quinta-feira, 30 de junho de 2011

Respeitar para ser respeitado

  No último domingo (26/07),ocorreu na Avenida Paulista ,o coração financeiro nacional em São Paulo a Parada do Orgulho Gay,que reuniu em torno de 4 milhões de pessoas.
  E que em meio ao irreverente e carnavalesco protesto,pelos direitos dos homossexuais,contra a homofobia,teve uma polêmica que foi os cartazes com fotos de " santos" nús e a frase " NEM SANTO TE PROTEGE, USE CAMISINHA!",sobre a contaminação do vírus SIDA HIV .
  Eis que todos nós somos contra o desrespeito e discriminação contra qualquer pessoa,pode ser por etnia,ideologia,filosofia,religião,classe social,região,gênero e orientação sexual.
   Devemos condenar condenar qualquer tipo de agressão,a qualquer pessoa,como agressões e assassinatos de homossexuais que acontece diariamente em nosso país.
Segundo dados no Brasil,em 2010,foram assassinados 261( gays,lésbicas e travestis),o risco de um homossexual ser morto é de 785%, maior do que nos Estados Unidos da América.
  A atitude dos organizadores da Parada do Orgulho Gay Paulistana em colocar as imagens de " santos nus" musculosos,acabou,fazendo um desserviço á própria causa GLTS,como reforçou as atitudes de grupos insanos fundamentalistas religiosos e de extrema direita,que ve as conquistas dos direitos dos homossexuais,como uma afronta e um perigo á civilização ocidental.
  Claro que olhando a Parada Gay,ela está longe de ser uma manifestação reivindicativa ou de protesto,onde reforça  mais o caracter turistico e capitalista,como as propagandas de hoteis,moteis,bares,boates,restaurantes,danceterias,agências de acompanhantes...
  De setores que reforçam a dominação, exploração capitalista e a criminalização sobre as pessoas,onde as maiores vitimas são os pobres,mulheres e homossexuais.
  Olhando algumas cenas da parada gay,não me consta se nas manifestações feministas no final do século XIX,inicio do século XX,nos anos de 1960-1970,bem como do movimento feminista contemporâneo,em suas manifestações encontramos tais atos ou atitudes.
  A marcha nasce como sinal de protesto contra a agressão sofrida por freqüentadores de um bar gay, Bar Stonewall Inn em Greenwich Village em Nova York no dia 28 de junho de 1969,pela policia. Em protesto a comunidade gay sai as ruas exigindo os seus direitos de serem reconhecidos como cidadãos.
  A exposição de banners, com " santos musculosos nus" na parada gay,não só fere a fé, crença alheia de uma denominação,como o imaginario coletivo do povo brasileiro; a frase " nem santo te protege, use camisinha",tem toda a razão.
  Pois o que protege em primeiro lugar é a conscientização,o respeito a mim,a minha parceira ou parceiro.Mesmo a pessoa que contrai uma relação com a pessoa do mesmo sexo,deve respeitar está união, viver uma vida regrada,não achar que tudo é permitido.
  Se quero ser respeitado,devo respeitar os sentimentos dos outros,assim como quero ser respeitado. A organização errou,ao colocar estes banners,poderia colocar banner de modelos,falar do uso de preservativos,sem colocar simbolos religiosos.
  Tal atitude em vez de reforçar o diálogo com as igrejas e religiões,como quer a comunidade GLTS,coloca um obstáculo e fortalece os setores homofóbicos dentro delas.
  Fazendo com que estes setores retogrados, tenham razão e reforcem o seu medo diante á uma ameaça de " ditadura gay",pois a ameaça só vem de quem já se sente ameaçado.
   Não é pagando com a mesma moeda que se vai conseguir o que se deseja,pois " quem semeia ventos,colhe tempestade",diz o povo. Se quero ser respeitado é preciso que eu saiba respeitar,o meu direito acaba onde inicia o do outro,é a regra da democracia e do estado laico.

Por: Júlio Lázaro Torma
Colaborador deste blog

domingo, 26 de junho de 2011

Brasil: “crescimento” econômico para quem? Em que condições?

  Em seu discurso durante recente visita à China, em evento que reuniu os principais expoentes das empresas chinesas, a presidente brasileira fez questão de ressaltar qualidades ímpares do Brasil que vão ao encontro da avidez capitalista por lucros: a estabilidade econômica e a estabilidade política.
Nos discursos lá e cá, realmente, parece que o país experimenta um período de crescimento e otimismo, e ainda “um profundo sentimento de autoestima de nosso povo”, completaria a presidente. É este o Brasil em que vivemos? Este é o Brasil dos trabalhadores brasileiros? Há motivos para esse tipo de otimismo? Para quem o Brasil cresce? Em que direção se dá esse processo? Em que contexto, sob que condições?
Iniciaremos a análise tratando do contexto internacional.
1. Conjuntura internacional
1.1 Crise do imperialismo
Em 2009, na avaliação dos desdobramentos da chamada “crise do subprime”, e com a queda do quarto maior banco de investimentos dos EUA (Lehman Brother), em agosto de 2008, caracterizamos o atual estágio da crise do capitalismo, do imperialismo como:
“Uma conjuntura em que a crise latente e prolongada (desde o início da década de 1970) do imperialismo encontra-se em uma fase aberta, mais aguda, (...) com tendência a se aprofundar e se arrastar por longo período. Não é uma crise localizada, do subprime, da esfera financeira, como inicialmente trataram de alardear os arautos das classes dominantes. É uma crise do processo de acumulação capitalista, de sobreacumulação de capital e superprodução de mercadorias.
Do ponto de vista do marxismo, as crises econômicas do capitalismo são inevitáveis, são resultado das contradições inerentes deste modo de produção, como a tendência à queda da taxa média de lucro, o permanente processo de concentração e centralização do capital, a contradição entre a produção social e apropriação privada, a concentração de riqueza em um polo e miséria no outro." [1]
Podemos afirmar hoje que a crise do capitalismo, do sistema imperialista, continua se aprofundando, com “idas e vindas”, com ”altos e baixos”, arrastando-se, com repercussões diferenciadas em cada país, em cada formação econômico-social.
Na lógica do capitalismo, dos grandes monopólios, a “saída da crise” é aprofundar a intensificação da exploração do proletariado, em especial a opressão e exploração dos povos (e riquezas naturais) dos países dominados [2]. O ritmo, o grau desse processo e seu êxito ou fracasso são determinados em última instância pela conjuntura da luta de classes, pelo nível de resistência dos explorados e oprimidos em nível internacional e nacional, de acordo com a inserção de cada país no sistema imperialista.

