segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Wikileaks, em favor da defesa da Liberdade de imprensa e dos valores fundamentais

Descubra como o Wikileaks tornou-se um dos principais institutos de defesa pela verdade e pela justiça através dos vazamentos de informações secretas. Instalado nos servidores do Pirate Bay, o site está protegido pelas estritas leis suecas que protegem o direito de expressão.
Julian Assage, jovem ativista, que luta pela paz mundial, tornou-se uma das principais dores de cabeça dos EUA. Muitos políticos querem que ele seja preso ou executado, mas o que ele realmente fez de errado foi mostrar os meios imperialistas e desumanos que o país aplica.
O Wikileaks faz o papel que a mídia tradicional não faz justamente por esta estar ligada aos interesses políticos dos setores oligárquicos que ditam as regras mundias.
(docverdade)

Este vídeo, apresentado pela TV estatal sueca (SVT), relata a criação e revela o modo de agir do Wikileaks, esclarecendo em especial como opera sua rede de colaboradores. É permeado por excelentes entrevistas em que o fundador do site, Julian Assange, expõe o que o animou ao projeto.


Para vcs conseguirem ver o filme inteiro eu disponibilizei ele em  04 partes,que irão passar automaticamente sem necessitar de nenhuma a intervenção, para ter acesso a ele basta clicar no linck abaixo:

  O Wikileaks

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pessoas e fatos difíceis de entender

 A mídia privada e dita grande sumiu com o noticiário sobre os documentos liberados pelo site WikiLeaks. Não interessa contrariar os interesses norte-americanos quando essa mídia é parte do que Julian Assange chama de “tentáculos da elite norte-americana”.
É a elite que sustenta essa mídia.
A prisão de Assange é um escândalo, uma flagrante violação da liberdade de expressão. Mas, muito mais que a prisão, o conteúdo dos documentos mostra a verdadeira face dos EUA. Um conglomerado terrorista. Chantagem, extorsão, assassinatos, torturas, estupros, a barbárie com todos os requintes da tecnologia mais avançada possível.
Os documentos vazados e que revelam uma descarada intervenção nos negócios internos do Brasil, por si só, são motivo de interpelação ao governo dos Estados Unidos sobre esse tipo de atividade.
Lobby para se apossar do pré-sal a partir de braços disfarçados em institutos, coisas do gênero, compromisso assumido pelo candidato José Serra de mudar as regras que garantem à Petrobras os direitos sobre o pré-sal (18 trilhões de dólares), negociações para a privatização da Previdência e outros setores do Estado, enfim, aberta e traiçoeira interferência no Brasil em função de interesses colonizadores.
Domar e dominar o País para saquear, regra geral do comportamento dos norte-americanos.
Os documentos mostram que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, negociou com norte-americanos situações de privilégios na sua área, criticou ministros do governo Lula (Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim) e em várias situações telegramas de embaixadores, funcionários outros, os EUA ironizaram e criticaram posições brasileiras em organismos internacionais, a última delas na Conferência de Copenhague sobre meio ambiente.
Motivos mais que suficientes para cobrar uma explicação sobre todas essas atividades de um país que se diz amigo.
Ao contrário, a presidente eleita substitui os ministros apontados como “anti-norte-americanos”, caso de Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim e confirma o agente dos EUA, Nelson Jobim, no Ministério da Defesa. Ato contínuo ao vazamento de documentos ligando Jobim aos norte-americanos, a presidente eleita deixou a poeira passar e, agora, confirma Jobim ministro da Defesa.
De quebra critica o voto do Brasil sobre as sanções propostas contra o Irã na ONU (voto do governo ao qual ela pertenceu e do qual se beneficiou sendo eleita presidente do Brasil).
E para a Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos exuma o cadáver político de Moreira Franco, um político envolvido em escândalos vários, corrupção a torto e direito, para dar e vender.
É difícil entender um trem desses.
Os EUA tem sido pródigos em ações terroristas pelo mundo afora (controlam a maior parte da Europa Ocidental – transformada em bases militares), sustentam uma guerra perdida e suja no Afeganistão, governos corruptos e ligados ao narcotráfico como foi o de Álvaro Uribe na Colômbia e ressuscitam campos de concentração onde colocam “suspeitos de terrorismo”, sem qualquer respeito aos princípios internacionais de direitos humanos, que usam como escudo para jornadas de barbárie e boçalidade.
O grande feito do WikiLeaks está sendo o de mostrar ao mundo a face real dos Estados Unidos. Seus interesses, seus objetivos, principalmente a forma como agem em função desses interesses e objetivos, sem respeito a nada e a ninguém.
Têm presença no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, permeiam o Estado brasileiro através de figuras como Nelson Jobim, deputado Henrique Alves, senador Romero Jucá, senador Eduardo Azeredo e outros invisíveis.
Controlam o comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito e boa parte dos militares brasileiros (um dos documentos revelados pelo WikiLeaks mostra que “os militares latino-americanos são de fácil cooptação”).
Nada acontece, ou ao contrário, Jobim é mantido ministro da Defesa.
Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e envolvido em escândalos no processo de privatizações do governo FHC, do qual foi ministro da Justiça e notório agente de interesses dos EUA no Brasil.
O que Dilma Rousseff talvez não tenha entendido é algo bem simples. Imagine que ao invés de ter sido ungida por Lula como candidata a presidente em torno de um programa e objetivos, tivesse sido candidata a deputada federal no Rio Grande do Sul, onde tem domicílio eleitoral. Teria que brigar voto a voto para ser eleita e não seria uma eleição fácil.
Ao aceitar ser candidata a presidente, sabendo que Lula elegeria um poste (afirmação de Delfim Netto) e sabendo-se um dos postes mais pesados que o presidente poderia ter escolhido, aceitou e, implicitamente, a continuidade das políticas do atual governo.
É mais fácil, no entanto, acomodar-se aos interesses das elites conservadoras e imaginar-se capaz de voo próprio. Não percebe que está sendo engolida antes de tomar posse.
Num plano menor, mas de grande importância, difícil entender a posição do deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), defensor intransigente da posição da bancada ruralista (latifundiários) na questão do Código Florestal. Quer alargar as fronteiras – às custas de nossas florestas – para o agronegócio e o latifúndio, em detrimento da reforma agrária.
A importância da reforma agrária não está só na divisão justa e equitativa da terra. Funde-se a aspectos maiores, à medida que anula o avanço de grandes empresas multinacionais sobre o Brasil não só na agricultura, como na tomada do subsolo rico em minerais estratégicos e fundamentais ao Brasil, se é que o País tem desejo de ter futuro como nação soberana e independente.
Ou o PCdoB mudou e transformou-se em sub-braço das elites que Assange fala, ou Aldo Rebelo está no lugar errado.
Fatos como esse, provocados por atitudes de pessoas que, aparentemente, estão de um lado, ou falam numa direção e agem noutra, são difíceis de compreender, sob qualquer argumento, inclusive o de comer o mingau pelas beiradas para depois alcançar os reais objetivos.
Parece aquela história surrada de meia virgindade. Não existe isso.
Há sim um processo de dolorosas concessões e submissão.
Os EUA devem explicações ao mundo inteiro sobre as práticas terroristas reveladas nos documentos vazados pelo WikiLeaks. E ao que me consta o Brasil faz parte desse “mundo inteiro”.
Neste momento, a crise é aguda, apenas disfarçada pela mídia venal e privada, a tarefa de lutar é dos movimentos sociais (o movimento sindical está falido com raras exceções), dos partidos não comprometidos com esse processo vergonhoso que mantém uma figura repulsiva como Nelson Jobim no Ministério da Defesa (o erro começou com Lula nomeando-o).
A sobrevivência do Brasil e das conquistas alcançadas no governo Lula que permitem entrever uma nova etapa no processo político de avanços em todos os setores não passa pelo institucional, uma espécie de clube de amigos e inimigos cordiais.
Passa pela organização, formação e pressões populares, do contrário vamos mergulhar num retrocesso sem tamanho, pois os primeiros passos de Dilma começam a mostrar um grande equívoco. Ou a esperteza é tanto que escapa ao entendimento de mortais comuns.
Não se pode nem falar em PT, um partido plantado na máquina estatal e com profundas semelhanças com o PSDB (agora refundado por Aécio Neves – é verdade, não é piada não).
É visível isso, Dilma não é Lula. O presidente atual é capaz de malabarismos prodigiosos em cima de seu carisma, seu prestígio, mas a presidente eleita não.
Esperar para ver? Tudo bem, vá lá um crédito de confiança. Mas com Jobim e Moreira Franco? É pouco provável.
Breve nos céus os F-18 fabricados pela Boeing e o Brasil na contramão da história. FHC vai arrancar os poucos cabelos que lhe restam ao perceber que foi eleito presidente num corpo de mulher.
Pode ser que eu esteja enganado, tomara. Mas cada dia parece mais difícil de entender.

