadas de junho passa a ser associada, convenientemente, às manifestações golpistas e a todo tipo de violência fascista e preconceituosa.
A neurose petista prefere ignorar as mazelas da sua gestão e despolitizar as lutas por direitos articuladas em moldes apartidários, assim articuladas em meio a uma crise representativa, tudo para reduzi-las, dentro da lógica da polarização, aos atos despolitizados e golpistas, evidentemente, apoiados por partidos políticos conservadores.
Portanto, a cúpula do partido já começa a pesquisa com um diagnóstico primário totalmente equivocado, que contamina quaisquer conclusões. Senão para reforçar o consenso repressivo, militarista e criminalizante de que a cúpula do PT e governo participam conscientemente.
Nunca entenderão nada enquanto olharem o presente pelo passado. O que basta é saber se a intenção é mesmo entender alguma coisa ou se é mais uma tentativa de cercear garantias constitucionais pela intimidação dos que resolverem não ser chantageados pelo discurso da polarização.


Priscila Pedrosa Prisco é advogada da comissão de direitos humanos da OAB-RJ, professora da UFF e mestranda na mesma instituição.

De:  Universidade Nômade Brasil
 

domingo, 23 de novembro de 2014

O pior caminho para Dilma

Ato I

Um jovem com camiseta vermelha é agredido com empurrões e xingamentos na avenida paulista por usar camiseta vermelha. Na estampa, uma alegre alegoria com Marx, Lênin, Fidel e Mao numa festa.

- Vai pra Cuba, vai morar no inferno, estamos num país livre! Vai arrumar emprego na Venezuela e na Argentina, nesses buracos!

Ato II

Um repórter de um programa de TV é agredido e impedido de trabalhar na mesma avenida Paulista.

- Jean Wyllis do CQC! Eu não tenho ódio, amiguinho. Você tá cagando de medo porque vai se fuder nessa história! Vai pra Cuba, devia ir mesmo! Ô viadão. Você já deu pro Lula? Tá sendo entrevistado aqui um filho da puta comunista. Dá pro Tas, pro Lulinha! Você tem que ser extirpado da vida pública. (ouve se imitações de macaco).

Ato III

14 de novembro de 2010.

- Na hora em que eu olho, ele já acerta com a lâmpada no meu rosto. Na hora em que eu coloquei a mão no rosto, já estava saindo sangue. Ele vem com a segunda, e eu me defendo. Os outros começaram a rir.

Ato IV

- Eles vem com força mesmo de agressão mesmo para ver o sangue sair mesmo das pessoas que estiver andando com mãos dadas uns com os outros.

***

Esses fatos têm em comum o lugar em ocorreram: avenida Paulista, os três quilômetros mais ricos do Brasil. É lá que se tomam as decisões que impactam em todo o resto do país. Os grandes bancos e o chamado “mercado”, aquele que decide e dá as cartas, estão todos lá com suas representações.

Tirante o local, esses acontecimentos se entrelaçam com o ódio e a vontade de destruir ou, no dizer de um desses personagens, extirpar o outro. Seja porque usa uma camisa vermelha ou porque se resolve andar de mãos dadas com outra pessoa. Demonstrar carinho e afeto, dentro desse contexto, é perigoso.

Se eu não posso escolher a cor da minha camiseta, sequer as mãos com as quais caminharei pela rua e vivo em uma democracia, algo de estranho paira no ar.

Já abordamos o número preocupante de assassinatos de pessoas em situação de rua, pelo “motivo” de serem pobres e a rejeição, por parte de moradores da construção de albergues no bairro de Santa Cecília e em Brasília.

Os lamentáveis episódios que acabamos de relatar colocam em estado de alerta o próprio processo civilizatório ou de construção de uma sociedade cada vez mais livre, justa e solidária, a teor do mandamento da Constituição da República de 1988.

Esses fatos trágicos e lamentáveis tem se repetido. Hora assistimos espancamentos e assassinatos de gays, hora assassinatos de pessoas em situação de rua e hora hostilidades e agressões a quem pensa politicamente diferente ou mesmo apenas usa camisa vermelha.

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Ato V

Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, 2014

“O garoto foi espancado, teve suas roupas arrancadas e depois foi acorrentado com um cadeado de bicicleta. Durante a surra, também perdeu parte de uma orelha”.

Ato VI

Zona Leste de São Paulo, 2013

“As vítimas estavam indo trabalhar, são pedreiros numa obra na zona leste, aqui na avenida do oratório foram perseguidos e atacados bem em frente a esse ponto de ônibus”.

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Esses dois últimos casos são, também, tristes exemplos de manifestação social de ódio. O primeiro contra um jovem negro, acusado de furto. O segundo contra pedreiros do Piauí que iam para o trabalho. O motivo? Ser negro, pobre e nordestino.

Durante a campanha presidencial não foram raros os ataques aos nordestinos, atribuindo-lhes a responsabilidade por um voto ignorante e mal informado, até mesmo por um sociólogo renomado. Mas, antes mesmo disso, já nas manifestações de junho de 2013, militantes com bandeiras vermelhas foram agredidos e expulsos do espaço público.

O muro de Berlim caiu em 1989, mas a base racional de construção do inimigo ainda se faz presente, mesmo que em mentes pouco privilegiadas ou com falhas graves no estudo da história. O comunista de outrora, razão física do medo incutido pelas nações capitalistas, renasce agora travestido de ditadura petista, gayzista e comunista.

Mas por que gays, petistas, camisetas vermelhas, nordestinos e pessoas em situação de rua despertam tanto ódio em uma parcela da população?

É que na ausência de um discurso racional de oposição, quem tomou a frente como formadores de opinião foram humoristas, ex-cantores e alguns articulistas de revistas. Através de contas na rede social twitter que às vezes chegam agregar 5 milhões de seguidores e de blogues, foram explanando aos quatro ventos esse discurso sem pé nem cabeça que não resiste a um diálogo minimamente sério.

A apatia dos partidos políticos contribuiu para esse tipo de “formação de consciência”. Basta a tanto assistir (se tiver estômago) alguns hangouts de 2013 (debates pela internet) entre essas trágicas figuras. Nesses vídeos é possível pegar alguns traços da construção desse discurso.

Por outro lado, há uma crise de referências na sociedade brasileira. Na intelectualidade, nos meios acadêmicos e na cultura. Há um vácuo de geração.

Muitos dos jovens de hoje só ouviram falar de Ariano Suassuna na sua morte ou em alguma associação com Chicó e João Grilo. Quantos jovens de hoje sabem quem foi Darcy Ribeiro? Glauber Rocha, Oscar Niemeyer? Nessa molecada que vive nas redes sociais, quem conhece Antônio Cândido?

Quem são os ícones da juventude atual dentro desse contexto neoliberal de sociedade de consumo de massas?

A canalização do potencial criativo e ousado dos nossos jovens para onde está indo atualmente? Os brasileiros que possuem maior número de seguidores no tuíter em ordem decrescente são: Kaká, Neymar, Ivete Sangalo, Paulo Coelho, Programa Pânico, Ronaldinho Gaúcho, Cláudia Leite, Luciano Huck, Marcos Mion. O humorista Danilo Gentili tem algo em torno de 7 milhões de seguidores.

Aí,se encontra a atual encruzilhada e que pode nos dar um início de resposta ao por que dessas manifestações e discursos toscos, confusos, que disseminam o ódio. No neoliberalismo, os grandes meios de comunicação tornam os jovens meros consumidores e reprodutores dos “valores” individualistas.

E o contraponto a isso?

O PT hoje paga o preço pelo aquilo que não fez e poderia ter feito. Seja na formação política dos seus militantes, seja na ação de governar ao se ausentar de pautar e enfrentar temas caros da atualidade. A perda da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados já era um sintoma da apatia do governo e do partido. É óbvio que não há nada de comunista no programa petista e que o Foro de São Paulo é um fantasma que diz muito e não diz nada.

No entanto, o PT não é criticado por ter tirado 40 milhões da pobreza extrema, disso não se fala. A corrupção, Cuba, camisa vermelha, gays e ditadura são os pontos que “embasam” esse discurso do ódio, mas se esquece que a corrupção é a forma de funcionamento do capitalismo. Por isso, é preciso disputar e pautar a sociedade com temas que façam o processo democrático avançar. Na apatia, esse discurso minoritário ganha eco.