1.2 Estágio da luta de classes
A conjuntura atual é marcada, por um lado, pela ofensiva do imperialismo, comandado pelos EUA e, por outro lado, pelo recuo do proletariado e do movimento revolucionário na luta de classes. O imperialismo e os grandes monopólios respondem à crise em uma conjuntura caracterizada por uma correlação de forças que lhe é favorável na contradição fundamental mundial entre burguesia e proletariado e na contradição entre países imperialistas/dominantes e povos dos países dominados, aprofundando todas as contradições do sistema e a barbárie.
A ofensiva do imperialismo se desdobra nos planos militar, econômico e político-ideológico. No plano militar, destacamos a ampliação de bases militares, como na Colômbia, a intimidação a povos em luta e a governos não-alinhados, as intervenções militares, como a da Líbia, a manutenção das guerras no Iraque e no Afeganistão; no plano econômico, o rebaixamento dos salários e precarização do trabalho, os cortes de direitos trabalhistas e sociais, de gastos públicos; no plano político-ideológico, as campanhas de criminalização das lutas populares e do comunismo, campanhas contra o “terrorismo” para tentar legitimar guerras imperialistas, campanhas contra supostas violações de direitos humanos em outros países, quando os EUA utilizam tortura, detenções ilegais e violação de soberania como políticas oficiais de Estado.
No processo geral de recuo do proletariado queremos ressaltar um fator que consideramos decisivo: nas últimas décadas, a maioria dos partidos comunistas abriu mão das posições revolucionárias e renegou na prática os princípios do marxismo-leninismo – a questão do Estado, da tomada do poder e da revolução, o caráter de classe da democracia, a violência revolucionária das massas [3], a luta ideológica e mesmo a luta de classes. Nesse processo, perderam a ligação cotidiana e revolucionária com as massas operárias e os trabalhadores de um modo geral [4]. E, como decorrência e parte do mesmo fenômeno, constatamos um baixo nível de consciência e organização de classe do proletariado e demais setores oprimidos. Sem deixar de ressaltar e saudar todo heroísmo e combatividade do proletariado e povos em vários países que resistem e lutam [5], avaliamos a ausência de partidos revolucionários na maioria dos países como o aspecto principal do processo de recuo da resistência de classe.
Nesse sentido, a ausência na maioria dos países de partidos revolucionários do proletariado, autênticos partidos comunistas – que tenham construído na luta uma linha político-ideológica justa, que estejam enraizados e com capacidade de dirigir a luta de classe do proletariado e das massas oprimidas em uma perspectiva revolucionária – deixa ao capitalismo o “campo livre” (ou seja, frente a uma baixa resistência de classe) para o seu processo inerente, histórico, de “sair da crise” e se desenvolver, intensificando ao máximo a exploração [6], ampliando a taxa de mais-valia relativa e absoluta, a fim de retomar a taxa de lucro na busca do lucro máximo.
A intensificação da exploração tende a agravar as condições de vida e trabalho para as massas populares, com aumento do desemprego, arrocho salarial, precarização do trabalho, ataque aos direitos trabalhistas e sociais – saúde, educação, seguridade etc. conquistados pelo proletariado, exacerbando a luta de classes.
1.3 Nova divisão internacional capitalista do trabalho
O agravamento da crise do capitalismo aprofunda o processo de reconfiguração da economia mundial, do sistema imperialista. E, entre uma série de características desse processo [7], destacamos o avanço da nova divisão internacional capitalista do trabalho e nele a transferência de indústrias dos países imperialistas para regiões com baixíssimo preço da força de trabalho, em particular, para a China (fenômeno que é expressão da intensificação da exploração da força de trabalho em nível mundial).
Esse agravamento (a chamada “crise do subprime” de 2007/2008) resultou em todo mundo, de maneira generalizada, em enorme queima de capitais, principalmente entre aqueles que se valorizavam na esfera financeira, implicando em recessão econômica, queda no comércio mundial, falta de crédito, desemprego de dezenas de milhões de trabalhadores. Porém, assumiu uma forma diferenciada e específica em cada país.
No caso da China, o PIB cresceu 9,2% em 2009 e atingiu 10,3% em 2010, puxado pelo crescimento industrial. A China tornou-se o maior exportador e produtor industrial-manufatureiro do mundo, (superando os EUA), e a segunda maior economia mundial.
A China acelera a produção e a exportação de produtos industrializados (intensivos em trabalho; com média e, principalmente, alta intensidade tecnológica), a importação de produtos primários (petróleo, alimentos e matéria-prima para a produção industrial) e a ampliação do investimento em infraestrutura e na produção para o mercado interno chinês. Além disso, amplia a exportação de capital, especialmente na forma de investimentos que garantam o abastecimento de produtos primários para sua indústria, assegurando a produção intensiva de mais-valia e a acumulação de capital.
O aumento da demanda por produtos primários pela China e a especulação na bolsa de mercadorias tem resultado no aumento dos preços das commodities.
E nesse contexto – no caso do Brasil, na nova divisão internacional do trabalho – a parte que nos coube foi a especialização na produção intensiva e em larga escala dessas commodities.
2. Conjuntura nacional
A reconfiguração da economia mundial condiciona as transformações na formação econômico-social brasileira, na estrutura econômica brasileira, que caracterizamos em 2006 como um "processo de regressão a uma situação colonial de novo tipo" [8] , iniciado em meados da década de 1980.
O deslocamento de parte significativa da produção industrial imperialista para a Ásia/China criou uma forte procura por produtos básicos, principalmente minérios, alimentos e petróleo e norteou a especialização do Brasil na produção de commodities para exportação. Este tipo de produção vem se transformando no setor dinâmico da economia brasileira, processo que significou aprofundar a condição do Brasil de país dominado no sistema imperialista mundial.
Não podemos esquecer, entretanto, que são as contradições internas que determinam a mudança dos fenômenos. Os fatores externos atuam nos fenômenos nos limites das suas contradições internas. E no desenvolvimento das sociedades esses limites são, no fundamental, a luta de classes, o motor da história.
Assim, buscamos destacar nesta análise que são as contradições internas que determinam, no fundamental, o “processo de regressão” e as manifestações específicas da formação econômico-social brasileira no atual contexto da crise. Essas contradições internas se expressam principalmente pelo estágio da luta de classes – pela correlação de forças na sociedade – que, no Brasil, se apresenta como:
1) recuo e defensiva do proletariado e demais classes dominadas com características análogas àquelas apontadas na conjuntura internacional. Ou seja, ausência do partido revolucionário do proletariado com uma linha política justa, enraizado e com força nas massas para dirigir suas lutas numa perspectiva revolucionária, somado ao atual nível de consciência e organização, de resistência da classe operária e demais classes dominadas brasileiras frente aos ajustes impulsionados pela reconfiguração da economia mundial.
2) ofensiva das classes dominantes brasileiras (em sua maioria esmagadora) e seu profundo nível de integração/subordinação aos ajustes necessários à reconfiguração da economia mundial, de acordo com os interesses das classes dominantes dos países imperialistas e seus próprios interesses de classe, enquanto sócios menores do imperialismo. Quem exerce o poder de Estado no Brasil é o grande capital brasileiro, garantindo o processo de regressão.
Neste primeiro texto, vamos tratar em especial dos aspectos econômicos da atual conjuntura nacional e, posteriormente, enfatizaremos os aspectos políticos. Consideramos, no entanto, a necessidade de entender os dois processos – o econômico e o político – de maneira indissociável, dialética. A separação tem como única finalidade facilitar a exposição.
2.1 O processo de “regressão”
O processo de “regressão a uma situação colonial de novo tipo” e as mudanças na estrutura econômica brasileira se apresentam - como afirmamos em 2006 - em quatro aspectos principais:
1 - na constituição de um setor agroindustrial e mineral voltado à exportação. A especialização na produção e exportação de commodities é a principal característica do processo de regressão e se torna o polo dinâmico da economia brasileira. [Em 2008, com a comprovação da descoberta de petróleo na camada do pré-sal brasileiro, com reservas estimadas em mais de 10 bilhões de barris, esta commodity tende a se transformar num dos principais itens da pauta de exportação brasileira];
2 - na quebra de elos da cadeia produtiva em ramos importantes da atividade industrial e fechamento de setores da produção, cujos produtos, peças e componentes passam a ser importados;
3 - na organização de um novo setor industrial voltado para a constituição de ilhas de produção e montagem de mercadorias em empresas estrangeiras ou associadas, de média tecnologia, para exportação [e, como se verificou posteriormente, também para o mercado interno, artificialmente aquecido pela oferta de crédito fácil, pelo estímulo ao endividamento e por políticas compensatórias];
4 - na montagem de um sistema de valorização fictícia do capital, remunerando com altos juros o capital que circula nas engrenagens da especulação.
Os quatro aspectos acima levantados compõem um todo, e se relacionam, se reforçam entre si. A “crise do subprime” (2007/2008), as “medidas anticrise” de Lula em 2009 e 2010 e as iniciativas do início do governo Dilma (2011) aprofundaram ainda mais esse processo de regressão a uma situação colonial de novo tipo. Essa é a forma como o Brasil se insere na nova divisão internacional do trabalho, tendo em vista, principalmente, o novo lugar que a China ocupa na economia mundial, na reprodução internacional do capital.
Diferentes estudos, artigos e matérias nos meios de comunicação diuturnamente vêm levantando dados que evidenciam a especificidade e a intensidade com que o Brasil tem se ajustado ao atual estágio internacional de valorização e concentração do capital.
Selecionamos uma pequena amostra do que se tem noticiado sobre o tema.

O colapso da educação básica no Brasil que não foi

  

• Do início da década de 1990 para cá, governos de direita e de esquerda prometeram combater as desigualdades sociais e o atraso cultural do nosso país; as deficiências dos serviços públicos – educação em particular – e a escandalosa concentração de renda – 10% dos mais ricos se apropriando de 50% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres tinham que se conformar com apenas 10% - não podiam mais continuar como dantes.