Laerte Braga
Diário Liberdade

Documentario sobre a vida do sociólogo florestan fernandes



 “...descobri que o 'grande homem' não é o que se impõe aos outros de cima para baixo, ou através da história; é o homem que estende a mão aos semelhantes e engole a própria amargura para compartilhar a sua condição humana com os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus tupinambá”.

Florestan Fernandes morreu aos 75 anos, em 10 de agosto de 1995, vítima de dois erros médicos no Brasil.

Este documentário, dirigido por Roberto Stefanelli, recebeu em 2004 o prêmio Vladimir Herzog, a mais importante premiação jornalística da área de direitos humanos do país.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quem são os responsáveis?

O Brasil se transformou desde 2007, no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. E na ultima safra as empresas produtoras venderam nada menos do que um bilhão de litros de venenos agrícolas. Isso representa uma media anual de 6 litros por pessoa ou 150 litros por hectare cultivado. Uma vergonha. Um indicador incomparável com a situação de nenhum outro país ou agricultura.
Há um oligopólio de produção por parte de algumas empresas transnacionais que controlam toda a produção e estimulam seu uso, como a Bayer, a Basf, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Shell química etc.
O Brasil possui a terceira maior frota mundial de aviões de pulverização agrícola. Somente esse ano foram treinados 716 novos pilotos. E a pulverização aérea é a mais contaminadora e comprometedora para toda a população.
Há diversos produtos sendo usados no Brasil que já estão proibidos nos países de suas matrizes. A ANVISA conseguiu proibir o uso de um determinado veneno agrícola. Mas as empresas ganharam uma liminar no "neutral poder judiciário" brasileiro, que autorizou a retirada durante o prazo de três anos... e quem será o responsável pelas conseqüências do uso durante esses três anos? Na minha opinião é esse Juiz irresponsável que autorizou na verdade as empresas desovarem seus estoques. Os fazendeiros do agronegócio usam e abusam dos venenos, como única forma que tem de manter sua matriz na base do monocultivo e sem usar mão-de-obra. Um dos venenos mais usados é o secante, que é aplicado no final da safra para matar as próprias plantas e assim eles podem colher com as maquinas num mesmo período. Pois bem esse veneno secante vai para atmosfera e depois retorna com a chuva, democraticamente atingindo toda população inclusive das cidades vizinhas.
O Dr. Vanderley Pignati da Universidade Federal do Mato Grosso tem várias pesquisas comprovando o aumento de aborto, e outras conseqüências na população que vive no ambiente dominado pelos venenos da soja.
Diversos pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e da Universidade federal do Ceara já comprovaram o aumento do câncer, na população brasileira, conseqüência do aumento do uso de agrotóxicos.
A ANVISA -responsável pela vigilância sanitária de nosso país-, detectou e destruiu mais de 500 mil litros de venenos adulterados,somente esse ano, produzido por grandes empresas transnacionais. Ou seja, alem de aumentar o uso do veneno, eles falsificavam a fórmula autorizada, para deixar o veneno mais potente, e assim o agricultor se iludir ainda mais.
O Dr. Nascimento Sakano, consultor de saúde, da insuspeita revista CARAS escreveu em sua coluna, de que ocorrem anualmente ao redor de 20 mil casos de câncer de estomago no Brasil, a maioria conseqüente dos alimentos contaminados, e destes 12 mil vão a óbito.
Tudo isso vem acontecendo todos os dias. E ninguém diz nada. Talvez pelo conluio que existe das grandes empresas com o monopólio dos meios de comunicação. Ao contrário, a propaganda sistemática das empresas fabricantes que tem lucros astronômicos é de que, é impossível produzir sem venenos. Uma grande mentira. A humanidade se reproduziu ao longo de 10 milhões de anos, sem usar venenos. Estamos usando veneno, apenas depois da segunda guerra mundial, para cá, como uma adequação das fabricas de bombas químicas agora, para matar os vegetais e animais. Assim, o poder da Monsanto começou fabricando o Napalm e o agente laranja, usado largamente no Vietnam. E agora suas fabricas produzem o glifosato, que mata ervas, pequenos animais, contamina as águas e vai parar no seu estômago.
Esperamos que na próxima legislatura, com parlamentares mais progressistas e com novo governo, nos estados e a nível federal, consigamos pressão social suficiente, para proibir certos venenos, proibir o uso de aviação agrícola, proibir qualquer propaganda de veneno e responsabilizar as empresas por todas as conseqüências no meio ambiente e na saúde da população.