O PSDB se apropria desse discurso e o legitima na ausência de um projeto para o País. A direita está acéfala de pensadores com um mínimo de seriedade. Não sem razão, o senador Aloysio Nunes esteve presente nessas manifestações em que mencionamos no início e foi ao programa de Danilo Gentili.

Na política, ou você constrói pautas ou é pautado. O governo tem força e amplitude para pautar temas, mas nos últimos anos acabou muitas vezes sendo pautado. Temas não faltam. A questão da democratização da educação, da mídia, reforma política, do extermínio da juventude negra nas periferias, reforma agrária, dos indígenas, quilombolas, da fome e das desigualdades regionais ainda estão candentes e precisam ser enfrentados.

A Comissão da Verdade criada pelo governo federal, se tivesse sido mais efetiva e ousada, talvez constrangesse ainda mais aqueles que falam em volta da ditadura militar. Dilma a tratou com descaso. Prova disso é a falta de estrutura, autonomia administrativa e a demora irrazoável na indicação e substituição de nomes. Reestabelecer a verdade histórica é o maior antídoto contra a volta de monstros adormecidos. Punir e responsabilizar os torturadores pelos crimes cometidos é a melhor forma de assimilar o passado e garantir que não mais nos assombre.

O vento favorável que sopra dos movimentos sociais

Um vento favorável sopra dos movimentos sociais e não só pelo que se viu nas eleições. A proposta de reforma política juntou 400 movimentos, entidades e organizações. Foram organizados mais de 2 mil comitês populares em todo o país e recolhidas quase 8 milhões de votos de eleitores, exigindo a convocação de uma assembléia constituinte. As manifestações por moradia em São Paulo e no resto do País tem mostrado que há povo organizado e consciente à espera de maior aprofundamento democrático.

A forte mobilização de movimentos pelo fim do extermínio da juventude negra e aprovação do projeto 4771/2011, que trata dos famigerados autos de resistência, é uma importante bandeira para enfrentar os absurdos números de assassinatos (77% dos jovens assassinados no Brasil são negros).

O geógrafo marxista David Harvey levou 3 mil jovens a praça pública em Fortaleza, proferindo a conferência, “Direito à Cidade e Resistências Urbanas”. Neste momento, 200 advogados populares de movimentos sociais de todo o Brasil estão reunidos no XIX Encontro Nacional da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares-RENAP, em Natal/RN, discutindo estratégias conjuntas de atuação e temas como direito, justiça e cidadania.

O papa Francisco reuniu líderes de movimentos sociais do mundo todo para durante três dias debater temas como a fome, democracia e inclusão social.

Ou seja, para além dessas tolices e sandices da extrema direita que assistimos vez ou outra, existe um pulsar social mais profundo e arraigado por uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.

Além de sermos a sétima economia mundial, somos uma nação que tem se colocado no mundo com uma alternativa ao enfrentamento da crise neoliberal e da inclusão social. O Brasil, portanto, é muito maior que esse discurso tosco e sem racionalidade que vemos nos vídeos.

Nesses tempos de mediocridade de ideias e projetos, faz falta a ousadia de Darcy Ribeiro.

Darcy Ribeiro sonhava com o Brasil sendo a nova Roma dos trópicos. Uma democracia inovadora, em que caibam todos os povos. E que no espaço público ninguém seja “extirpado” por andar de mãos dadas, usar camisa colorida ou externar o que pensa.

Os caminhos estão dados para o novo governo Dilma. O pior deles é a apatia de parar na esquina, pois como diria Elis, é nela que mora o perigo.

* Patrick Mariano é doutorando em Direito, Justiça e Cidadania no século XXI na Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em direito, estado e Constituição pela Universidade de Brasília, integrante da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares-RENAP, do coletivo Diálogos Lyrianos da UnB e autor do livro 11 Retratos por 20 Contos.
Por:  Blog do Miro

terça-feira, 18 de novembro de 2014

VI Cúpula dos BRICs em Fortaleza

Movimentos sociais reuniram-se em evento paralelo à VI Cúpula dos BRICs em Fortaleza. Assista ao vídeo com representantes dos cinco países falando sobre riscos e oportunidades trazidos pelo novo banco
Desde o dia 15 de julho existe um novo banco na praça do sistema financeiro internacional.
O Novo Banco de Desenvolvimento, como batizado, foi criado na VI Cúpula dos BRICS, realizada em Fortaleza, no Ceará, com a presença dos presidentes dos cinco países integrantes do bloco. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (que formam o acrônimo da sigla) oficializaram assim a até agora maior ação da coalização – que desde 2009 se articula com o objetivo de intervir no cenário político e econômico internacional.
Lançado como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, o Novo Banco de Desenvolvimento deverá, a partir de 2015, financiar projetos de infraestrutura nos países dos BRICS e em outras nações emergentes parceiras, diminuindo assim a dependência destes às outras duas instituições financeiras, ambas criadas no pós-guerra e desde então dominadas por Europa e Estados Unidos. Atualmente os BRICS já somam 20% do PIB global.
A criação do novo banco foi saudada pelos setores econômicos dos cinco países. As organizações das sociedades civis dos BRICS, que representam 40% da população mundial, no entanto, não foram ouvidas. Durante evento paralelo à cúpula oficial, realizada em Fortaleza, ativistas, integrantes de organizações não governamentais e de comunidades afetadas por atividades econômicas como a mineração debateram os riscos e oportunidades trazidos pelo novo banco.
Nos depoimentos e avaliações de integrantes do evento paralelo, também realizado em Fortaleza, a participação social é vista como crucial para aprofundar o intercâmbio entre as sociedades e evitar que o bloco sirva apenas aos interesses econômicos, acirrando ainda mais os impactos sociais e ambientais do atual modelo de desenvolvimento econômico.
Veja o vídeo com entrevistas de representantes dos cinco países integrantes da coalização.



 

domingo, 16 de novembro de 2014

Rosa Luxemburgo



Nascida na Polônia e doutora em Ciências Econômicas, Rosa Luxemburgo torna-se uma das grandes líderes do movimento operário revolucionário alemão, adere ao Partido Social-Democrata alemão em 1898 e em 1914, rompe violentamente com essa agremiação. Rosa, a Vermelha, como era conhecida, visceralmente internacionalista e antibelicista condena como uma traição o apoio dos social-democratas à deflagração da Primeira Guerra Mundial. Ao lado de Léo Jogiches, o amante e do revolucionário Karl Liebknecht, junto com o qual fundou a Liga Spartakus, embrião do futuro Partido Comunista Alemão, a militante se embrenha cada vez mais no movimento de massas, passando longos períodos na prisão.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Organizando a indignação

 