O passaporte para esse “futuro radioso” – um país mais justo, menos atrasado e com emprego e renda para a juventude – seria a educação, particularmente a educação básica. Todos os governos – federal, estaduais e municipais – empreenderam a tarefa de reformar a educação, universalizando o acesso à educação básica e eliminando – por decreto – a evasão e a repetência; criando um sistema escolar compulsório com aprovação automática e obrigatória.
Na construção desse novo mundo via educação, caberia aos professores um lugar especial. Os mestres deixariam de ser os “sacerdotes do ensino” para se transformarem nos arautos da nova era – o magistério foi secularizado.
Mas, como não existe almoço de graça como dizia o economista Milton Friedman, a universalização da educação básica teria que ser feita sem que o Estado arcasse com mais investimentos. Ao longo dos dezesseis anos de FHC e Lula, os recursos públicos para educação oscilaram entre 4% e 5% do PIB. Seria necessário, então, apelar ao mercado – ao capital privado – tanto no financiamento como na gestão (produtividade) da escola pública; uma vez que aumentaria substancialmente o número de alunos e de professores para dividir o mesmo bolo, as mesmas verbas.
Uma primeira medida para fazer esse “milagre dos pães” foi aumentar o tamanho das turmas que, juntamente com a aprovação automática, garantiriam que o professor atendesse mais alunos. A segunda grande medida foi reduzir o custo da mão-de-obra; os direitos sociais e trabalhistas do professorado foram flexibilizados – reduzidos ou eliminados em alguns casos. Planos de carreira foram desmontados, as jornadas de trabalho foram aumentadas com a eliminação das horas atividade, os reajustes salariais dos professores foram vinculados ao mérito ou desempenho – o magistério financiou a expansão do ensino com suas condições de trabalho.
Passada uma geração – pouco mais de vinte anos – do início das reformas estruturantes neoliberais na educação brasileira, é preciso fazer um balanço; o que elas produziram para o país e para o ensino público.
Após dois mandatos de FHC e dois mandatos de Lula, somos a terceira formação social mais desigual dentre os nossos parceiros de América Latina e Caribe – segundo dados do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – perdendo apenas para países como Bolívia e Haiti. O IDH/2010 ratificou nossa posição de ponta no ranking da desigualdade; estamos entre as cinco formações econômicas mais desiguais do planeta – os ricos continuam muito ricos, com os 10% mais ricos abocanhando 45% da renda nacional e os pobres continuam muito pobres - onde 50% da população recebe 15% da renda nacional.
Apesar dos índices de pobreza e indigência terem mostrado pequena melhora devido ao Programa Bolsa Família, ainda temos, segundo a PNAD/2009 do IBGE, 8% de brasileiros na pobreza extrema, mais de treze milhões de indigentes - quase três vezes a população do Uruguai.
As desigualdades diminuíram, é um fato; mas tal diminuição foi bem abaixo do que prometeram o “direitista” FHC e o “esquerdista” Lula no início de seus respectivos mandatos presidenciais.
Na educação as coisas vão de “mau a menos mau”, segundo palavras do sociólogo-presidente FHC. Nosso país possui, segundo o IBGE, 15 milhões de analfabetos – leia-se ágrafos. Os analfabetos funcionais – os que não sabem ler e escrever com pleno domínio – variam de 60 a 75 milhões de pessoas; o que nos leva ao despautério de possuirmos, potencialmente, 90 milhões de analfabetos, entre ágrafos e funcionais.
A escola sequer é capaz de ensinar a ler e escrever a maioria das pessoas que por ela passam; segundo dados do IDH/2010 a escolaridade média do brasileiro é de 7,2 anos, equivalente a do Zimbabwe – isso mesmo, o país de pior IDH do planeta, que sequer possui moeda corrente.
A persistência de nosso atraso cultural se expressa num dado bem esclarecedor: segundo pesquisa feita pela Câmara Brasileira do Livro em 2008, o brasileiro compra, em média, 1,2 livro por ano – se descontarmos da pesquisa os 6,2 milhões que declaram ter acesso somente à Bíblia, a média despenca para menos de um livro por habitante – distribuído desigualmente, como a riqueza em nossa sociedade, uma vez que, na mesma pesquisa, 47 milhões de pessoas declararam nunca ler livros. Os principais motivos para não ler foram: falta de tempo, o alto preço dos livros e cansaço.
Uma primeira e elementar conclusão é que a esmagadora maioria de nossa população, devido à superexploração do trabalho e às profundas desigualdades sociais, nesta lógica jamais terá acesso aos bens culturais e ao conhecimento; pela falta de condições cognitivas, socioeconômicas ou as duas coisas.
Nossa juventude, no limiar do terceiro milênio, convive com o desemprego – 64% dos desempregados no país são jovens – e com a violência – a maior causa de mortalidade entre os jovens é assassinato segundo o IBGE. De acordo com o Núcleo de Estudos Sobre a Violência da USP 50% das vítimas de assassinato nas periferias dos médios e grandes centros urbanos brasileiros são jovens e não brancos.
A promessa de mais justiça social, mais prosperidade e educação de qualidade como alavancas para combater o atraso e criar no Brasil uma sociedade moderna e menos desigual, ficou no papel e nos discursos – prometeram o paraíso terreno e nos entregaram o purgatório.
De tantas promessas de redenção social via educação, restou a privatização crescente do ensino público com a ingerência do capital privado; e decadência da profissão docente e a criminalização dos professores através de uma campanha sistemática de culpabilização do magistério pela má qualidade do ensino público – pelos meios de comunicação e por pseudos intelectuais que agem como penas de aluguel a serviço do capital.
A juventude também foi vitimizada pelas reformas neoliberais na educação com um ensino cada vez mais aligeirado – limitando-se toda a educação básica a ler e escrever, alfabetização ou letramento – onde as escolas públicas se transformaram em “depósitos de gente”, num instrumento de contenção social, com os professores sendo obrigados a deixar de ensinar para assumir a condição de “animadores culturais”.
É preciso transformar nossa angústia em ação, como disse a jovem professora Amanda Gurgel, ou, noutros termos, o professorado deve encabeçar um movimento social em defesa de sua dignidade profissional e do direito a escola pública de qualidade para todos – nossas reivindicações funcionais e salariais são educacionais, nossas reivindicações educacionais são sindicais.
Como disse Oliver Cronwell – revolucionário inglês do século XVII – “Aquele que sabe pelo que luta, luta mais e melhor”.

Gilberto Pereira de Sousa 

* Historiador e professor da rede pública em São Paulo. Co-autor do livro “A Proletarização do Professor”, Ed.Sundermann

As contradições do capitalismo

E assim as questões imediatas serão priorizadas em detrimento dos reais problemas que assolam a sociedade americana, que nunca serão confrontados. Então por um lado temos a perspectiva de tempo de 50 anos e, por outro, uma trágica realidade de pressões em termos de três, quatro, cinco anos”

Entrevista concedida a Matheus Pichonelli e Ricardo Carvalho
As contradições terão de ser enfrentadas por esses movimentos que emergiram no mundo árabe e na Europa. Terá de ser um movimento das massas, sem pequenos grupos de intelectuais se reunindo e tomando as decisões. E sim as massas, que devem estar dispostas a assumir o fardo e as consequencias de realmente fazer alguma coisa. E, ao mesmo tempo, elas devem aceitar as responsabilidades das escolhas que forem feitas. Isso é importante porque, no nosso círculo de decisões políticas existente hoje, ninguém nunca é responsável. Eu lembro que nos Estados Unidos houve uma investigação sobre o  “Iran–Contra Affair”, a cumplicidade de algumas figuras políticas do alto escalão norte-americano com o regime iraniano. Isso foi durante o governo de Ronald Reagan.

O Congresso chegou a produzir uma resolução em que afirmava que Reagan havia subvertido a Constituição dos Estados Unidos. Ele subverteu a Constituição do seu país e deveria assumir total responsabilidade por isso! Mas o que aconteceu? A resolução tornou-se um punhado de palavras vazias e Reagan quase foi beatificado como um dos grandes estadistas dos Estados Unidos. Isso representa a total subversão dos nossos valores. Porque até mesmo valores sérios do pensamento liberal, como os defendidos por John Stuart Mill no século XIX, que confrontou de maneira inadequada, mas confrontou, a contradição do crescimento ininterrupto da nossa economia, está fora de questão. Ninguém nunca é responsável.
O que acontece nas eleições? Um novo partido continuará a culpar seu antecessor exaustivamente. Isso acontece hoje na Grã Bretanha, onde existe uma coalizão entre o partido conservador e o partido liberal. E eles não fazem mais do que afirmar que tudo o que produzem de negativo é consequência da administração anterior, do Partido Trabalhista. Isso é característico de um avestruz que insiste em esconder sua cabeça debaixo da terra.