*João Pedro Stedile

 Economista. Integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina Brasil

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As Incoerências das Passagens

 Mais numa vez na calada da noite,a passagem do transporte coletivo urbano de Pelotas,teve aumento.O aumento das tarifas do transporte coletivo,sempre ocorre no mês de novembro,quando tem as negociações sobre o descidio salarial entre os sindicatos patronal e dos trabalhadores rodoviários.
   Segundo o prefeito Adolfo Fetter( PP),o aumento foi dado para resolver o impasse entre os empresários e rodoviários.
   O aumento de R$ 2,20 para R$ 2,35 um reajuste de R$ 0,15,a data escolhida não seria por melhor coincidência,perto das festas de fim do ano,época em que as escolas estaduais e municipais,as universidades UFPEL,UCPEL, Aranguera e instituições federais como IFSUL,CAVEG,estão em ritmo de férias e nas provas finais,onde não haveria como nos outros anos uma mobilização do movimento estudantil secundarista e universitário.
  Olhando os ônibus urbanos de Pelotas é uma desgraça,cada uma das seis empresas que operam na cidade lotearam os bairros,como se fossem os seus feudos,onde elas mandam.
   Segundo dados da SSTT( Secretaria de Segurança Transporte e Trânsito), 1,9 milhão de pagantes no transporte coletivo,300 mil meias passagens( estudantes),que usam os coletivos.
   Pagamos passagens de capitais,para trajetos curtos em relação à São Paulo R$ 2,70; Rio de Janeiro R$2,40 e estudante não paga;Campo Grande R$ 2,50; Porto Alegre 2,45; Cuiabá R$ 2,30; Palmas R$ 2,20; Goiânia R$ 2,25; Curitiba R$ 2,20 e aos domingos a tarifa é de R$1,00.
  Enquanto isso a tarifa da passagem intermunicipal,entre Pelotas e Capão do Leão em que o trajeto é de 20 quilômetros a passagem é de R$ 2,30 ou Pelotas ao Bairro Jardim América,que são 12 quilômetros do centro de Pelotas é de R$1,85.
  Do fim do Bairro Fragata,ao centro que a distancia é de 6 quilômetros é a média do percurso é feita em 25 minutos,pagamos R$ 2,35 percurso que é menos do que ir do centro de Pelotas ao centro da cidade do Capão do Leão e ao Bairro Jardim América.
  Um usuário que for do bairro Fragata ao bairro Areal pagara duas passagens que dará um total de R$ 4,70.
   Fora o aumento das tarifas a mando do cartel do transporte coletivo,temos uma frota sucateada,ônibus velhos reaproveitados de outras empresas fora do município,intinerarios mal planejados,horários atrasados,alguns veículos com mal cheiro,não adptados para as pessoas obesas,motoristas e cobradores mau educados que não sabem atender o público,alguns horários os aposentados ficam espremidos,assim como grande parte dos usuários destes transportes.São poucos os profissionais e fiscais que atendem bem o povo,com educação.
   Se fala em licitação do transporte coletivo,mas se deve ter cuidado,se o mesmo cartel não vai ficar mandando como sempre fizeram nesta cidade.
  Há campanhas publicitarias que convocam a população a usar mais o tranporte coletivo,do que automoveis.,pois falam que o transporte coletivo é mais barato.
  O cartel arruma mil e uma desculpa para o aumento das tarifas,como manutenção da frota,salário dos funcionários,inflação,de que os aposentados, pessoas portadoras de deficiência não pagam.Se os percursos fossem longos como de uma capital e o usuário tivesse um transporte descente até poderia se justificar,mas não é o que nós usuários vemos na prática.
  Seria bom a abertura da caixa preta do lucro das empresas,fazer as licitações,como havia se proposto a administração popular ,( 2001-2004),em que a máfia e a pelegada do sindicato dos rodoviários,não aceitaram e sabotaram,boicotaram  a administração popular.
  O povo da periferia de Pelotas pagamos caro por um serviço de péssima qualidade,onde alguns locais o ônibus nem passa.Devemos buscar novas alternativas ao abuso das passagens,como o uso de bicicletas, caminhadas, vans,mototaxi,ou fazermos como fizeram os negros do Alabama, ( E.U.A), em Montgomery,após o incidente envolvendo Rosa Parks,boicotar os ônibus, ou as manifestações como as de Santa Maria ( RS), Florianópolis( SC), Salvador ( BA), contra o abuso e incoerência das empresas.
   Queremos sim um transporte de qualidade,diante do valor da passagem em que nós usuários pagamos e transparência nas licitações. É uma incoerência e desrespeito ao usuário o valor das passagens e o transporte em que temos que pagar diariamente.