14.11.10_Ruy Braga_Podemos 


Os sismos causados pelo movimento dos Indignados espanhóis ameaçam se transformar em um terremoto político devastador para o neoliberalismo. De acordo com uma pesquisa eleitoral divulgada na última semana pelo jornal El País, o Podemos, partido recém-criado pela aliança entre o jovem precariado espanhol e intelectuais de esquerda, alcançou 28% das intenções de voto para as eleições legislativas de novembro de 2015. Este resultado coloca-o dois pontos à frente do oposicionista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e oito adiante do Partido Popular (PP) do atual primeiro-ministro, o conservador Mariano Rajoy. Apenas para efeitos comparativos, nas eleições legislativas de maio de 2011, o PP havia conquistado 45% dos votos…
Herdeiro da auto-mobilização da juventude e dos trabalhadores precarizados, o Podemos coroa a indignação social de toda uma geração de jovens espanhóis que, apesar de seus diplomas, agoniza entre o subemprego e a exclusão social. Apoiando-se na crítica a um sistema plasmado por políticas austeritárias impostas pela Troika (isto é, a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu), os Indignados insurgiram-se contra o regime bipartidário (PP/PSOE) que há trinta e dois anos domina o país. E conquistaram uma rara vitória organizativa por meio de um modelo de ação coletiva cujo eixo gravita em torno da ocupação de espaços públicos e da organização de assembleias populares.
Além de potencializar a defesa radical dos direitos sociais da cidadania sob fogo cerrado da Troika, este método favoreceu a resistência às formas tradicionais de cooptação política. Mesmo quando certa desmobilização abateu-se sobre a onda de ocupações iniciada em 15 de maio de 2011, o movimento soube se reaglutinar em torno de coletivos dedicados a inúmeros temas sociais aos quais se somaram intelectuais e ativistas da Esquerda Anticapitalista (um pequeno agrupamento de origem trotskista). Estavam lançadas as bases de um projeto cujos 8% dos votos na eleição europeia de 11 de março deste ano já haviam surpreendido muita gente.
Tendo em vista a composição social do movimento, não é estranho que suas lideranças sejam cientistas sociais da Universidade Complutense de Madri, tais como Pablo Iglesias, recém-eleito deputado europeu, e Íñigo Errejón, coordenador-geral da campanha do partido para o parlamento europeu. Da crise de financiamento das universidades às condições degradantes do mercado de trabalho, uma geração de estudantes que trabalham e trabalhadores que estudam tem estimulado o diálogo das ciências sociais com públicos extra-acadêmicos.
Assim, reflexões sociológicas acerca da ação coletiva pós-nacional (Iglesias) ou da luta pela hegemonia na América Latina contemporânea (Errejón), por exemplo, tanto alimentam a crítica ao totalitarismo econômico imposto pela Troika, quanto advertem para os estreitos limites participativos da democracia representativa. Não por outra razão, um reconhecido líder do Podemos, também professor de sociologia da Universidade Complutense de Madri, Juan Carlos Monedero, afirmou recentemente:
“[Antonio] Gramsci dizia que os tempos de crise são tempos em que o velho ainda não morreu e o novo ainda não nasceu. As instituições vinculadas à Constituição espanhola de 1978 estão aí, mas já não funcionam e as novas instituições estão por construir. [...]. A conclusão é que o esgotamento da democracia representativa, a perda de credibilidade de uns políticos que se converteram em burocratas do neoliberalismo, transformou-se na necessidade de inventar novas soluções. Era preciso gente que viesse de fora da política, de fora do sistema, que tivesse a sua profissão e que falasse uma linguagem que as pessoas entendessem. [...] Não viemos do nada. Viemos de muitas lutas, de muita participação em diferentes movimentos sociais. Também de partidos. E estamos num momento histórico em que, como diz o meu mestre, Boaventura de Sousa Santos, é muito importante pensar de outra maneira para que seja possível construir de outra maneira. É preciso romper o marco político em que entregamos aos especialistas a gestão do político, porque os cidadãos perdem a possibilidade de controlar as metas coletivas. [...]. Há que romper a hegemonia de um modelo capitalista que nos transforma a todos em mercadoria e que mede a vida em termos de rentabilidade. [...]. Costumo dizer que vivemos tempos em que precisamos de um ‘leninismo amável’. [...]. [Necessitamos de] um leninismo que enfrente o que chamamos a ‘casta’ [financeira] de uma maneira dialogada e deliberativa. Somos uma força que conjuga uma altíssima participação popular com a capacidade de decisão popular.”
Maria João Morais e Filipe Pacheco. “Número dois do Podemos diz que ‘linha que separa direita da esquerda esgotou-se’”. Jornal de Notícias, Lisboa, 4 nov. 2014.
Muitos dirão que o Podemos não advoga uma saída socialista para a crise europeia. O “Documento final do programa colaborativo” elaborado em assembleias cidadãs que atraíram milhares de ativistas ano passado é, na verdade, uma agenda para a democratização do Estado social de direitos. Além de várias concessões à pequena propriedade, as medidas econômicas apresentadas são de natureza socialdemocrata, concentrando-se na criação de empregos por meio da redução da jornada de trabalho, na regulação social das empresas públicas, na democratização do Banco Central Europeu e no reforço à proteção trabalhista.
As medidas políticas propugnadas pelo documento denotam igualmente a adesão a um reformismo forte. Além de exigir a auditoria cidadã da dívida pública, o Podemos propõe o fortalecimento dos mecanismos de controle popular do orçamento de Estado, a democratização dos meios de comunicação, a defesa e a ampliação dos direitos das mulheres, dos grupos LGBTs e dos trabalhadores imigrantes. Em princípio, nenhuma dessas bandeiras é verdadeiramente incompatível com as relações de produção capitalistas. No entanto, nos marcos da crise que atualmente devasta o sul da Europa, a simples defesa do Estado social já configura um sério desafio à reprodução de um capitalismo financeirizado incapaz de realizar concessões aos subalternos. 
Neste sentido, uma eventual vitória de Pablo Iglesias para o cargo de primeiro-ministro seria um duríssimo golpe na Troika. Considerando que Iglesias foi o único dos sete dirigentes políticos citados pela pesquisa do El País a receber uma avaliação positiva do eleitorado, sua eventual eleição é bastante plausível. E como na canção de Ismael Serrano, o medo parece estar mudando de lado: preocupado com os resultados da sondagem eleitoral, o tradicional banco inglês Barclays divulgou um relatório afirmando que o “forte crescimento” do Podemos ameaça a política de austeridade espanhola (ver Katy Barnato, “Why a pony-tailed academic could rock Spain”). Contra este tipo de ataque, Iglesias e seus companheiros têm se empenhado em construir alianças internacionais com forças afins como, por exemplo, o Bloco de Esquerda de Portugal (ver Rita Brandão Guerra, “Bloco e Podemos trocam contributos entre Lisboa e Madrid”. Público, Lisboa, 3 nov. 2014).
Infelizmente, o movimento português de protesto social intitulado “Que se Lixe a Troika!”, cujas duas manifestações, ocorridas nos dias 15 de setembro de 2012 e 2 de março de 2013, reuniram cada uma mais de 1 milhão de pessoas nas principais cidades do país não evoluiu, até o momento, rumo a uma organização à la Podemos. Há inúmeras razões para isso que vão desde a forte hegemonia do Partido Comunista (PCP) sobre o movimento sindical português à massiva emigração de jovens que fragiliza a militância dos novos movimentos, como, por exemplo, a Associação de Combate à Precariedade Precários Inflexíveis. No entanto, tendo em vista o aprofundamento da crise no sul da Europa, é de se esperar que os sismos do terremoto espanhol sejam logo sentidos também em Lisboa.         
Evidentemente, há ainda um bom tempo até as eleições legislativas de novembro de 2015. Não devemos menosprezar a possibilidade do PSOE liderado pelo jovem secretário-geral Pedro Sanchez Perez-Castejon restabelecer no próximo ano uma posição majoritária entre os eleitores espanhóis. Além disso, parte importante do excelente desempenho do Podemos nas enquetes advém da atração exercida por seu “leninismo amável” sobre os eleitores que votam nulo. Trata-se de uma base de votos um tanto ou quanto fluída. Este fato aumenta a necessidade de que o partido estreite os laços com a classe trabalhadora tradicional e seus sindicatos. No entanto, apesar de todas estas precauções, é indubitável que a aliança entre o jovem precariado espanhol e intelectuais de esquerda inventou uma alternativa politicamente sedutora. Ao menos por enquanto, a sobrevivência do Estado social na Europa depende do devir deste projeto.
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Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP e ex-diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da USP, é autor, entre outros livros, de Por uma sociologia pública (São Paulo, Alameda, 2009), em coautoria com Michael Burawoy, e A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (São Paulo, Xamã, 2003). Na Boitempo, coorganizou as coletâneas de ensaios Infoproletários – Degradação real do trabalho virtual (com Ricardo Antunes, 2009) e Hegemonia às avessas (com Francisco de Oliveira e Cibele Rizek, 2010), sobre a hegemonia lulista, tema abordado em seu mais novo livro, A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às segundas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Ademar Bogo: MST trouxe uma nova perspectiva de militância com sua política de formação