Existe uma outra característica que precisamos observar, a dimensão de tempo. É completamente absurdo o discurso dos políticos quando afirmam que em 2050 os níveis de carbono estarão reduzidos e nossos problemas ambientais resolvidos. Nós estamos caminhando exatamente na direção contrária. Então por um lado temos uma projeção de tempo que engloba os próximos 30, 40 e 50 anos enquanto nossa cultura defende que encontremos soluções para os próximos quatro ou cinco anos, porque um ciclo político não vai muito além desse tempo. Nos Estados Unidos teremos eleições em breve, quando Obama provavelmente será reeleito. E assim as questões imediatas serão priorizadas em detrimento dos reais problemas que assolam a sociedade americana, que nunca serão confrontados. Então por um lado temos a perspectiva de tempo de 50 anos e, por outro, uma trágica realidade de pressões em termos de três, quatro, cinco anos.
O sistema capitalista não só foi válido por um tempo considerável como foi, de longe, mais poderoso e dinâmico do que qualquer outro sistema. Mas existe um limite para isso e esse sistema está se tornando cada vez mais destrutivo. E esse é o grande problema que os movimentos políticos e sociais terão de enfrentar, a separação da política das dimensões sociais e econômicas. Isso é parte do capitalismo, agrupar essas três dimensões. Se, no passado, o agrupamento dessas dimensões funcionou e possibilitou transformações econômicas violentas, além de transformações políticas, hoje já não surte efeito. E é por isso que quando as demandas desses movimentos sociais chegam aos parlamentos nada ocorre, no círculo de decisões políticas já existe uma inércia e as limitações herdadas do passado.
Pense nisso, o sistema capitalista, no auge da sua produtividade, é incapaz de satisfazer plenamente as necessidades da população mundial por comida. É calculado que em 20 anos ou menos o preço dos alimentos será absurdamente mais caro do que é hoje. Atualmente ainda existem revoltas promovidas por populações famintas. Nada poderia atestar mais graficamente a falência desse sistema. No Norte da África, essas pessoas que se rebelaram recentemente gastam em média 80% da sua renda apenas para assegurar comida. Com o aumento do preço dos alimentos, como eles vão ficar? E, com esse aumento, algumas pessoas, que se dizem especialistas, já começaram a culpar os chineses e indianos pela alta dos preços. Com o fortalecimento das suas economias, eles começaram a comer. Que ultraje! Populações inteiras que sempre trabalharam como escravos, em jornadas de até 14 horas ao dia, começaram a comer como gostariam? Isso não é um absurdo? E é com desculpas como essa que nossa sociedade se acomodou para afrontar seus problemas. Eu insisto, fechando os olhos e varrendo tudo para baixo do carpete.
O grande dinamismo por trás do sistema capitalista ocorreu no momento em que o valor de troca substituiu o valor de uso. O uso primário de um produto capitalista é a venda, uma vez que você tenha vendido o seu produto, ele cumpriu com o seu objetivo. Não importa para onde ele vá, não importa se ele será utilizado uma, duas ou dez vezes. Isso é totalmente irrelevante.
O sistema capitalista, que possui essa dinâmica, atingiu o limite de suas contradições. O principal ponto do capitalismo é ignorar a necessidade real das pessoas. Prova disso é que ainda hoje as pessoas sofrem enormemente. Elementos da necessidade humana não podem ser considerados porque a natureza do nosso sistema é um crescimento sem limites e sem fim. E nesse sentido o céu é o limite. Não é bem assim. Dizer isso é enganar-se a si mesmo. Existe um limite para os seres-humanos e a maneira como nos relacionamos com a natureza. Nossa existência depende da manutenção de uma relação aceitável com a natureza.

sábado, 25 de junho de 2011

OBSOLESCENCIA PROGRAMADA - ( COMPRAR, TIRAR, COMPRAR )



Documentário produzido pela TVE espanhola que trata da obsolescência programada, uma estratégia que visa fazer com que a vida de um produto tenha sua durabilidade limitada para que sempre o consumidor se veja obrigado a comprar novamente.

O filme abre com um funcionário da emissora descobrindo que sua impressora EPSON havia deixado de funcionar sem motivo aparente e que o custo de consertá-la sairia mais caro do que uma nova.

A Obsolescência Programada começou primeiramente com as lâmpadas, que antes duravam décadas trabalhando ininterruptamente (como a lampada que está acesa há mais de cem anos num posto dos bombeiros dos EUA) mas, depois de uma reunião com o cartel dos fabricantes, passaram a fazê-las para durar apenas 1.000 horas.

Essa prática tem gerado montanhas de resíduos, transformando algumas cidades de países de terceiro mundo em verdadeiros depósitos, sem falar na matéria prima, energia e tempo humnano desperdiçados.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Crise e os Movimentos Sociais


  Em função de não estar participando diretamente de nenhum movimento social, não se tratará nesse trabalho de como um movimento específico está tratando a crise do capital. Tentar-se-á fazer um apontamento sobre os Movimentos Sociais em geral, e de como eles se encontram nesse momento de crise. Vale dizer, que são apenas apontamentos, elencados das formas como esses movimentos vem se portando nesse cenário adverso. De antemão ressalta-se que esse trabalho não é fruto de um estudo sistematizado e científico da situação atual. São apenas reflexões extraídas da observação cotidiana da realidade e de um conjunto de leituras auxiliares. O máximo que se fará é levantar suposições e hipóteses a partir de uma linha de raciocínio pessoal.
A mercantilização da vida social como um todo que transforma o capitulo I  do capital ainda mais profundo e verdadeiro, foi ao longo do tempo subvertendo mais e mais esferas da vida social. Se a dinâmica da mercadoria é fundamento para as formas de vida social como um todo, não é menos verdade para as formas de organização social também. É sobre esse ponto de inflexão que se procurará contextualizar a ação dos Movimentos Sociais no Brasil atualmente. Não se tratará aqui da situação dos partidos políticos ditos de esquerda, nem das centrais sindicais, pelo distanciamento com que deste se encontram. Embora pareçam se encontrar em situação semelhante. A hipótese aqui levantada é a seguinte: a crise que assola o capital e suas formas de acumulação em geral afeta do mesmo modo as formas de organização social, os Movimentos Sociais. E pode-se resumir em dois eixos fundamentais: o primeiro por se tratarem de movimentos que atuam dentro de um nexo paradoxal da ação comunicativa, o que se tentará explicar mais adiante, e o segundo eixo se trata da própria forma de organização não dar mais conta da dinâmica atual da sociabilidade capitalista e ficar suscetível as mais diversas formas de criminalização e cooptação.