Por: Júlio Lázaro Torma
 cololaborador deste blog

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Capitalismo em Crise

“Toda a gente repete que esta é a maior crise económica desde a Grande Depressão. Isto é mesmo verdade. Mas este enunciado não clarifica as questões principais. Nada diz aos trabalhadores e à vanguarda da natureza desta crise específica, apenas que ela é má (o que eles já sabem). Meramente reiterando a severidade da crise não diz por que ela é tão má, porque teve de ser assim e qual é o prognóstico - o que está reservado para as massas e, acima de tudo, qual é a saída para esta crise. Se isto é uma crise do sistema burguês então a única saída para os trabalhadores e oprimidos, uma vez que estejam galvanizados para a luta, é a total destruição do capitalismo.”

Por Fred Goldstein

Veja o texto em PDF

sábado, 4 de dezembro de 2010

Leon Hirszman: ABC da Greve, 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de vida.

O filme cobre os acontecimentos na região do ABC paulista, acompanhando a trajetória do movimento de 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de vida. Sem obter êxito em suas reivindicações, decidem-se pela greve, afrontando o governo militar. Este responde com uma intervenção no sindicato da categoria. Mobilizando numeroso contingente policial, o governo inicia uma grande operação de repressão. Sem espaço para realizar suas assembléias, os trabalhadores são acolhidos pela igreja. Passados 45 dias, patrões e empregados chegam a um acordo. Mas o movimento sindical nunca mais foi o mesmo.

Para vcs conseguirem ver o filme inteiro eu disponibilizei ele em 9 partes,que irão passar automaticamente sem necessitar de nenhuma a intervenção, para ter acesso a ele basta clicar no linck abaixo:

 ABC da Greve

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mídia de SC foi “encoleirada” por Eike Batista

  Um adjetivo resume a cobertura dos meios impressos sobre a planejada instalação de um estaleiro na Grande Florianópolis: jornalismo constrangedor


Nos idos de 1998, a atriz Luma de Oliveira provocou polêmica ao desfilar em uma escola de samba com uma coleira na qual estava gravado o nome do então marido, o empresário Eike Batista. Passados 12 anos, quem permaneceu meses a fio – e não apenas uma noite de Carnaval – encoleirada pelo homem mais rico do país foi a mídia catarinense. Um adjetivo resume a cobertura dos meios impressos – aqui analisados de forma mais sistemática na edição de apenas um dia (17/11/2010) - sobre a planejada (e agora aparerentemente cancelada) instalação de um estaleiro na Grande Florianópolis: jornalismo constrangedor.
Uma das regras (há exceções) de nomear um entrevistado nos meios impressos é a seguinte: na primeira menção escreve-se o nome completo; nas seguintes, usa-se o sobrenome. Pois Eike Batista, nos jornais, não é Batista, é Eike. Assim, próximo, quase como se fala com um vizinho, um amigo de longa data. “Eike desiste do estaleiro em SC”, diz o título da reportagem especial publicada pelo carro-chefe dos impressos do Grupo RBS, o Diário Catarinense.
Este Eike Batista vem de uma família há décadas achegada ao poder. O pai, Eliezer Batista, já em 1949 foi contratado pela então estatal Companhia Vale do Rio Doce, na qual tornou-se presidente em 1961. Neste posto manteve-se até 64, assumindo novamente a presidência entre 1979 e 1986, a convite do então general João Figueiredo. Como presidente da Vale pela segunda vez, também foi o responsável pelo Projeto Grande Carajás, que passou a explorar as riquezas da província mineral dos Carajás - uma área de 900.000 km².
Essas relações foram consolidando prestígio e poder. O jornal Brasil de Fato (http://www.brasildefato.com.br/node/289 ) informa que Eike Batista é também o maior magnata de petróleo do país. “Através dos leilões realizados nos campos brasileiros, com auxílio direto de ex-diretores e ex-gerentes da Petrobras, contratados por ele, sua empresa, a OGX, tornou-se o maior grupo privado de exploração marítima do Brasil”. Em termos de áreas de exploração de petróleo em mar, a companhia dele só perde para a Petrobras, da qual Batista tirou e contratou, por salários para lá de vantajosos, diretores e gerentes que teriam acesso a informações privilegiadas sobre áreas de exploração e produção do Brasil e do exterior.