bogoUm dos filhos mais jovens de uma família de agricultores com 13 filhos, Ademar Bogo é militante do MST há mais de 30 anos. Passou de camponês para militante da luta pela terra e contra os latifúndios do Brasil quando foi estudar num seminário após a morte do pai, que era da Teologia da Libertação, ligado à Pastoral da Terra e acompanhava os conflitos de terra no país. Começou a militância em 1979, motivado por movimentos populares na Nicarágua e pela ebulição da luta contra a ditadura no Brasil. Porém, sua análise atual do MST é crítica e reflete a preocupação de quem anseia por um avanço do movimento e não quer retrocesso. Ademar Bogo foi um dos palestrantes da mesa sobre “Comunicação e Cultura das Classes Populares”, realizada no dia 5 de novembro, no 20º Curso Anual do NPC. Atualmente, Bogo é doutorando do curso de Filosofia na Universidade Federal da Bahia.
Nesta entrevista ele ressalta o valor da cultura e da educação na formação militante do MST, mas não se furta de fazer críticas ao movimento que, segundo ele, ao ceder ao governo perde a força e o eixo para o qual foi criado: a luta contra o latifúndio, pela distribuição de terras e a revolução popular do Brasil. Confira.
Como você vê hoje o campo da cultura e da comunicação no MST?
Ultimamente houve uma perda muito grande no sentido de ações políticas na criação de conflitos de classe e, na medida em que não há uma ação como motor que puxe as discussões e crie uma curiosidade social, há um rebaixamento na questão cultural, seja na ampliação do acúmulo de ideias e práticas de discernimento e experiências e um rebaixamento também na emissão de informações. Porque você não sente que a sociedade exige uma explicação do pouco que se faz, mas ao dizer o que se faz se diz pouco e não cria curiosidade naqueles que estão ouvindo. Então, eu penso que a gente vive num período bastante rico no sentido de compreensão do que seria um processo de construção cultural, mas em um processo de comunicação que não diversifica as formas.
O MST luta pela reforma agrária e apoiou o atual governo. Qual sua opinião?
Eu acho que é um equivoco não só do MST como de outros movimentos no sentido de não entender que o Estado é um instrumento contrário à possibilidade de busca de liberdade. Ele é um instrumento do capital e da classe dominante e está mostrando isso no sentido da política agrícola que possui, favorecendo o agronegócio, preservando inclusive a terra como uma reserva do capital que busca espaço para seu desenvolvimento. O movimento em busca de assistência ou de outras situações secundárias ao conflito principal, que é a intervenção sobre os latifúndios, acaba reduzindo sua potencialidade e, portanto, passa a fazer o papel do Estado que é de conciliação e não de enfrentamento.
Então, você acredita que o governo do PT enfraqueceu os movimentos na luta por reivindicações, como a reforma agrária?
O Estado, independentemente de quem está no governo, está fazendo o seu papel, que é de buscar manter o equilíbrio das forças e manter a governabilidade. Os equivocados são aqueles que deveriam contestar o Estado, mas se confundem imaginando que quem está no poder é seu aliados. Assim, preservam o Estado em nome de algumas recompensas assistencialistas. Medidas que qualquer governo poderia fazer como um bolsa família, acesso ao crédito, educação e outras medidas. Não necessariamente deveria precisar haver um governo de esquerda para que este governo se dê conta de que a sociedade precisa desses elementos. O Estado automaticamente deveria fazer isso para evitar conflitos sociais. Mas como não era feito, os movimentos não percebendo isso, acabam entrando numa lógica que diminui a capacidade ofensiva. Vivem na defensiva, mas para não ferir as poucas relações dos canais que são abertos com o governo, eles se calam e se acalmam culpando a conjuntura, a situação de desmobilização geral, que é real. Estamos num processo em que há uma desmobilização social grande, mas a sociedade não será reorganizada por conta de assensos que virão na espontaneidade. A sociedade precisa ser provocada e isso ninguém quer fazer porque, quando se reage, esse movimento remete a uma discussão e por conta dessa possibilidade de reação poder favorecer a direita como oposição, a esquerda passa a ir até o limite que julga ser possível porque acredita que dessa forma a direita não vai se aproveitar dessas ações. Logo, você está fazendo o que a ordem precisa que você faça para permanecer como está.
Qual sua avaliação atual do MST?
É um movimento que passa por grandes dificuldades porque não tem um projeto estratégico para transformação do país por ser um movimento de camponeses e, por isso, não representar toda sociedade. Não tem outra força urbana à qual o MST possa se ligar para poder compartilhar o que já tem de avanços da compreensão das contradições da luta de classes: o preparo da militância, toda a experiência que se tem desses últimos 30 anos e que poderia ser aproveitada como patrimônio da classe trabalhadora para outras ações em outros ambientes. Mas, principalmente, o MST hoje não tem dentro de si uma disposição de renovar suas táticas. Então, é um movimento que tende a penar muito e sofrer porque suas reações não têm força suficiente de reverter as políticas em relação ao latifúndio e ao agronegócio ou em relação ao próprio governo. É um movimento que terá poucas vitórias à frente e isso significa uma regressão no sentido do acúmulo social histórico.
Você demonstra uma grande preocupação com isso.
Sim, porque você percebe que a sociedade está em contradição e não só no sentido apenas de sua civilização, ela está em contradição inclusive com a possibilidade de regredir para barbárie. E na medida em que você não tem uma força política que chame atenção ou intervenha demonstrando que há um processo construtivo de possibilidade, um processo de transformação que deveria ser algo prioritário e que a luta de classes seja realizada em outro patamar, nós estamos numa situação de um povo sem destino. Não temos hoje um projeto popular em discussão e nem de luta de classes que se concretize como luta de classe prolongada. Também não temos a formação de consciência política da juventude e militância que possa de fato ir reproduzindo reflexões e tomando seus espaços por processo de emancipação. E acho que isso é um perigo porque nós vamos reduzindo o conteúdo das mensagens por conta disso, nos adequando, temos que nos conformar com o que a sociedade opera, o que é presente na opinião pública. Não se critica e passamos a nós adaptar, a adaptar o conteúdo. Você acaba tendo que se colocar num estágio que não ofende as estruturas e a ordem e numa situação de defender, por fim, somente a subsistência. Isso acaba por constituir negociações que favorecem, inclusive, o governo. E nessa situação estamos perdendo imensamente o tempo, as possibilidades de reação, a confiança da sociedade na medida em que não há percepção dessa sociedade que essa força está reagindo. Dessa forma, as pessoas desacreditam ou passam a criticar as ações desse movimento ou as decisões que são tomadas. Vivemos uma crise de organizações, pois estamos com entidades velhas que serviram para década de 80 e 90 e que foram criadas para fazer a luta reivindicatória daquilo que se acumulava à época. A partir dos anos 2000, tivemos um processo de acomodação e essas entidades passaram a acreditar que tudo o que foi feito anteriormente foi para se chegar ao governo. Assim, as entidades não se renovaram e acabaram não permitindo a renovação de outras entidades nesse processo, encerrando sua trajetória.

Por Tatiana Lima
Fonte: NPC 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mundo possui 35,8 milhões de escravos modernos, aponta estudo

 Relatório da da fundação internacional Walk Free destaca que populações vulneráveis, em sua maioria mulheres e crianças, aceitam a exploração por ser a única forma de sobrevivência