            Nesse primeiro momento é importante ressaltar algumas impressões genéricas sobre a crise. O que mesmo caracteriza essa crise, quais suas proporções, e quais dimensões sociais ela afeta. Já nos estudos realizados por Marx em O Capital, onde ele situava a crise como parte constitutiva do capital, um momento da acumulação de capitais que a burguesia não tinha com extrair de seu modo de reprodução social. Uma conseqüência direta da própria dinâmica interna do capital,  impossível de ser superada dentro do capitalismo. Que por um lado poderia criar uma situação adversa para a dominação do capital, ao mesmo tempo em que, por outro lado, ela representa uma reestruturação mais ou menos profunda, de acordo com a dimensão da crise, da forma de organização e composição da estrutura de extração de mais valor. O que se percebeu ao longo de um século e meio depois, é que por mais que os capitalistas em geral tentassem criar uma fórmula de subtração das crises, elas nunca cessaram. Pelo contrário, cada vez mais elas atingiram mais e mais esferas da sociabilidade humana, tornando-se a cada momento, mais contraditórias e dramáticas.
            Até o momento presente, pode-se dizer que a burguesia foi mais eficiente na busca de soluções para seus problemas de acumulação de capital, que a classe trabalhadora em empreender nos momentos adversos do capital uma derrota definitiva para a burguesia. Com a expansão e acumulação do capital em nível global, a burguesia logrou forjar formas mais sofisticadas de extração de mais valor e subordinação ideológica da classe trabalhadora ao seu metabolismo de reprodução social. Ao mesmo tempo, em que as formas de organização da classe trabalhadora foram derrotadas historicamente, violentamente reprimidas e desmoralizadas. Com a eminência e a hegemonia do capital imperialismo, a dominação do capital ganhou proporções gigantescas, criando formas ainda mais aprimoradas de adequação da condição de existência humana ao modo de produção e reprodução capitalista.
            No entanto, essa dimensão astronômica não pôde evitar que o capital entrasse em crise de quando em quando. Pelo contrário, a crise também foi ganhando proporções gigantescas, com a possibilidade eminente de comprometer seriamente a existência humana na terra. Uma situação tal que atualiza de forma radical a expressão de Rosa Luxemburgo ( socialismo ou barbárie). No Brasil o processo de redemocratização nos anos 80 do século passado, engendrou a organização no seio da sociedade civil. Uma série de movimentos sociais e organizações não governamentais, com formas mais autônomas de  pautar a luta pelos direitos democráticos mais elementares. O que não se levou em conta é que no limiar desse mesmo processo havia uma profunda transformação da estrutura política econômica que alterou significativamente o campo da luta de classes no Brasil. Nas palavras de Chico de Oliveira, houve a partir dos anos 90 um desmanche da composição do Estado brasileiro, alterando o epicentro do poder, sem que os movimentos em geral pudessem acompanhar essa modificação no complexo de conseqüências que gerou para todas as esferas da vida social. A luta que nos anos 70 e 80, no campo democrático, tinham um significado visível, transparente, tornou-se uma “intransparência” com a financeirização da economia nos anos 90. Mais e mais, as pautas e campos de atuação dos movimentos sociais e Ongs em geral esbarravam em obstáculos indecifráveis pela dinâmica violenta e dissimulada em que ocorreram. A grande maioria de movimentos e Ongs passaram a cumprir um papel de colaboração sem precedentes com o capital, uma função de adequação ideológica das massas as novas necessidades de acumulação do capital. A massa de trabalhadores já não visualiza o capitalista diretamente, o burguês que lhe extrai mais valor. O capital imperialismo, impessoaliza a extração de capital, ao mesmo tempo em que perenifica o presente, naturalizando e supra idealizando as novas formas de sobrevivência social e coloca como superada todas as possibilidades de transformação social. Um inimigo invisível que se personifica nos desejos mais íntimos dos trabalhadores, que passa a sonhar, a desejar, a se alegrar por eles, e que tem na maioria das organizações sociais um aparelho ideológico de hegemonia.
            Os poucos movimentos que conseguiram manter uma postura mais crítica diante  das armadilhas do capital, lembrando que nunca se desencilharam por completo delas, foram ficando cada vez mais isolados do conjunto dos trabalhadores, por dois motivos, um explícito e outro implícito: um processo de criminalização, desmoralização e satanização; e um processo paulatino de cooptação através de projetos governamentais compensatórios e sua conseqüente centralização excessiva das decisões em torno do epicentro econômico. A chegada no Estado com o governo Lula representou o golpe de misericórdia na capacidade de luta e enfrentamento contra o capital. Dia após dia a fragilização era mais evidente, ao mesmo tempo em que havia um emparelhamento dos movimentos sociais com as demandas emergenciais paliativas do governo. Um governo que despolitiza violentamente o Estado, ao mesmo tempo em que estatiza os movimentos e lutas sociais. As decisões políticas e econômicas mais profundas agora estão sob controle sublime do sistema financeiro com seus banqueiros e especuladores, fora de qualquer controle minimamente democrático. As parcas políticas que ficaram sob a esfera do Estado, são apenas compensatórias, alguns farelinhos dos estupendos acúmulos que o capital imperialismo logrou nesses últimos anos. O Partido dos Trabalhadores, as Centrais Sindicais, e os Movimentos Sociais, são os gestores exemplares da nova forma de extração generalizada de mais valor. Mais especificamente eles gestionam com políticas sociais compensatórias e projetos econômicos famigerados qualquer possibilidade de mobilização social contra o escandaloso acúmulo do capital. Essa é a dinâmica externa que envolve os movimentos sociais em geral, alguns mais outros menos, que delimitam para baixo o campo de atuação e que engessa a luta social a situações ridículas.
Internamente os movimentos ainda têm outros agravantes que deixam as coisas mais complicadas. Com o passar dos anos as estruturas organizativas foram moldando-se de maneira mais centralizada e autoritária. Uma herança stalinista alimentada por um marxismo vulgar, diminui significativamente a participação efetiva e centraliza os espaços de decisões. Aos poucos se passa a encobrir as contradições mais gritantes. A direção assume para si todo o processo de reflexão do qual ela mesma não da conta. Isolam-se as divergências, controla-se economicamente a miséria dos militantes, precariza-se a militância, dá-se mais atenção a forma das manifestações em geral do que ao conteúdo, burocratiza-se os espaços de participação, aparelha-se os descontentamentos, o praticismo e o tarefismo são glorificados, etc. Mas se não bastassem esses problemas organizativos, nos últimos anos vemos um apego fidedigno ao governo do PT, o que é mais trágico ainda. Na forma de ver dos movimentos esse governo não tem relação com o capital, seria uma coisa completamente distinta, da qual não podemos questionar. Deixa-se claro aqui que, forma de ver e questionamento, não estão reduzidos ao discurso, e sim a uma práxis efetiva. Porque no discurso até se faz algumas críticas ao governo, se não for período eleitoral, mas o conjunto das ações é profundamente de acordo com os interesses do governo. Na práxis concreta dos movimentos há uma profunda conformidade com o governo. Se facilitar, o governo até oferece a pauta de reivindicações.
No entanto, não se pode afirmar, que a situação é um problema restrito as direções dos movimentos. Ela é produto de uma crise profunda na sociabilidade do capital que tem modificado profundamente o campo de ação política. A crise geral do capital afeta as formas de organização social. E com a exuberância das formas de reprodução ideológicas construídas pelo capital, nosso futuro não pode ser outro se não sombrio. Socialmente, ainda se verifica uma indiferença impar aos problemas sociais mais gritantes. Preconceitos regionais, raciais, de classes, têm ganhado conteúdos mais sutis e danosos. Um desmoronamento dessa pífia condição econômica que se tem hoje pode levar massas e massas de trabalhadores para novas formas de fascismo e alternativas para a direita. Aqui em Santa Catarina, é cada dia mais visível como qualquer discurso reacionário, ganha eco no coração e nas mentes dos trabalhadores, nem se fala dos burgueses. Há um processo formativo intenso e cotidiano para isso. E o mais impressionante é que hoje quem não quer formação, discussão, luta e enfrentamento, são os próprios dirigentes dos movimentos sociais. Muitos fogem de qualquer forma de debate como o diabo da cruz. Muitos companheiros incorporam para si discursos e padrões de vida burguesa, com todas as regalias que se têm direito, já os que procuram manter uma postura mais coerente com o processo histórico de luta social dos trabalhadores adoecem fisicamente em meio a tantas barbaridades.
As classes dominantes quando conseguem através do Estado e seus projetos envolver as organizações da classe trabalhadora, têm o luxo de abrir mão inclusive do estado de sítio (a repressão militar, sem nunca abnegar dela), para paralisar teórica e praticamente a luta de classe. Agora o instrumento ou a organização garante a ditadura do não pensar, do não agir, da não práxis, pela formula metabólica que vai assumindo. Nesses momentos vive-se a tirania plena do capital, com a contribuição substancial das ditas organizações de esquerda. Isto posto, nota-se que o debate revolucionário ainda persiste, mas sob o invólucro paralisante do capital, que separa o instrumental teórico do único sujeito capaz de levá-lo as últimas conseqüências: a classe trabalhadora. Resta apenas uma pseudo-vanguarda separada da classe idealizando magistralmente seus desígnios. ... Ton Zé e seu público sabem o que é bom para a classe operária...
Diante de tal situação exposta acima, é urgente a retomada do materialismo histórico dialético, junto aos seus sujeitos históricos, como instrumental de interpretação da realidade para compreender pelas contradições mais profundas e atuais, as verdadeiras tarefas da classe trabalhadora. Uma retomada coletiva em que as organizações se tornem, assim como prescrevera Lênin, mecanismos sólidos de elevação da consciência de classe, para dessa forma darem novo dinamismo e efetividade à superação do modo de reprodução social do capital. Recuperar a centralidade política da classe trabalhadora, o que é diferente da centralidade da política, para que possa acontecer a revolução, e para que entre em cena o controle consciente dos trabalhadores livremente associados. Lograr a compreender que o poder do Estado está no capital, e que esse Estado é impotente frente  a desigualdade social, no máximo pode amenizá-la, jamais superá-la. O Estado não é uma coisa que a classe trabalhadora possa se apropriar, ele não pode ser tomado pela classe trabalhadora e colocado à seu serviço, porque ele é um instrumento de manutenção da ordem do capital. Toda vez que a classe trabalhadora tomou o caminho da política pelo Estado, ela tomou o caminho errado, e se submeteu ao capital. A experiência histórica ensina que se deve fazer a luta política sob o ponto de vista do interesse fundamental da classe, o interesse do trabalho. A luta política pela centralidade do trabalho na compreensão de que Sociedade Política e Sociedade Civil são momentos de uma mesma realidade. 
A separação é apenas metodológica, não são realidades diferentes, da qual se pode controlar uma, para depois controlar a outra. É preciso destruí-la para construir uma nova sociabilidade, a sociabilidade transitória para o comunismo, a ditadura do proletariado para Lênin, a hegemonia para Gramsci que são momentos radicalmente distintos do determinismo econômico, do centralismo autoritário, do estatismo burocratizado, da social democracia, do oportunismo, do peleguismo, e outras formas habituais de conluio com o capital. Que tendem a todo o momento se apresentar como alternativa daquilo que são apenas colaboradores.