Eike” nos jornais – 17 de novembro
No dia 17 de novembro, a alardeada desistência da instalação do estaleiro teve a seguinte cartola, manchete e linha de apoio no Diário Catarinense, impresso que é o carro-chefe do Grupo RBS no Estado:
OSX bate martelo
Estaleiro não será em Santa Catarina, decide Eike Batista
Dificuldades na liberação de licenças ambientais fizeram com que o empresário decidisse construir o projeto em um complexo portuário do Rio de Janeiro
Nas páginas 4 e 5, a cartola e o título estampavam:
Adeus R$ 2,5 bilhões
Eike desiste do estaleiro em SC
Vale reproduzir a abertura da reportagem:
Os golfinhos venceram, e os moradores das praias do Norte da Ilha não precisam mais se preocupar. O Estaleiro OSX, um empreendimento de mais de R$ 2,5 bilhões e geração de 14 mil empregos, não vão vai ficar em Santa Catarina”.
O texto prossegue e informa que o novo local, no RJ, tem vantagens, em vários aspectos, bem maiores do que em SC. É de se perguntar, portanto, porque o Grupo do bilionário número 1 do país e seus parceiros internacionais insistiam em implantar o empreendimento no entorno de três Unidades de Conservação da Natureza na Grande Florianópolis. Mas a informação mais interessante é a seguinte: “No Rio de Janeiro, o empresário sabe que não terá problemas no futuro. É amigo do governador Sérgio Cabral e já tem muitos investimentos no Estado”. A coluna Informe Econômico, na mesma edição, diz que Biguaçu foi inicialmente escolhida porque Elizer Batista era próximo do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, agora eleito senador por SC. É o que está por trás da velha ladainha empresarial, de que o Estado não deve intervir na iniciativa privada. Antes fosse, porque já não se trata da figura do Estado, e sim das amizades, do compadrio, que definem o futuro de comunidades inteiras.
Ao final do texto principal, lemos o seguinte: “O Grupo EBX anunciou que estuda outros empreendimentos para a propriedade em Biguaçu. O megaterreno já comprado poderá receber algum investimento do grupo. Como Eike sempre disse que não instala empresas onde não se considera bem-vindo, o que vem por aí não deverá chegar nem perto do que viria”.
Há entrevistados que lamentam o fato de o Grupo ter investido em SC, sem que se saiba agora o que será desses supostos investimentos. Digo “supostos” porque um deles, um Jardim Botânico em três locais da Capital, teria consumido R$ 650 mil em projetos. Quais projetos? Quem fez? Para planejar o quê? Não se sabe. O que fica é a impressão de que o Grupo perdeu esse dinheiro. Onde? Para quem?
O jornal Hora de Santa Catarina, também do Grupo RBS, no mesmo dia traz um destaque de capa: “Biguaçu não terá estaleiro da OSX”
Na matéria da página 4, intitulada “Biguaçu sem ESTALEIRO”, o texto – resumido ao extremo - tem a mesma abertura risível do DC, resumindo o debate à proteção dos golfinhos e dos moradores do norte da Ilha.
No Jornal de Santa Catarina, igualmente do Grupo, com circulação na região de Blumenau, o título na página 9 foi esse: “OSX. Estaleiro de Eike vai para o Rio.” O texto, menor do que o estampado no DC, começa com a mesma abertura já mencionada. É prática do Grupo usar o texto de um mesmo jornalista nos vários impressos que circulam no Estado.
O Notícias do Dia, do Grupo Ric/Record, circulou com a seguinte manchete: “Biguaçu perde o estaleiro para o Rio”. O jornal escolheu a página 3 para divulgar a decisão: “Rio de Janeiro fica com o ESTALEIRO”. No texto principal, a sempre mencionada criação de 4 mil empregos diretos e 4 mil indiretos e a informação, entre outras, de que o Grupo doaria R$ 20 milhões para a criação do Jardim Botânico de Florianópolis.
Guardei uma edição do ND, de 5 e 6 de junho de 2010, na qual havia um encarte especial sobre Meio Ambiente (em referência do dia 5), e o que me chamou a atenção foi o fato de a página 8 estampar o título “Estaleiro terá tecnologia e sustentabilidade” e a linha de apoio “Projeto da OSX segue padrões mais avançados para esse tipo de empreendimento”. O texto parece saído diretamente do setor de marketing do Grupo, mas em nenhum momento o ND deixa isso claro, o que, nos meios de comunicação, se faz com inserção da expressão “Informe Publicitário”. Isso informa o leitor de que não se trata de texto jornalístico.