 
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Populações vulneráveis, em sua maioria mulheres e crianças, aceitam a exploração por absoluta falta de opções de sobrevivência
Brasília – Dados inéditos da fundação internacional Walk Free revelam que cerca de 35,8 milhões de pessoas são mantidas em situação de escravidão no mundo. O relatório de 2014 da organização ainda será lançado no dia 18 de novembro e a versão em português será apresentada em 1º de dezembro, no Rio de Janeiro, durante a entrega do Prêmio João Canuto, de direitos humanos.
Representante da Walk Free no país, Diana Maggiore, conta que o número de pessoas escravizadas hoje cresceu 20%, em relação aos 29,8 milhões de pessoas apontadas no The Global Slavery Index 2013, o primeiro relatório da organização.
Segundo a Walk Free, no Brasil há cerca de 220 mil pessoas trabalhando como escravos. Maggiore explicou que, em 2013, pela primeira vez, o número de pessoas resgatadas de situações de escravidão no setor urbano foi maior que no setor rural no país. “Por causa dos eventos esportivos, tivemos muitos registros na construção civil e a tendência deve continuar até as Olimpíadas. O Brasil está crescendo, daqui a alguns anos pode ser diferente”, disse.
Entre as formas de escravidão estão o tráfico de pessoas, o trabalho infantil, a exploração sexual, o recrutamento de pessoas para conflitos armados e o trabalho forçado em condições degradantes, com extensas jornadas, sob coerção, violência, ameaça ou dívida fraudulenta. Os últimos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 2012,  apontam que quase 21 milhões de crianças e adultos estão presos em regimes de escravidão em todo o mundo.
O maior número de trabalhadores forçados, segundo a OIT, está na Ásia e região do Pacífico, com 11,7 milhões de pessoas nessas condições. No último dia 23 de outubro, Sandra Miranda, de Brasília, recebeu uma encomenda do site chinês AliExpress com um pedido de socorro: “I slave. Help me [Sou escravo, ajude-me]”. A filha da advogada colocou a foto da mensagem nas redes sociais e já teve mais de 15 mil compartilhamentos. “Fiquei perplexa, pensei até que fosse brincadeira, mas o pacote estava muito bem fechado, então veio mesmo de quem embalou”, disse.
“A alegação feita contra um dos vendedores da plataforma AliExpress está sendo investigada”, respondeu a empresa do Grupo Alibaba. Segundo Sandra Miranda, um representante da empresa entrou em contato e explicou que o site apenas revende os produtos que já chegam embalados de diversas fábricas e que precisaria rastrear de qual vendedor veio o seu produto.
A Embaixada da China no Brasil respondeu dizendo que o país asiático tem leis que proíbem rigorosamente o trabalho escravo e um órgão que atua para sua erradicação, similar ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no Brasil. Sobre o pedido de socorro no pacote de Sandra Miranda, não há solução, segundo a embaixada, já que no bilhete não havia nome, nem nada que pudesse levar à identificação da vítima.
A mensagem, entretanto, chamou atenção para a situação dos trabalhadores daquele país. Segundo o coordenador Nacional do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da OIT no Brasil, Luiz Machado, já houve outras mensagens semelhantes, não só no Brasil, e mostra um problema grave que deve ser endereçado às autoridades chinesas.
Machado explica que, independente da China não ter ratificado as convenções sobre trabalho escravo da organização, a OIT lançou em 1998 a Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, que prega a erradicação do trabalho escravo e infantil, a não discriminação no trabalho e a liberdade sindical. “A China fez avanços e vem trabalhando melhor a regulação da relação de trabalho, coisa que nem existia por lá. A OIT tem escritório no país e projetos de cooperação técnica na área, ela [China] vem se abrindo a aceitar essa cooperação, aceitar observar os direitos humanos”, explicou.
Segundo Machado, o perfil de trabalhadores escravizados na Ásia não é muito diferente de outros lugares do mundo. São pessoas pobres, a maioria mulheres e crianças, por serem mais vulneráveis, que geralmente migram do seu local de origem, dentro do próprio país ou não, por conta própria ou forçados, e sem educação formal aceitam qualquer proposta de trabalho; podem ser enganadas ou ter a liberdade cerceada e acabam aceitando a exploração por ser a única forma de ganhar um pouco de dinheiro ou comida.
O coordenador da OIT explica que qualquer governo que tenha relações comerciais com outro país e que perceba que, no processo de fabricação de seus produtos, há a utilização de trabalho escravo, pode impor condições para sua comercialização, assim como faz o setor privado.
“Temos o caso clássico de Myanmar, que sofreu condenação na OIT e sanções econômicas por causa da exploração de trabalho forçado. Existem casos mais específicos de empresas privadas, como o embargo da indústria automotiva ao aço brasileiro. Em determinado momento, descobriu-se que o carvão utilizado em siderúrgicas vinha de trabalho escravo e infantil e do desmatamento ilegal. As pessoas começaram a dar mais atenção a toda a cadeia de valor”, contou Machado. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil não mantém acordos bilaterais de combate ao trabalho escravo nem impõe sanções unilaterais a outros países por questões sociais. “O Brasil defende que eventuais sanções sejam determinadas por órgãos multilaterais como o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na área de combate internacional ao trabalho escravo, o país participou neste ano, em Genebra, da elaboração do novo protocolo da Convenção da OIT sobre trabalho escravo. O governo brasileiro deverá ser um dos primeiros países a ratificá-lo”, disse o Itamaraty, em nota.
Segundo Machado, o Brasil é um dos pouquíssimos países que tem estrutura específica de combate ao trabalho escravo, que são os grupos de fiscalização móvel do MTE, em parceria com a Polícia Federal. De 1995 até 2013, quase 47 mil vítimas foram resgatadas da situação de escravidão no Brasil, entre brasileiros e estrangeiros. Historicamente, os setores agropecuário e sucroalcooleiro são os que mais aparecem na lista suja do trabalho escravo, mas a construção civil e a moda vêm ganhando destaque.
Para o coordenador da OIT no Brasil, o país deve se preparar para enfrentar a questão da imigração, já que cada vez mais latino-americanos, africanos e asiáticos estão vindo em busca de trabalho. “Não há um processo ainda desburocratizado para apoiar o trabalhador migrante. O Estatuto do Estrangeiro, de 1980, tem que ser revisado e adequado ao novo cenário global de fronteiras”, argumentou Machado.

 por Andreia Verdélio, da Agência Brasil 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

‘Há muito pouco que se esperar do próximo governo’

Enquanto o país vai se recompondo da febre eleitoral que transformou a disputa entre Dilma e Aécio numa rinha na qual os grandes e urgentes temas nacionais brilharam pela ausência, começa-se a tecer análises do que vem pela frente. Enquanto os movimentos progressistas alimentam a esperança de um mandato mais à esquerda de Dilma, o mercado e seus porta-vozes também já marcam suas posições e exigências.

“O resultado deste domingo foi muito marcante, a ponto de fazer necessário mobilizar todas as forças de esquerda para impedir a vitória de uma direita que dessa vez se apresentou de maneira muito mais explícita, com uma roupagem conservadora não apenas socialmente, mas também economicamente”, disse a historiadora e professora da Universidade Federal Fluminense Virginia Fontes, em entrevista ao Correio.

Para ela, o clima não ajuda em nada a clarear o que está em jogo e quais as tendências da chamada “realpolitik”. Em sua visão, o fanatismo de ocasião, de lado a lado, “gerou uma mobilização de variadas forças de esquerda, o que obscurece o fato de que o governo anterior da Dilma não realizou políticas de esquerda e a expectativa, agora, é de que tampouco realize, de modo a atribuir maior protagonismo às forças populares”.

Apesar do pessimismo, que também se ancora na configuração de um congresso repleto de ranços conservadores, até extremados, Virginia pensa que o próximo período reserva campo aberto para diversas lutas, independentemente de uma maior unidade das forças e pautas à esquerda do debate público.

“Não vejo ambiente propício para as lutas. Acredito que os movimentos terão de retomar sua agenda de forma muito firme, exatamente por conta desse cenário bastante adverso. Se não o fizerem de maneira firme, correm risco de serem atropelados pelos movimentos de massa, que devem vir, apesar de não ser possível prever precisamente”, analisou.

A entrevista completa com Virginia Fontes pode ser lida a seguir.


Correio da Cidadania: Primeiramente, como você analisa a vitória de Dilma neste domingo, com a margem de votos mais estreita dos últimos tempos?

Virginia Fontes: O resultado deste domingo foi muito marcante, a ponto de fazer necessário mobilizar todas as forças de esquerda para impedir a vitória de uma direita que dessa vez se apresentou de maneira muito mais explícita, com uma roupagem conservadora não apenas socialmente, mas também economicamente. Tivemos o perfil de uma direita organizada de forma muito dura, homofóbica, com toda a característica de um anticomunismo primário, que grassou no Brasil há muito tempo, de forma peculiar.

Isso gerou uma mobilização de variadas forças de esquerda para barrá-la, o que obscurece o fato de que o governo anterior da Dilma não realizou políticas de esquerda. E a expectativa, agora, é de que tampouco as realize, de modo a atribuir maior protagonismo às forças populares.

Portanto, a conjuntura das eleições é muito incômoda, porque de alguma maneira obscurece para as grandes massas as condições reais nas quais se dão nossas lutas, além de esconder as possibilidades e exigências reais de organização que temos pela frente.

Faço uma constatação muito amarga do processo eleitoral, Inclusive, aqui no Rio, fiquei muito impressionada, pois até a última semana era como se nada acontecesse. Já na última semana, alguns bairros tiveram mobilização, mas ainda era como se nada acontecesse, apenas mais um fenômeno burocrático de ir votar.

É um resultado incômodo.

Correio da Cidadania: O que podemos esperar ainda do quarto mandato petista no Planalto, ao olhar para a nova configuração do Congresso e para a atual conjuntura econômica nacional e internacional?

Virginia Fontes: É uma análise para ser feita com calma. Em primeiro lugar, durante a campanha, praticamente todos os candidatos do que considero alas direita e esquerda do capital – uma coisa é ser socialista e se propor transformador, revolucionário, outra é orbitar em torno do capital, como o PT – admitiram que fariam ajustes, mais ou menos rápidos, mais ou menos intensos. Mas todos os candidatos sempre falaram em fazer o ajuste.