O papel de Wall Street no narcotráfico

A política dos EUA para o México é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. Os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga. A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. O artigo é de Mike Whitney.
Mike Whitney – SinPermiso
Imagine qual seria sua reação se o governo mexicano decidisse pagar 1,4 milhões de dólares a Barack Obama para usar tropas norte-americanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratassem assim os Estados Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os EUA vêm tratando o México desde 2006.
A política dos EUA para o México – a Iniciativa Mérida – é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. É tudo muito lindo.
Há alguma razão para dignificar essa carnificina chamando-a de “Guerra contra as drogas”?
Não faz nenhum sentido. O que vemos é uma oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das altas finanças e dos serviços de inteligência norteamericanos. E Obama segue meramente fazendo seu leilão, razão pela qual – não é de surpreender – as coisas ficaram tão ruins sob sua administração. Obama não só incrementou o financiamento do Plano México (conhecido como Mérida), como deslocou mais agentes norteamericanos para trabalharem em segredo enquanto aviões não tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?
Não se trata de uma pequena operação de apreensão de drogas, é outro capítulo da guerra norteamericana contra a civilização. Vale lembrar uma passagem de um artigo de Laura Carlsen, publicado no Counterpunch, que nos mostra um elemento de fundo:
“A guerra contra as drogas converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um veículo financiado e impulsionado pelo governo norteamericano e alimentado por uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A chamada “guerra contra as drogas” constitui, na realidade, uma guerra contra o povo, sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal do Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas, muitas vidas”.
“A militarização em nome da guerra contra as drogas está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da estratégia. E já vimos a extensão indefinida da Iniciativa de Mérida no México e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados a Costa Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército…”
“A Iniciativa de Mérida financia interesses norteamericanos para treinar forças de segurança, proporciona inteligência e tecnologia bélica, aconselha sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México” (“The Drug War Can’t Be Improved Only be Ended” – “A Guerra contra as drogas não pode ser melhorada, só terminada”, Laura Carlsen, Counterpunch)
A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o que pode para converter o México em uma ditadura militar, pois é exatamente isso o que ele está fazendo. O Plano México é uma farsa que esconde os verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros do tráfico de drogas acabem nos bolsos das pessoas adequadas. É disso que se trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isso que o número de vítimas disparou, enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A política norteamericana converteu grandes extensões do país em campos de morte e a situação não para de piorar.
Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que descreve como é a vida das pessoas que vivem na Zona Zero da guerra das drogas no México, Ciudad Juárez:
“Isso ocorre em uma cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil negócios encerraram suas atividades. De 30 a 60 mil pessoas, sobretudo os ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança. Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do diário local também vive em El Paso. Entre 100 e 400 mil pessoas simplesmente saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata simplesmente da violência. Durante esta recessão desapareceram pelo menos 100 mil empregos das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes”.
Há 10 mil soldados das tropas federais e agentes da Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20 mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito pobres para poder ir embora. A cidade é isso”. (Charles Bowden, Democracy Now)
Isso não tem a ver com as drogas; trata-se de uma política externa louca que apoia exércitos por delegação para impor a ordem por meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na Future of Freedom Foundation:
“Um número não revelado de agentes da lei norteamericanos trabalha no México (…) A DEA tem mais de 60 agentes no México. A esses se somam os 40 agentes de Imigração e Aduanas, 20 auxiliares do Serviço de Comissários de Polícia e 18 agentes da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, mais os agentes do FBI, do Serviço de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras, Serviço Secreto, guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado mantém também uma Seção de Assuntos de Narcóticos. Os EUA também forneceram helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis”.
“Os aviões não tripulados norteamericanos espionam os esconderijos dos carteis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norteamericanos seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos, estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos cartéis. De acordo com um antigo agente anti-droga mexicano, os agentes norteamericanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos EUA, desde que não se encontrem em território norteamericano e não grampeiem cidadãos norteamericanos. (“Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War?”, “Por que os EUA travam a guerra contra as drogas no México?”, Laurence M. Vance, The Future of Freedom Foundation).
Isso não é política externa, mas sim outra ocupação norteamericana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte como sempre fazem. Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado “How Drug profits saved Capitalism” (“Como os lucros das drogas salvaram o capitalismo”, publicado em Global Research). É um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política:
“Enquanto o Pentágono arma o governo mexicana e a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência anti-droga dos EUA) põe em prática a “solução militar”, os maiores bancos dos EUA recebem, lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira…”
“Os lucros da droga, no sentido mais básico, são assegurados mediante a capacidade dos carteis de lavar e transferir bilhões de dólares para o sistema bancário norteamericano. A escala e a envergadura da aliança entre a banca norteamericana e os carteis da droga ultrapassa qualquer outra atividade do sistema financeiro privado norteamericano. De acordo com os registros do Departamento de Justiça dos EUA, só um banco, o Wachovia Bank (propriedade hoje de Wells Fargo), lavou 378.300 milhões de dólares entre 1° de maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (The Guardian, 11 de maio de 2011). Todos os principais bancos dos EUA tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
“Se os principais bancos norteamericanos são os instrumentos financeiros que permitem os impérios multimilionários da droga operar, a Casa Branca, o Congresso dos EUA e os organismos de aplicação das leis são os protetores essenciais destes bancos (…) A lavagem de dinheiro da droga é uma das fontes mais lucrativas de lucros para Wall Street. Os bancos cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às que pagam – se é que pagam – aos depositantes dos traficantes de drogas.
Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados esses titãs norteamericanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os funcionários eleitos para que perpetuem o sistema”. (“How Drug Profits saved Capitalism, James Petras, Global Research).

Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a Máfia.
(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista norteamericana
Tradução: Katarina Peixoto

sábado, 18 de junho de 2011

Moção de apoio Aos trabalhadores/as em Educação

 "A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda". Paulo Freire
Nós, da Diocese de Chapecó, viemos através desta expressar a nossa solidariedade e apoio à luta de todos os/as trabalhadores/as em Educação, que se encontram em greve.

Entendemos que esta luta não é só dos/as trabalhadores/as em educação, mas de todos/as nós enquanto sociedade que necessitamos de melhores condições e qualidade na educação. Sabemos e conhecemos como está precário o investimento na área da educação no Estado que até então não é prioridade no governo.

Reconhecemos o quanto é valiosa e importante a missão de cada um/a na educação para construir um mundo solidário, humano e justo. Compreendemos ser justa essa luta pela implantação do Piso Nacional no Estado de Santa Catarina, pois é um direito garantido em Lei.

Repudiamos e lamentamos a forma como o Governador do Estado, Sr. Raimundo Colombo vem negociando e fazendo suas propostas que não respeitam a dignidade e a valorização do trabalho destes incansáveis profissionais que dedicam sua vida na formação de pessoas.

Por uma educação de qualidade e pela valorização dos/as profissionais em educação, reiteramos nossa solidariedade e apoio, desejando que continuem firmes na luta pelos direitos da categoria.

Atenciosamente.

Ir. Deloci dos Passos Coordenadora das Pastorais Sociais
Domingos Luiz Costa Curta - Coordenador Diocesano de Pastoral

quarta-feira, 15 de junho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

Brasil: que País é esse?

A história da dominação no Brasil encontra no capitalismo uma forma sem precedentes de apropriação da riqueza por poucos sujeitos  Uma das características marcantes do modo de produção capitalista é a necessidade de criar mecanismos de conformação e manutenção de poder.
Entre eles, está a divisão social e internacional do trabalho e a lógica de funcionamento que provoca mutações para que os órgãos vitais apareçam e se desenvolvam como não vitais.
A separação dos sujeitos da realização de suas vidas, a precarização das condições de trabalho e de pertença aos territórios, acentuou os vínculos de dependência e subordinação dos que vivem da venda de seu trabalho.
Segundo o IBGE, mais de 190 milhões de brasileiros se dividem entre moradores do campo e da cidade. Enquanto o campo é composto por quase 30 milhões (13,5%) na cidade habitam (84,5%), mais de 160 milhões.
Mas esta lógica de separação formal entre o campo e a cidade não é tão real assim.

1. Migrações forçadas pelo mundo do trabalho
A história das migrações no interior da nação e para o exterior tem relação direta com a história da concentração de terra e da superexploração dos trabalhadores do campo.
Isto evidencia a tragédia acentuada da questão da educação, saúde, transporte, habitação, tanto no campo quanto nas cidades, e relata a forma como o Estado brasileiro destina seus recursos e trata uma parte da cidade como prioridade.
Estes elementos combinados revelam uma estratégia de poder sobre a produção em que o monocultivo e o latifúndio assumem a condução do processo, via coerção popular e/ ou consenso parlamentar. Isto é similar à dominação dos grandes projetos nas cidades.
O grande capital atua também na agricultura brasileira, e se enriquece às custas da necessária mobilidade do trabalho e da valorização especulativa de suas terras.
Dos 5.2 milhões de estabelecimentos no campo, o latifúndio, com mais de 1 mil hectares, fica com 43% do território produtivo do País e soma apenas 1% do total de proprietários, já a pequena propriedade corresponde a 85% dos estabelecimentos e produz em uma área de 24% do total.
Este Brasil do grande capital expressa a falácia de uma história de poder que relega o popular aos limites da existência humana e que impossibilita a pertença no campo e nas periferias da cidade para parte expressiva de sua população.
Segundo o valor econômico, as 5 principais commodities do Brasil – minério de ferro, petróleo bruto, complexo da soja, açúcar e complexo de carnes – foram responsáveis por 43% das exportações do País.
Já os pequenos produtores cumprem com a humana tarefa de produzir alimentos - 87% da mandioca, 70% do feijão e 34% do arroz - em condições severas ditadas pelo grande capital em sua aliança com o Estado.
Os grandes debates sobre as políticas públicas devem ser feitos com base na contradição capital-trabalho, em especial as conseqüências das privatizações da terra, da água e das sementes.
Essa lógica dominante tem feito com que parte expressiva dos produtores de alimentos se veja enroscada nessa cadeia desumana de trabalhar para sobreviver, sem tempo para pensar e atuar de forma distinta da aprisionada.