O dia seguinte
O DC de 18 de novembro estampou, na capa, o seguinte:
O que sobrou do Estaleiro
Os novos planos que Eike Batista tem para o Estado
Direção da EBX diz que empresa pode instalar quatro outros projetos, entre eles, um hotel-marina, no mesmo local em Biguaçu.
No texto da página 6, intitulado “A Herança de Eike: o que ainda pode vir para o Estado”, há a informação de que, das sete empresas que formam o Grupo, uma está confirmada para atuar em SC, a REX, do setor imobiliário. Nada que impressione, dado que o prefeito de Biguaçu é ligado ao grupo Deschamps, de emprendimentos imobiliários.
Vale mencionar que, ainda no dia 6 de novembro, o Grupo RBS assim tratou uma manifestação contra a instalação do Estaleiro: “Elite de Jurerê Internacional se une contra Estaleiro OSX”, com o seguinte início de texto: “A briga é de cachorro grande. Os ricos de Jurerê Internacional decidiram apoiar ambientalistas e pescadores contrários ao Estaleiro OSX em Biguaçu, na Grande Florianópolis”.
Mas é certo que a visão do Grupo que traz a marca do oligopólio da comunicação no Estado apareceu bem antes, em 6 de junho de 2010, na página 14, dedicada aos “Grandes Temas”, No caso em questão, tratava-se do “Sim ao Desenvolvimento”. Do editorial extraio os seguintes trechos sobre o Estaleiro:
Esse empreendimento, que em qualquer sítio do mundo despertaria o júbilo do equilíbrio e da maioridade financeira, um pecúlio para as gerações do porvir, em Santa Catarina se vê ameaçado por uma ótica de viés obscurantista, que prevê, liminarmente, a impossibilidade de blindagem ecológica capaz de proteger o meio ambiente da região escolhida.
Claras manifestações de má vontade – de vezo nitidamente ideológico e de aversão ao investimento - irrompem em instituições engajadas, que ingressam na jurisdição técnica da Fatma, órgão estadual qualificado para examinar com rigor científico e isenção as condições oferecidas pela OSX em seu relatório de impacto na área de implantação do estaleiro, ora em análise pela autoridade ambiental de Santa Catarina (grifos meus, para lembrar que a Fatma também foi elencada na até hoje mal-explicada Operação Moeda Verde).
[...]
Há no ar uma certa “ecoteocracia” temperada por um verdismo desmedido e insensato, entre a queda do Império Romano e a ascensão de Carlos Magno, em que a unidade básica da sociedade era a pequena aldeia agrícola. A única maneira de os homens estarem em harmonia com a natureza seria viverem “em nível de subsistência”.
No dia 8 de junho, leio no mesmo DC, com a cartola “26 anos depois”, o título “Oito são condenados por desastre na Índia” acompanhado de matéria de Agência. Os acusados, hoje na faixa dos 70 anos, tiveram penas de até dois anos de prisão. Eles pagaram fiança e vão esperar em liberdade o resultado de um recurso. Foi a primeira condenação desde o acidente, em 1984, quando um vazamento em uma subsidiária da Union Carbide matou cerca de 25 mil pessoas em Bophal, na Índia. Mas quem quer saber desses mortos? Sim ao Desenvolvimento!!!
Recentemente a mídia noticiou que a “...OSX, empresa do setor naval e de equipamentos para a indústria de petróleo do empresário Eike Batista, quer financiamento do Fundo de Marinha Mercante e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção do seu estaleiro no litoral norte do Rio. O investimento total do estaleiro, que, segundo a empresa, será o maior das Américas, é estimado em US$ 1,7 bilhão”.
Em seu livro “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal” (Record, 2001), o geógrafo Milton Santos diz o seguinte (p.35): “A associação entre a tirania do dinheiro e a tirania da informação conduz, desse modo, à aceleração dos processos hegemônicos, legitimados pelo “pensamento único”, enquanto os demais processos acabam por ser deglutidos ou se adaptam passiva ou ativamente, tornando-se hegemonizados”.
Acene-se com 14 mil empregos diretos e indiretos (quais, onde, por quanto tempo?) - e com um Grupo de Mídia a serviço dessa lógica - e temos instalado o “pensamento único”. Quem dele destoa é refém de uma “ótica de viés obscurantista”.
No mesmo livro, Milton alerta para a morte da política com P maiúsculo, “...já que a condução do processo político passa a ser atributo das grandes empresas (p.60)”. E as grandes empresas, como se viu no caso de “Eike”, são sempre grandes amigas dos políticos. E assim elas chantageiam, ameaçam ir embora, sempre com o discurso de que são “salvadoras dos lugares (p.68)”, como diz Milton, estabelecendo guerras fiscais entre um estado e outro da federação.