Foi uma discussão de cunho técnico e bastante despolitizada, uma vez que não se explicou como se fariam tais ajustes e o que significam. Mas quer dizer que pressões de grandes capitais – de origens diversas – exigem maiores ganhos, o que significa reter ou diminuir conquistas dos setores populares e dos trabalhadores. Esse compromisso estava claro em todos os quadrantes dos partidos que orbitam em torno do capital.

O Congresso ainda mais reacionário significa que a mobilização popular, que num governo supostamente de esquerda deveria ocorrer, não aconteceu. O terreno das eleições proporcionais, importantes por serem mais próximas da vida do eleitor, continua entregue aos grandes grupos controladores de grandes máquinas, aliados de proprietários de sistemas de comunicação de grande escala, e que demarcaram as posições de ingresso no Congresso.

Sobrou, apenas, algum espaço de manifestação nas eleições majoritárias, com alguma dose de inquietação social. Isso é muito grave. É sintoma do que houve nos últimos anos, isto é, um desengajamento das causas populares e da militância efetivamente socialista, comprometida com processos de transformação substantiva, resultando em um parlamento muito marcado pela direita. Ficou um espaço socialmente mais conservador, para além de economicamente – pois neste caso os dois grupos são conservadores. Porém, a diferença de agora é uma base mais homofóbica, visceralmente anticomunista, sem nenhuma tolerância e grosseiramente reacionária.

Desse ponto de vista, o que esperar do próximo governo, sendo que o anterior já se viu completamente aprisionado pelo jogo politiqueiro? Muito pouco. Para uma esquerda revolucionária, socialmente comprometida com transformações (em suma, anticapitalista), cada dia mais terão de se reorganizar forças populares e fechar uma pauta clara em comum, capaz de enfrentar o legislativo e o executivo.

Correio da Cidadania: Faz algum sentido os setores e partidos que se colocam à esquerda do PT, muitos dos quais apoiaram o voto crítico em Dilma no segundo turno, esperarem uma guinada à esquerda do partido e alguma possibilidade de parcerias políticas?

Virginia Fontes: Pessoalmente, não vejo muita possibilidade. É difícil explicar, mas o que acontece? Os processos eleitorais supõem o PT de esquerda, os outros de direita, e falsificam o jogo anterior, porque na verdade são esquerda e direita em torno do capital. Essa discussão não é explicitada. É como se apagassem o nervo pra discutir o epidérmico. Nesse processo, é como se reafirmássemos que a característica atual do PT é a sua característica ideal. Praticamente se reafirma que ser a esquerda do capital é o melhor papel do PT.

Dentro de tal ponto de vista, tenho muito pouca expectativa de que uma guinada ocorra. Seria muito bom, mas a expectativa, para mim, não existe. Os partidos que se mantêm na linha anticapitalista precisam definir um programa em comum. A ideia não é se unificarem, mas precisam de uma pauta de luta comum e clara. É o trabalho a ser feito e não é instantâneo.

Correio da Cidadania: Diante disso, como ficarão as pautas associadas aos movimentos populares e progressistas nesse próximo período?

Virginia Fontes: Tenho bastante expectativa nesse terreno, porque tais pautas não foram cumpridas pelos governos precedentes: reforma agrária; reforma educacional de fato, de base popular, com educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada; reforma universitária ampla, capaz de desprivatizar e desmercantilizar a vida; reforma e mobilidade urbanas...

Essas ideias estão muito vivas na população e nos movimentos sociais. Acredito que as lutas em torno de tais pautas serão retomadas, até porque são pautas absolutamente irrealizáveis no âmbito do capitalismo no mundo contemporâneo.

Eventualmente, essas lutas já foram superadas em alguns países, anos atrás, mas na atualidade vêm sendo crescentemente impossíveis de serem satisfeitas pela ordem dominante. Portanto, o que imagino, e espero, é que os movimentos retomem suas pautas de luta, contra a homofobia, o racismo, pelo transporte, educação, saúde, mobilidade, mesmo que enfrentem limitações provavelmente ainda maiores.

Já vínhamos assistindo o processo de privatização da saúde, da educação, uma sequência de processos de gestão privada de recursos públicos, que precisam dar lucro e, assim, prejudicam diretamente os setores populares. Suponho que os movimentos retomem suas pautas de luta e, de alguma maneira, como já faziam antes, atravessem o ritmo de setores da esquerda do capital que acham que tudo vai bem.

Correio da Cidadania: Acredita que se desenha um tempo propício para novas rebeliões populares, a exemplo das que vimos mais recentemente? Como isso se daria num ambiente institucional mais conservador?

Virginia Fontes: Não acho que está aberto um tempo mais propício para as lutas populares. Acho que serão tempos mais duros. Virão ajustes em favor do capital, que significam mais contrarreformas, redução de direitos sociais e públicos. O segundo ponto é que uma direita conservadora, econômica e socialmente, se reconstituiu nessas eleições, ao menos aparentemente, o que é um problema sério a ser enfrentado. É uma direita socialmente agressiva e com perfil de não dar nenhum espaço para nenhuma conquista sociopolítica.

Não vejo ambiente propício para as lutas. Acredito que os movimentos terão de retomar sua agenda de forma muito firme, exatamente por conta desse cenário bastante adverso. Se não o fizerem de maneira firme, correm risco de serem atropelados pelos movimentos de massa, que devem vir, apesar de não ser possível prever precisamente.

No entanto, como sabemos que as manifestações de 2013 se deram a partir de exigências mais evidentes e concretas da vida dos trabalhadores – transporte, habitação, saúde, educação, que são os temas mais candentes, incluindo a reação à violência estatal –, podemos imaginar que tais pautas estarão recolocadas de forma muito aguda. Mas não porque o ambiente esteja favorável.


Por: Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista. 


domingo, 19 de outubro de 2014

Antipetismo e ódio de classe

A partir das figuras do escravo e do dependente, formou-se entre nós uma massa a quem se nega o estatuto de “gente”


Bastou o resultado do primeiro turno das eleições ser divulgado e, mais uma vez, os insultos aos “nordestinos miseráveis analfabetos” eleitores de Dilma Rousseff pipocaram nas redes sociais. Enquanto isso, na grande imprensa, FHC reproduzia o preconceito em sua versão mais douta e sutil, associando o voto ao PT aos “menos informados” que, por “coincidência”, são os mais pobres.
Na raiz do problema, uma velha tradição brasileira: a ausência de um arcabouço moral universalizado capaz de impor como dever o respeito a todos os seres humanos, em sua dignidade fundamental. Os “nordestinos miseráveis analfabetos” são a versão mais recente do que Jessé Souza chamou de “ralé brasileira”. Ele mostra como, a partir das figuras do escravo e do dependente, formou-se entre nós uma massa a quem se nega o estatuto de “gente”.
No caso em questão, a dignidade desses tipos sociais é duplamente negada. Primeiro, contesta-se o seu direito à manifestação mais superficial de cidadania que é o voto. Eleitores tão desinformados não deveriam votar, está implícito. Mas esta primeira recusa está fundamentada em outra, muito mais profunda, que é a do direito ao reconhecimento social já mencionado.
Ao fim e ao cabo, o que está em jogo é a grita contra a quebra do monopólio de recursos vitais para a reprodução das elites e para a manutenção do tipo obsceno de desigualdade que existe entre nós. Afinal, os governos petistas empreenderam uma política de valorização do salário mínimo e de distribuição de renda, o que fez cair a desigualdade econômica de modo contínuo, embora em ritmo mais lento nos últimos anos. A PEC das domésticas veio colocar mais lenha na fogueira porque, ao regular este tipo de trabalho, atacou o mais claro resquício da escravidão no país, uma relação que não tinha sequer uma jornada estabelecida.
Mas foi sobretudo a democratização do acesso à universidade que feriu os brios das elites nacionais, porque afetou diretamente um dos mecanismos mais importantes para a sua reprodução: o acesso exclusivo ao ensino superior. As novas universidades, a política de cotas, a expansão das vagas convergiram para fazer muitas famílias verem um de seus membros chegar pela primeira vez a este nível de escolaridade.
Para piorar a situação dos preconceituosos, já partir de 2006 as políticas inclusivas do Governo provocaram uma mudança da base eleitoral do PT, das classes médias mais escolarizadas para as classes populares, como mostrou André Singer. Eles acertam quando identificam a composição social do voto petista. Mas seu preconceito não os deixa ver que os pobres tem boas razões para isso, mesmo que o Governo tenha deixado intocados tantos outros monopólios, como o da própria mídia que agora o ataca, e que tenha se paralisado no último mandato em áreas tão importantes como a política cultural.
A corrupção é a cortina de fumaça para muitos – mas não para todos – dos que repudiam o PT neste momento. A trajetória do partido faz os escândalos que o envolvem soarem mais fétidos do que os demais, porque ele começou a conquista do poder pelo legislativo, chamando para si a função de fiscal do executivo, desde a redemocratização. Agora, a pecha de “paladino da ética” é usada contra ele. Mas, todos sabemos (mesmo que a grande mídia e os eleitores do PSDB façam questão de esquecer) que a relação viciada entre o legislativo e o executivo é constitutiva da política brasileira.
Tendo campanhas absurdamente caras, o Brasil vê chegar ao poder partidos comprometidos com grandes empresas e congressistas que votam por interesse, e não por convicção. Entretanto, por que os tantos indignados com a corrupção não defendem a reforma política que podia mudar esse estado de coisas? Porque a moralização do debate é uma forma de evitar sua politização. Politização que, aliás, avançou muito pouco durante o governo petista, o que agora pode lhe custar o Planalto. Os jovens pobres parecem ver suas conquistas como meramente pessoais, cedendo diante da ideia de meritocracia e esquecendo os fatores estruturais e a ausência de políticas públicas que explicam porque as gerações anteriores não tiveram as mesmas oportunidades. Por isso, a onda conservadora pode crescer ainda mais.