 2. O campesinato: a classe e seu projeto
 Dentro da ordem, o campesinato, enquanto classe, assume seu projeto de vida e luta por direitos constitucionais que permitam à classe trabalhadora consolidar uma vida com dignidade para o campo e para a cidade.
Fora da ordem, o campesinato trabalha para consolidar um projeto de sociedade com base em um plano em que o camponês seja o centro de irradiação do desenvolvimento, cuja relação com a terra não é a da troca utilitária mercantil, mas de convivência recíproca e respeitosa.
Um dos grandes desafios do campesinato tem a ver com a reafirmação, no território, do enraizamento dos jovens no campo.
Para isto, são necessárias políticas públicas que garantam possibilidades de realização de uma vida digna e plena de direitos no campo. Educação, saúde, transporte, moradia, crédito e venda dos seus produtos numa outra lógica de estímulo à produção e circulação das mercadorias, tendo o humano como centro.
O campo e a cidade juntos conformam a classe trabalhadora brasileira. Parte expressiva desta classe tem sido relegada à uma política pública periférica, frente à centralidade dos gastos do Estado com o grande capital.
A história da dominação no Brasil encontra no capitalismo uma forma sem precedentes de apropriação da riqueza por poucos sujeitos. E de produção de riqueza pela maioria da população que não consegue sobreviver do fruto de seu trabalho.
A ruptura só ocorrerá através da organização popular unificada entre campo-cidade, cuja irradiação de poder institua uma aliança dos que vivem do trabalho e lutam por se realizar em dita produção.
É necessário que o organismo vivo se levante e assuma com consciência seu papel vital no jogo das contradições. E reforce, na sua vitalidade redescoberta, a necessidade de construção de uma história de poder popular que faça tremer as matérias políticas e econômicas inorgânicas.
A via campesina é um organismo vivo em movimento. Aliada às lutas da cidade, agita um vulcão a entrar em erupção. Esse vulcão é a classe que vive do trabalho e que precisa romper com as amarras (in)formais que a escravizam na lógica fragmentada da dominação.

Roberta Traspadini 
é economista, educadora popular, integrante da Consulta Popular/ES.


 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Padre Adolfo Rojas Jiménez, sacerdote católico venezolano, diz que Manifesto Comunista é livro de cabeçeira



Padre Adolfo Rojas Jiménez, sacerdote católico venezolano que apoya al gobierno bolivariano de Hugo Chávez.

Durante su intervención recomendó a los fieles leer el Manifiesto del Partido Comunista y utilizó algunas categorías marxistas como "socialismo" y "medios de producción" para explicar la actual realidad venezolana. * Nació en Barquisimeto, estado Lara, el 27 de septiembre de 1938. Hijo de Clemente Rojas, obrero, y Dominga Jiménez de Rojas, una mujer de pueblo y semianalfabeta. * Estudió en el Seminario de la Divina Pastora, en el estado Lara. * Graduado en Teología en la Universidad de Montreal del Seminario de San Bonifacio, Canadá. * Fue ordenado sacerdote en 1962 * Graduado como licenciado en Teología Bíblica en la Universidad de Montreal, Canadá. * Fundador en 1970, de la parroquia universitaria Santa Sofía en la Universidad Católica de Los Andes. * Docente de aula desde 1974 en el ciclo Básico Superior que luego se convirtió en el Politécnico Universitario


domingo, 12 de junho de 2011

Decisão sobre a Sadia preocupa trabalhadores

A indefinição sobre a fusão operacional entre Sadia e Perdigão, que está sendo discutida no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), preocupa Chapecó, no oeste de Santa Catarina, onde a Sadia tem uma de suas unidades industriais.
Representantes dos trabalhadores da empresa dizem que já encontram dificuldades na negociação de melhorias salariais, enquanto produtores temem o distanciamento na tomada de decisões. De outro lado, concorrentes salientam que o monopólio não é saudável para ninguém.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf) é contra a fusão. 'Quanto maior, quanto mais internacional, menor é a relação com o agricultor', diz o coordenador da entidade em Chapecó, Celso Ludwig. 'Não enxergamos com bons olhos.'
Segundo Ludwig, os produtores, assim como os consumidores, ganham com a competição de mercado. 'E não estamos falando de qualquer produto, mas de um que faz parte do café da manhã e do almoço da grande maioria da população.'
Contra a fusão também está o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Chapecó (Sitracarnes), embora o presidente da entidade, Jenir Ponciano de Paula, não tenha expectativa de reprovação no Cade. 'Para o trabalhador, só de falar na fusão já piorou.'

A INVENÇÃO DAS "EX-FAVELAS"

Na última semana de maio, o Rio de Janeiro passou a ter menos 44 favelas. Esta parece ter sido a última de uma série de subtrações no número de favelas da cidade - que cai vertiginosamente desde agosto passado, de acordo com as contas oficiais. Para se ter idéia do tamanho da queda, em todo o município, a quantidade de favelas despencou de 1.020 para 582, em apenas dez meses. Os dados são do Instituto Pereira Passos (IPP).

Apesar da diferença na contagem e mesmo diante da recente febre de remoções de comunidades populares por conta dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016, as 438 favelas a menos não sumiram da noite para o dia. Tudo indica que parte delas tenha apenas deixado de fazer parte dos cálculos oficiais, pelo menos, daqueles que se referem à categoria favela.

Os últimos 44 locais que deixaram de ser assim classificados, passaram a ser oficialmente chamados de “comunidades urbanizadas”. A mudança foi feita a partir de dados fornecidos pelo IPP e a Secretaria Municipal de Habitação (SMH). O critério básico adotado para a troca no nome foi a quantidade de serviços urbanos disponíveis nestes locais - que seria similar àquela fornecida em outros bairros da cidade, segundo o IPP e a SMH.

A nova classificação rendeu diversas manchetes nas editorias de cidade dos grandes jornais cariocas, que trataram de batizar as mais novas 44 “comunidades urbanizadas” de “ex-favelas”. Nas redes sociais, o termo “ex-favelado” - derivado da polêmica - pegou e foi motivo de piadas.

Morador do conjunto de favelas da Maré há 16 anos, o fotógrafo Francisco Valdean, foi um dos que protestou com humor contra a nova classificação oficial. Valdean lançou em seu blog O Cotidiano, uma série de posts que chamou de “O diário de um ex-favelado”. Nela o morador e convidados narram, dia após dia, o que não mudou em algumas das agora “ex-favelas”. Para Valdean a nova classificação oficial, além de não ter razão de ser, não apresenta impactos práticos na vida dos moradores. “Favela é uma categoria cheia de estigmas. Então, alguns pensam que ao mudar o nome, também haverá a atribuição de valores positivos ao lugar. Mas não é simplesmente mudando a categoria que se vai mudar a realidade”, diz.

A Baixa do Sapateiro, onde mora Valdean, foi uma das cinco comunidades da Maré, escolhidas para deixarem de ser favelas. O morador afirma não compreender o critério utilizado para declarar o local uma “comunidade urbanizada”. “Aqui, pelo que eu conheço, as comunidades incluídas nessa nova definição não são necessariamente aquelas que têm mais serviços. Vila do João e Vila dos Pinheiros, que também são da Maré, têm as mesmas condições que as demais comunidades daqui e, nem por isso, foram definidas como ex-favelas”, questiona o “ex-favelado”.

Ex-favelas e megaeventos

Para o historiador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marcos Alvito, um decreto não pode apagar a história. O estudioso atribui a nova classificação a uma estratégia empreendida pelo poder público para apresentar uma cidade compatível com expectativas internacionais, que só fazem aumentar com a proximidade dos megaeventos. “A palavra favela representa as lutas de seus moradores. Lutas pela permanência nos locais, por melhores condições de vida. Estamos diante de uma vontade de positivar a cidade para o mundo com a chegada da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Um processo utilizado também como pretexto para remoção de comunidades, favorecendo a especulação imobiliária e algumas das grandes empresas envolvidas”, analisa.