Nós e eles”
O episódio da instalação do estaleiro escancarou quem, em Florianópolis, são os “nós” e os “eles”, que claramente se identifica nos conflitos na cidade.
Vale a pena relembrar um caso exemplar, a instalação de um empreendimento empresarial turístico (campo de golfe) no balneário de Ingleses, em Florianópolis. Próximo ao empreendimento mencionado há uma comunidade, a Vila do Arvoredo, também conhecida como Favela do Siri, que começou a se formar nos anos 1980. No embate travado para a instalação do campo de golfe, é ilustrativo o conjunto de comentários feitos pelo então governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, em entrevista concedida à TVBV em abril de 2007, na qual há 17 minutos referentes à temática ambiental. Ver em http://video.google.com/videoplay?docid=-8286208201407673708#
Nela o governador Luiz Henrique da Silveira menciona o assunto (1), quando questionado sobre a reclamação dos empresários em relação à “burocracia” e a “dureza” das leis ambientais:
1- Eu acho que nós vamos ultrapassar esse período negro, que não é possível que nós não possamos ter em uma ilha como essa, maravilhosa, certo, marinas para receber turistas estrangeiros com muito dinheiro que venham gastar aqui e gerar emprego. Que nós não consigamos fazer um campo de golfe, meu deus do céu. Em Marbela, você viu, tem 50 campos de golfe e por isso aquela vila pobres de pescadores foi transformada num dos maiores pólos milionários de turismo. Então nós precisamos ter uma evolução. O que as pessoas têm que ter em mente é que uma marina não polui. Nós vimos lá em Marbela, dentro da marina, a profusão de peixes que havia. Pelo contrário, ela desenvolve, ela embeleza. Ela traz um novo dinamismo para as cidades. Então nós temos que superar isso, estamos com um grave problema, eu vou dizer aqui especialmente para os florianopolitanos [...].
No trecho seguinte (2), o governador classifica de “medievalismo” a posição do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em relação às licenças ambientais e diz que é preciso descentralizar as decisões relativas às políticas de meio ambiente:
2 - Quem sabe cuidar mais de Florianópolis é o florianopolitano. É a Prefeitura, é o vereador. Quem sabe cuidar mais do meio ambiente do estado é o Governo do Estado, são os deputados estaduais. Então é preciso acabar com essa burrocracia [com dois erres na pronúncia] em que dois ou três técnicos lá em Brasília, longe da realidade, decidem as coisas, ou não decidem, porque um monte de processo, uma montoeira de processo não lhes dá tempo nem de examinar os processos.
Um dos apresentadores pergunta então se não é necessário haver controle em relação a isso, porque a natureza estaria “dando resposta” às ações humanas, ao que o governador questiona (3):
3 - E agora você me diz: e a favela do Siri, ali? Do lado do campo de golfe que não querem deixar o Fernando Marcondes [de Mattos, empresário] fazer? Por que não se proíbe a proliferação de favelas, que joga - me permita a expressão irada - cocô para a praia para provocar doenças nas nossas crianças? Por que não se atua nisso aí para impedir? Né? Por que não se atua nisso aí para impedir? A favela pode poluir a praia. Agora, um resort, um hotel, um campo de golfe, para atrair turista e gerar emprego e renda não pode.
Do ponto de vista discursivo, evidencia-se, na fala do governador, uma série de indícios que apontam para diferentes sujeitos sociais: “não querem deixar (...) fazer” (quem?); “nossas crianças” (quais?); “por que não se atua (...)” (quem?). No trecho 2, ele deixa explícitos, porém, os sujeitos sociais que seriam os mais capacitados para “cuidar” do “meio ambiente” do estado. E no trecho 1 está sinalizado o exemplo da “evolução”, o balneário de Marbella, na Costa do Sol, Espanha, totalmente descaracterizado pela especulação imobiliária estimulada pela corrupção.
Essas considerações nos levam a crer que a implosão desse modelo de jornalismo constrangedor, insustentável, é o desafio e o fardo do tempo histórico imposto aos jornalistas no Sul do mundo, expressão que retiro de livro de István Mészáros “O desafio e o fardo do tempo histórico: o socialismo no século XXI (Boitempo, 2007). Milton Santos acreditava que a mídia, sob a pressão das situações locais, deixaria de representar o senso comum imposto pelo pensamento único. Então, como dizia Fox Mulder, eu também quero acreditar. Acreditar em uma mídia sem coleiras com a tirania do dinheiro e da informação.

Míriam Santini de Abreu é jornalista.

Para além do "bem contra o mal"

A onda de violência sistemática deflagrada na região metropolitana do Rio de Janeiro, a partir do dia 21 de novembro de 2010, exige uma leitura crítica diferente da abordagem feita por uma parte considerável dos principais veículos midiáticos de circulação e nacional. Mais uma vez, tais veículos se orientam pela espetacularização dos eventos que assustam a população; numa análise de tabula rasa, constroem uma narrativa mitificadora – “a luta do bem contra o mal”; anunciam o início de uma guerra e colocam as ações dos agentes criminosos, ligados ao tráfico de drogas, como atos terroristas comparáveis aos perpetrados por organizações com propósitos político-ideológicos. Um noticiário que contribui para uma comoção geral, em que todas as medidas possíveis, inclusive aquelas executadas ao arrepio da lei, possam alcançar o controle da situação e restabelecer a paz em toda a metrópole, apostando na economia política do medo, capturando o apoio da maioria da população.
 
Os fatos, que já produziram 46 mortes, entre elas as de crianças e idosos,  estabelecem inúmeras conexões com componentes que violam o estado de direito e tudo que possa assegurar a cidadania plena. São fatos que, sem ignorar a importância de medidas imediatas de coerção e outras que visem o aparelhamento e qualificação da polícia, servem para evidenciar e problematizar um evento que não cabe em um padrão de análise dicotômico. Portanto, destacamos três questões que estabelecem relações entre si, entendidas em um cenário de conjugação de políticas de segurança e de políticas de urbanismo, conformando uma espécie de estratégia de controle geral da cidade, em que o Estado, na condição de aparato regulador, tem desempenhado o papel de administrar a separação social entre asfalto e favela e ditar os limites da convivência possível no contexto da desigualdade. (BOCAYUVA, Pedro Cláudio Cunca. Os riscos da comunidade capturada versus a plataforma da “favelania”. Revista Otra Economía. Volumen III – nº 5 – 2º semestre /2009 – ISSN 1851-4715.
 
A primeira é a de que a onda de violência demonstra os limites das ações do governo do estado no campo da segurança pública. O esgotamento do discurso da “política do enfrentamento”, da “política de guerra” perante os mais diversos setores da sociedade acabou por propiciar a legitimação do atual discurso de pacificação, consolidando a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs. A implementação das UPPs tornou-se o símbolo daquilo que elas não são – uma política pública de segurança. De fato, as UPPs foram capazes de reduzir significativamente a exposição de moradores à letalidade do confronto entre policiais e agentes do tráfico. As UPPs, no entanto, estão longe de ser uma política de segurança pública. Sem contar com os problemas que acompanham a sua presença no território - ações invasivas dos policiais dirigidas aos moradores; agentes policiais ocupando o espaço de agentes e organizações sociais nos processos de pressão e mediação para garantir determinados bens e serviços públicos, entre outras questões.
 