Maria Eduarda Mota Rocha é pesquisadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco
  

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sitracarnes inaugura biblioteca sindical

Sitracarnes
inaugura biblioteca sindical
O espaço é destinado ao conhecimento sobre saúde
no ambiente laboral e direitos dos trabalhadores
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Foto: Mariane Kerbes
Na manhã deste sábado, 20 de setembro, o Sitracarnes (Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias de Carnes e Derivados de Chapecó) inaugurou a Biblioteca do Trabalhador “Clair Rogério Testa”.
O espaço é destinado ao conhecimento sobre saúde no ambiente de trabalho, e também sobre os direitos dos trabalhadores. O ato de inauguração contou com a presença de representantes de outros sindicatos e entidades sindicais, entre eles o secretário Regional da UITA, Gerardo Iglesias.
 
Nesta inauguração, também houve o lançamento do livro “Trabalhar e adoecer na agroindústria”, com organização do consultor e pesquisador em saúde do trabalho, médico do trabalho Roberto Ruiz. O livro foi vendido a preço de custo e também está disponível na biblioteca do Sitracarnes.
 
A biblioteca, em homenagem ao trabalhador Clair Rogério Testa, leva o seu nome. Clair sofreu um acidente na fábrica de ração da BRF de Chapecó, e encontra-se em coma desde então.

Sua esposa, Daiana, compareceu à inauguração e agradeceu a homenagem.
 
Foi um acidente na fábrica de ração da BRF de Chapecó. O Clair caiu do elevador do silo de ração, numa altura de 18 metros. Isso aconteceu em 08 de dezembro de 2010, há quase quatro anos.
 
De acordo com o diretor de saúde do Sitracarnes, Gilson Karlink, a biblioteca é um importante espaço de conhecimento para os trabalhadores. Gilson ressalta que o local foi montado com a colaboração da comunidade e de outras entidades, que doaram os livros.

O Sindicato continua aceitando doações de livros sobre saúde do trabalho e direitos do trabalhador, para ampliar o acervo.
Rel-UITA
 
Por:  Mariane Kerbes
 
24 de  setembro  de 2014

domingo, 7 de setembro de 2014

IV Curso Livre Marx-Engels

Pessoal,  está disponibilizado o IV Curso Livre Marx-Engels lançado pela Boitempo Editorial.
São oito aulas , com os principais pensadores marxistas brasileiros, abordando a obra de Marx e Engels mediante temas variados.
Imperdível.



01- Alysson Mascaro | Marx, Engels e a crítica do Estado e do direito
https://www.youtube.com/watch?v=7bM4y9hsJS4&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ
02- Antonio Rago | A crítica do idealismo em Marx e Engels
https://www.youtube.com/watch?v=juhXSI3Jb7k&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ&index=15
03- José Paulo Netto | A atualidade do Manifesto Comunista
https://www.youtube.com/watch?v=fmbMHOOBzwQ&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ&index=14
04- Osvaldo Coggiola | Análises concretas da luta de classes
https://www.youtube.com/watch?v=t5OKnqMM_-Q&index=13&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ
05- Ricardo Antunes | A constituição da classe trabalhadora
https://www.youtube.com/watch?v=sPgLhJA_R98&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ&index=12
06- Mario Duayer | A crítica ontológica do capital
https://www.youtube.com/watch?v=By0zGWl2jMM&index=10&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ
07- Jorge Grespan | A crítica da economia política em Marx
https://www.youtube.com/watch?v=5Xp3UFM3nPc&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ&index=5
08- Ruy Braga | Democracia, trabalho e socialismo em Marx e Engels
https://www.youtube.com/watch?v=Yofxeg-iSjk&index=4&list=UUzwfw0utuEVxc4D6ggXcqiQ


Fonte: BOITEMPO

domingo, 24 de agosto de 2014

O Grande Ausente - Prof Ivo Tonet



 

Maria Bethânia Pedrinha de Aruanda



A intimidade de Maria Bethânia a partir da comemoração de seu aniversário de 60 anos, celebrado durante uma apresentação em Salvador e numa missa em Santo Amaro, sua cidade natal, em 2006.
Lançamento 14 de setembro de 2007 (1h 1min)
Dirigido por Andrucha Waddington

sábado, 9 de agosto de 2014

A História do Racismo e do Escravismo (BBC).



A "História do Racismo" é um documentário produzido e realizado pela British Broadcasting Corporation (BBC) - que aborda o legado deixado pelo racismo e pelo escravismo ao longo dos séculos -,
como parte da comemoração do bicentenário da Lei de Abolição ao Tráfico de Escravos (1807), a BBC 4, dentro da chamada "Abolition Season", exibiu uma série composta por três episódios, independentes entre si, abordando a história e os aspectos do racismo pelo mundo. São eles: "A Cor do Dinheiro", "Impactos Fatais" e "Um Legado Selvagem".

Racismo e Escravismo - Uma mulher custava o preço de dois homens.

A "História do Racismo" é um documentário produzido e realizado pela British Broadcasting Corporation (BBC), que aborda o legado deixado pelo racismo e pelo escravismo ao longo dos séculos

Muitas vezes o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos possam ser considerados paralelos e de mesma raiz, isto é, ocorrem quando um determinado grupo social começa a hostilizar outro por motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento em que o grupo mais poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente, pois o segundo não aceita seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo primeiro. Muitas vezes, com a justificativa da diferença física, que acaba se tornando a base do comportamento racista.

Escravismo: Primeiramente, o escravismo começou na África, quando este país fortaleceu e desenvolveu seus laços comerciais com a Europa principalmente Portugal , cujo foi o país com maior índice de exportação escravista.

Quando o comércio africano expandiu seus produtos com a Europa, surgiu a proposta de exportar negros para trabalhos neste país, visando grandes negócios, os reis africanos da época aceitaram a proposta, e foi quando a escravidão começou. Depois de alguns anos de escravismo, apesar da África ter conseguido gerar muito capital com estas exportações - e graças a isto o escravo se tornou o principal "item" de exportações e a principal fonte de renda-, o país perdeu muitos habitantes (que haviam virado escravos), ou seja, teve sua densidade demográfica diminuída, além de ter várias famílias e sociedades separadas.

O trabalho escravo era a base de torturas e um trabalho árduo, onde estes trabalhadores possuíam qualidade de vida precária. Muitos escravos morriam.

Racismo: O racismo é a tendência do pensamento, ou o modo de pensar, em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, atribuindo superioridade a alguns de acordo com a matriz racial.

Como uma ideologia, o racismo existiu durante o século XIX como "racismo científico" (Racialismo), que tentava dar uma classificação racial para a humanidade. Embora tais ideologias racistas tenham sido amplamente desacreditadas após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, o racismo e a discriminação racial permaneceram difundidos em todo o mundo.

A crença da existência de raças superiores e inferiores foram utilizadas muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade e ao complexo de inferioridade, se sentindo, muitos povos, como inferiores aos europeus.