A moradora Gizele Martins: "Não é mudando apenas o nome que passo a me sentir cidadã".Para a estudante de Jornalismo Gizele Martins, moradora da Maré, a mudança de “favela” para “comunidade urbanizada” também tem relação com a chegada dos megaeventos esportivos. “O motivo da troca de nome tem a ver com interesses do Estado em mostrar que o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa - esta que vai ser sede das Olimpíadas, da Copa do Mundo - está tranqüila, que não tem problemas estruturais e políticos. Tudo isto é para tranqüilizar quem vem de fora, mostrar que todos os recursos que o Estado tem recebido para investir na cidade estão sendo bem gastos”, afirma.

Gizele diz ainda não compreender o critério adotado para justificar a nova classificação, já que a quantidade de serviços não influi necessariamente na qualidade. “Quero pagar luz sim, quero pagar impostos sim, mas preciso primeiro ter direito a uma iluminação de qualidade, ter segurança de qualidade, hospitais, mais escolas para atender a todos os moradores. Quero ter habitação de qualidade aqui. E não é mudando apenas o nome que passo a me sentir cidadã. Quero todos os outros direitos”, reivindica a estudante.

Oficialmente, o que é favela?

A pergunta foi feita para o próprio IPP, realizador da recontagem que deu origem às novas 44 “comunidades urbanizadas”. A assessoria de comunicação do instituto informou que, na verdade, o estudo com a nova classificação não foi divulgado para o grande público e que as informações dadas pela grande imprensa foram obtidas a partir de entrevistas com representantes do órgão. Ainda de acordo com a assessoria, a divulgação oficial da nova configuração das favelas será feita após a atualização do Sistema de Assentamentos de Baixa Renda, o SABREN, [http://portalgeo.rio.rj.gov.br/sabren/index.htm], que deve ocorrer nas próximas semanas.

No ano passado, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou a pesquisa “Desigualdade e Favelas Cariocas: a cidade partida está se integrando?”. O estudo, que recebe a chancela do IPP, oferece uma delimitação do que é favela, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do Censo Demográfico. Foram analisadas as situações de renda, trabalho e condições gerais de vida em locais como o Complexo do Alemão, Jacarezinho, Rocinha, Cidade de Deus e Maré.

O conjunto de favelas da maré: menos seis (Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Nova Holanda, Parque Rubens Vaz, Parque União e Timbau)
O coordenador da pesquisa, o economista do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Cortes Neri, afirma que a grande diferença entre favela e asfalto, é a presença do Estado, na educação, saúde, além de outros aspectos marcantes como a desigualdade na transferência de renda.

Neri, entretanto, faz um alerta quanto a insuficiência do conceito utilizado para definir as favelas. “Os conceitos são problemáticos, por isso não temos um ‘retrato’ colorido e em alta definição desta realidade. O máximo que temos é uma ‘foto em preto e branco’. Mas, existe algo mais preciso que isso? Na pesquisa, usei o conceito de aglomerado subnormal que, evidentemente, é problemático. Os trabalhos sobre favela costumam estar centrados em questões específicas e em dados que já estão defasados, como aqueles do Senso 2000. Estas pesquisas fazem o contraste entre asfalto e favela”, explica o economista.

Neri também chama atenção para como o instrumento oficial de identificação dos espaços da cidade pode influir diretamente na quantidade favelas existentes numa determinada região. “Em São Gonçalo, por exemplo, quase não há favelas, de acordo com as classificações oficiais. Isso não quer dizer necessariamente que lá haja poucas favelas, mas pode indicar que no município do Rio o instrumento utilizado encontra muito mais favelas do que em São Gonçalo”, esclarece.

Desta vez o critério oficial utilizado pelo IPP para dizer o que é ou não favela também passa pela presença dos serviços públicos e pelo grau de urbanização em cada local. De acordo com Francisco Valdean, esse critério não se sustenta quando confrontado com a realidade das comunidades. “Segundo o critério atual, quase todas as favelas deixariam de ser favelas. Na minha rua o esgoto entope e quem desentope são os moradores. Então, serviço de esgoto tem, mas não é o ideal. Se considerássemos situações como essa para avaliar o que é favela, muitas delas poderiam deixar de existir de uma cajadada só, já que várias contam com serviços públicos”, diz o morador da Baixa.

Na opinião do historiador Marcos Alvito, este critério pouco tem a acrescentar. “Por mais que o Estado implemente serviços na favela, ela continuará a ser diferente. Melhor do que tentar tapar o sol com a peneira, seria positivar o termo favela, mostrando a história de luta de seus moradores, que é uma história de superação. Daqui há 100 ou 200 anos eu acharia interessante que estes espaços continuassem a ser chamados de favelas. O nome carrega uma história”, sugere.



Por Thiago Ansel

Publicado no Observatório de Favelas em 8.06.2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Eduardo Galeano • Sangue Latino



Um dos grandes pacifistas de nossa era, autor do livro "As veias abertas da América Latina", Eduardo Galeano concede ao Canal Brasil a sua típica visão poética sobre nosso planeta e especificamente sobre nosso continente.

GREVE DO MAGISTÉRIO

Camaradas, Bom dia!

Em Santa Catarina está fervilhando uma greve do magistério estadual. essa greve embora manifeste um processo prolongado de precarização da educação no estado, surpreende pela massiva adesão tanto do magistério como da sociedade! e de forma muito repentina modifica substancialmente a subjetividade de vários setores da classe trabalhadora para a reconstrução da uniao enquanto classe, e da mobilização social como a forma de luta.
Muitas coisas começam a se desvendar nos instrumentos de articulação já constituidos. PT, CUT, CONSULTA, VIA, com suas velhas formas de mobilizar em vista da negociação pelo alto. um grupo reduzido de sabichões decidem o que vai ser negociado e o que vai ser feito na mobilização. em cada momento se torna mais explícito a burocratização legalista da greve. os burocratas sindicais reduzem todo o levante dos trabalhadores a simples matematizações salariais e insuportáveis explicações de artigos legais.
NUNCA o estado burguês contou com uma defesa tão enganjada de seus artifícios jurídicos de dominação de classe, como a que é feita por esses dirigentes, agora transvestidos de representante dos trabalhadores. logo, essas mesmas criaturas que atacam de forma veemente qualquer crítica mais a esquerda, já caminham de mãos dadas com o que há de mais concervador na política e no estado.
Derepente, o discurso do governador, da RBS e do SINTE estavam iguaizinhos. No dia de ontem ocorreu assembléias regionais em todo o Estado em função de uma proposta vergonhosa enviada pelo governador. e o SINTE veio disposto a acabar com a mobilização e aceitar a fatídica rendição. para a surpresa de todos os centralistas burocráticos a resposta foi não a rendição e sim a continuação da greve. e teve mais, exigiram o fim do debate raso, e a imediata politização da luta.
Sem ilusões, tudo ainda é muito espontâneo, e pode não resistir a pressão contrária que a mídia, o governo e agora as lideranças ressentidas do SINTE e do PT. (É bom lembrar que os outros partidos estão magioritariamente contra a greve, os professores e a educação). Só estou explicando que a forma que o PT se coloca a favor é superficial, contraditória e em alguns momentos enganadora.
Assim como O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, os professores dia após dia vem dizendo NÃO!!!, NÃO a esse modelo de educação, NÃO ao governo jaguara, NÃO a burocratização legal da luta, NÃO ao centralismo burocrático, NÃO ao medo de ir pra rua, NÃO a rendição, NÃO as ameaças, NÃO a chantagem psicológica, um NÃO APÓS O OUTRO!
Mesmo que semana que vem por vários motivos venham a dizer sim... essa experiencia de vê-los dizendo NÃO é singular. É o maior ato educativo que eles estão ensinando pra sociedade catarinense.
Esse texto está sendo escríto as pressas no meio de um QG da greve!

Por: Luiz Fernando Ribeiro

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Filme - Povos do Xingu contra a construção de Belo Monte



Cenas gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro de 2009. Nesse período, os ministros do Meio Ambiente e Minas e Energia foram convidados a ir ao Xingu para discutir os impactos da obra de construção da usina de Belo Monte na região. Se concretizado, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo e vai causar impacto mais de 9 milhões de hectares de floresta, uma área equivalente a duas vezes a cidade do Rio.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global

 
A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros.

Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.

Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.

Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global.

Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania...

Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional.

É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.

Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.

Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido.

Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia - e talvez no mundo em geral - é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira - e muito menos será a última - crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras.

Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas.

Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras.

Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital.

Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização - adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio.

Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha.

Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.

Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.

Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.

Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.

Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão - “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).

Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!

(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br

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