A segunda é a reconfiguração da relação entre os agentes públicos corruptos do estado, muitos da polícia, com os traficantes de drogas que atuam nos pontos de vendas- pagamento de propina, pacto entre grupos de policiais com organizações de traficantes rivais, aluguel de armas, facilitações para o comércio das drogas ilícitas, ações de contra-informações ou vazamento de informações aos grupos criminosos etc. Tudo indica que estão em curso mudanças na base dessa relação. À medida em que se expandem as UPPs e as milícias, com inserção e forte delimitação territorial, a relação entre a parte da polícia corrupta e o tráfico de drogas, com a sua clássica estrutura, vai perdendo espaço. Dois artigos ajudam a elucidar esse ponto, que podem ser encontrados em (http://luizeduardosoares.blogspot.com/) e (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/violencia-no-rio-a-farsa-e-a-geopolitica-do-crime).
 
A terceira questão se relaciona diretamente com a anterior. Refere-se ao intenso processo de mercantilização das principais metrópoles brasileiras. Um processo que tem como pano de fundo um modelo de desenvolvimento urbano perverso, com fortes componentes classistas que reforçam a segregação socioterritorial, que apartam os mais pobres e negros da dinâmica socioeconômica e cultural da cidade. Combinado com o apelo dos megaeventos esportivos, especialmente para a cidade do Rio de Janeiro que sediará as Olimpíadas em 2016, a metrópole fluminense passa por intensas mudanças, ao tornar-se o espaço privilegiado para o ingresso de investimentos do grande capital, que busca ampliar a sua lucratividade.
 
Mas para o sucesso dessa investida capitalista, são necessárias intervenções que gerem impacto no tecido urbano, tanto em sua dimensão material quanto simbólica. As intervenções materiais são aquelas feitas com vultosos recursos públicos para a realização de obras e intervenções de infraestrutura urbana – reforma do Maracanã, Veículo Leve sobre Trilho, Porto Maravilha, linha de metrô para a Barra da Tijuca, ampliação da rede hoteleira, teleférico do Complexo do Alemão, alargamento de vias rodoviárias, remoções de famílias para áreas distantes do centro da cidade.  A dimensão simbólica, permeada pelo forte apelo emocional que tais eventos provocam - paixão pela seleção nacional, patriotismo, orgulho coletivo, coesão em torno do mesmo propósito etc, cria uma atmosfera ideológica propícia a eliminar ou mitigar qualquer componente que ameace o bem estar dos grandes investidores, ávidos por mais lucros. É bom frisar que esses investimentos com recursos públicos, e todas as suas vantagens, tendem a ser apropriados por corporações privadas. A história dos grandes eventos esportivos demonstra isso. Foi assim no Canadá, na Grécia, na Espanha e no Panamericano, em 2007, na própria cidade do Rio de Janeiro (ver artigo da revista Proposta nº 120).   
 
A dimensão simbólica é alimentada com narrativas produzidas pela mídia, com propagandas governamentais, ações concretas governamentais e da iniciativa privada com provisão de equipamentos culturais, eventos artísticos, festivais musicais, estetetização de espaços públicos e ações objetivas que impactam diretamente a vida das pessoas e visam assegurar um ambiente harmônico, sem conflitos de interesse, inclusive entre os grupos sociais que ocupam diferentes espaços da metrópole. E os episódios atuais com as medidas implantadas pelo governo do Rio de Janeiro, para conter a onda de violência, é mais uma das medidas com impacto na dimensão simbólica da região metropolitana fluminense.
 
Os episódios atuais e as perspectivas futuras contribuem para justificar medidas de exceção que violam fragorosamente os direitos humanos. Não é à toa que as palavras “guerra” e “terrorismo” são expostas a ressignificações para justificar a presença das forças militares, no uso de armamentos de guerra em espaços urbanos, com alto risco de letalidade, invasão de casas, prisões ilegais e outras medidas que apavoram muito mais quem vive nas favelas do quem está na cidade “formal”. Imagine-se tentar dormir e acordar durante dias e horas num ambiente em que a qualquer momento alguém poderá invadir sua residência ou que ela poderá ser alvejada por uma munição capaz de perfurar um automóvel blindado. O processo de mercantilização da cidade é acompanhado da flexibilização das leis para desbloquear o lucro do capital. Também é preciso que o estado demonstre que tem o controle e é capaz de exercer o monopólio da força – com isso, acentua-se a militarização do território, a criminalização da pobreza e a violação dos direitos humanos. A cidade precisa ficar livre para o ingresso e a reprodução do capital. Mais do que nunca, em tempo de crise nos países desenvolvidos, o solo urbano é um ativo de grande valor num país como o Brasil, em que a economia demonstra vigor. 
 
Em meio a esse complexo cenário, é importante mencionar que nessa guerra não há vencidos nem vencedores. O conflito está visibilizado. Nos cabe agora politizar esse debate. Disputar os significados do projeto de cidade policiada que está colocado para o Rio de Janeiro nos próximos anos. É o momento de ressaltar e fortalecer a mobilização crítica de grupos sociais em torno da questão. Na última semana, ao mesmo tempo em que se acirravam os conflitos no Complexo do Alemão, dois seminários colocavam em debate a democratização da cidade: (i) um dentro de uma articulação nacional, com representantes de movimentos sociais de 10 cidades brasileiras, além de uma representante da África do Sul e (ii) outro com organizações do Rio de janeiro. Isso indica que há a organização de um discurso e uma ação no sentido de uma cidade includente, que não criminalize as populações mais pobres que vivem nos morros e periferias e defendendo que as mudanças estruturais ligadas aos megaeventos devam beneficiar principalmente quem mais precisa. Essas mudanças devem servir para afirmar a cidadania, respeitar e garantir os direitos humanos, contrariamente a uma lógica de privatização da cidade.

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