Na África antiga, o racismo era muito presente em relação a convivência do povo africano com outros países, que consideravam a raça negra (africana) inferior a raça branca, o que gerava um preconceito contra os afrodescendentes, que ainda são notados hoje. Assim este preconceito favoreceu o começo do escravismo na África, já que os povos brancos que mantinham contato com o povo africano, acreditavam que a raça inferior (negra) tinha de obedecer a raça superior (branca), e como estes povos brancos estavam necessitando de mão de obra em suas terras, pensaram que era uma boa "jogada" exportar negros para trabalho escravo.

O racismo é um preconceito contra um “grupo racial”, geralmente diferente daquele a que pertence o sujeito, e, como tal, é uma atitude subjetiva gerada por uma sequência de mecanismos sociais.

Um grupo social dominante, seja em aspectos econômicos ou numéricos, sente a necessidade de se distanciar de outro grupo que, por razões históricas, possui tradições ou comportamentos diferentes. A partir daí, esse grupo dominante constrói um mito sobre o outro grupo, que pode ser relacionado à crença de superioridade ou de iniquidade.

Nesse contexto, a falta de análise crítica, a aceitação cega do mito gerado dentro do próprio grupo e a necessidade de continuar ligado ao seu próprio grupo leva à propagação do mito ao longo das gerações. O mito torna-se, a partir de então, parte do “status quo”, fator responsável pela difusão de valores morais como o "certo" e o "errado", o "aceito" e o "não aceito", o "bom" e o "ruim", entre outros. Esses valores são aceitos sem uma análise onto-axiológica do seu fundamento, propagando-se por influência da coerção social e se sustentando pelo pensamento conformista de que "sempre foi assim".

Finalmente, o mecanismo subliminar da aceitação permite mascarar o prejuízo em que se baseia a discriminação, fornecendo bases axiológicas para a sustentação de um algo maior, de posturas mais radicais, como as atitudes violentas e mesmo criminosas contra membros do outro grupo.

Convém ressaltar que o racismo nem sempre ocorre de forma explícita. Além disso, existem casos em que a prática do racismo é sustentada pelo aval dos objetos de preconceito na medida em que também se satiriza racialmente e/ou consente a prática racista, de uma forma geral. Muitas vezes o racismo é consequência de uma educação familiar racista e discriminatória.

O mundo continua um lugar perigoso, desigual e sem um rumo razoavelmente definido. Mas entre os avanços conquistados, diversos estão consolidados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Os quatro primeiros artigos da Declaração dizem o seguinte:

1° - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

2° - Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

3° - Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

4° - Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Um item que ainda está longe de conseguir legitimidade e uma legislação adequada é o combate ao homofobismo e a todas as manifestações de homofobia. Mas em outras áreas houve grandes avanços, embora a civilização humana ainda esteja longe de tratar todos os seus membros de forma justa e igualitária. Porém, existem instrumentos para se combater as discriminações advindas do classismo, escravismo, sexismo, xenofobismo e homofobismo.


cosmosvldc

A Hora dos Fornos 1-2-3

 

Este film está dividido en tres partes: "Neocolonialismo y violencia"; "Acto para la liberación", dividido a su vez en dos grandes momentos "Crónica del peronismo (1945-1955)" y "Crónica de la resistencia (1955-1966)"; "Violencia y liberación".

Esta película recién pudo ser estrenada formalmente en la Argentina en 1973 debido al contexto político de aquella época (pero para entonces ya había ganado varios premios en Europa. En 1989 fue reestrenada y en 2008 reeditada en una versión extendida

 

 Neocolonialismo e Violência - A Hora dos Fornos 1



    
Ações de Libertação - A Hora dos Fornos 2 





 Violência e Emancipação - A Hora dos Fornos 3 



domingo, 3 de agosto de 2014

Dançando com o Diabo

o documentário mostra a complexidade das favelas cariocas na visão de três personagens ligados diretamente ao tráfico: um pastor, um policial e um criminoso.De acordo com o pastor Dione dos Santos, 90% dos jovens que participaram do documentário estão mortos. O filme fala da complexidade e das contradições do crime organizado e da ajuda da religião.Dançando com o Diabo custou 500 mil dólares. A ideia partiu do jornalista inglês Tom Phillips, correspondente do jornal ( The Guardian ). Ele ficou um ano e meio visitando favelas do Rio depois de fazer uma reportagem com Dione. Assim teve acesso a Juarez Mendes da Silva, o Aranha, chefe do tráfico de quinze morros cariocas e que morreu logo depois de participar do filme

Justiça



Justiça, documentário de Maria Augusta Ramos(de 2004), pousa a câmera onde muitos brasileiros jamais puseram os pés - um Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro, acompanhando o cotidiano de alguns personagens.

Retrata-se de forma particular, a rotina do Judiciário e do sistema prisional brasileiro, que, através de imagens imperativas, revelam ao telespectador o retrato frio e cruel da realidade carcerária e processual do nosso sistema penal.

Neste universo, são focados aqueles que de algum modo, direta e indiretamente, compõe o arcabouço da Jurisdição do Brasil, mais precisamente, a jurisdição do Rio de Janeiro. Deste modo, os personagens trazidos pelo filme são as pessoas que trabalham diariamente com o poder judiciário, como promotores, defensores públicos, juízes, e aqueles que estão apenas de passagem, como os réus e seus familiares.

A câmera é utilizada como um instrumento que enxerga o teatro social, as estruturas de poder - ou seja, aquilo que, em geral, nos é invisível. O desenho da sala, os corredores do fórum, a disposição das pessoas, o discurso, os códigos, as posturas - todos os detalhes visuais e sonoros ganham relevância. O espaço, as pessoas e sua organização são registrados de maneira sóbria.

A câmera está sempre posicionada em relação à cena mas não se move dramaticamente, não busca a falsa comoção. Sinal de respeito, de não-exploração. No filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmera registra o que se passa diante dela. Maria Augusta Ramos observa um universo institucional extremamente fechado e que raras vezes é tratado pelo cinema ficcional brasileiro.

Seu filme é tão mais importante em função de nossas limitações em termos de representação dos sistemas judiciais. Em geral, nosso olhar é formado pela visão do cinema americano, os "filmes de tribunal". Justiça, sob esse aspecto, é um choque de realidade.

A cineasta vai acompanhar um pouco mais de perto uma defensora pública, um juiz/professor de direito e um réu. Primeiro, a câmera os flagra no "teatro" da justiça; depois, fora dele, na carceragem da Polinter e na intimidade de suas famílias.

Com suas opções claras, que não são escondidas por sua opção pela sobriedade e pela simplicidade, Maria Augusta Ramos deixa evidente que, como os documentários, a justiça está muito longe de ser isenta. Como e para quem a justiça funciona no Brasil é a questão que se apresenta em seu filme, sem respostas definitivas ou julgamentos preconcebidos.

 

domingo, 27 de julho de 2014

A Ascensão do Dinheiro - Episódio 01 - Sonhos de Avareza (2008)



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"A Ascensão do Dinheiro" é baseado no décimo livro do professor de Harvard, Niall Ferguson, publicado em 2008, onde ele procura explicar a história financeira do mundo, explorando a forma como o nosso complexo sistema financeiro global evoluiu ao longo dos séculos, como o dinheiro moldou o curso das relações humanas e como a mecânica deste sistema econômico funciona para criar uma aparente riqueza sem limites.
Para milhões de pessoas, a recessão gerou uma sede de conhecimento sobre a forma como o sistema económico global realmente funciona, em especial quando tantos especialistas financeiros parecem ter sido igualmente apanhados de surpresa. Em "A Ascensão do Dinheiro", o economista, escritor e historiador Niall Ferguson oferece-nos um vislumbre para estas questões levando os espectadores numa viagem passo a passo pelos marcos da história financeira que criaram este sistema, visitando locais onde ocorreram os principais acontecimentos. Ferguson mantém que a história do dinheiro encontra-se de facto no centro da história humana, com a força econômica a determinar o controlo político, guerras com o intuito de criar riqueza e barões financeiros que influenciam o destino de milhões.

Episódio 02 - http://www.youtube.com/watch?v=ibx-Du...
Episódio 03 - http://www.youtube.com/watch?v=zJDa5n...
Episódio 04 - http://www.youtube.com/watch?v=vUJbCUutJ
Episódio 05 - http://www.youtube.com/watch?v=43aDXI...
Episódio 06 - http://www.youtube.com/watch?v=zaDJ6O...

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