Há algumas décadas os aparelhos de hegemonia privados, termo criado e
muito bem utilizado por Antônio Gramsci, professor italiano preso e
torturado até a morte pelo regime fascista de Benito Mussolini na
segunda guerra mundial, vem desempenhando um papel central para
manutenção do sistema capitalista. Para dar embasamento ao restante do
texto é importante esclarecermos o que são esses tais aparelhos de
hegemonia privados, eles resumidamente nada mais são do que organizações
que estão fora da estrutura do Estado, mas que junto a ele trabalham
para manter a sociedade sob o domínio de uma minoria, através da
divulgação de ideias reformistas e outras formas de alienação de massas.
Bons exemplos são os meios de comunicação e as igrejas, que sempre
estão com um discurso afinado e sereno para defender os interesses da
classe dominante.
É notório o quanto essas organizações são
tendenciosas. A manipulação de informações como ferramenta de domínio
das massas é uma antiga estratégia, seu exemplo mais clássico nos tempos
modernos pode ser personificado na imagem do Ministro Nacional de
Esclarecimentos Públicos e Propaganda da Alemanha de Adolf Hitler,
Joseph Paul Goebbels, que logo após os alemães atacarem covardemente um
destacamento das forças polonesas e assassinar todos, os vestiram com os
uniformes do exército nazista e os fotografaram, isso tudo a mando do
próprio Goebbels, em seguida divulgaram ao resto do mundo a notícia de
que as forças alemãs tinham sido atacadas e que havia sim a necessidade
de uma resposta imediata e enérgica para com a Polônia. Através dessa
mentira o regime nazista justificou sua invasão e toda a barbárie que se
seguiu no leste europeu perante a comunidade internacional.
No
momento atual estamos vivendo uma grave crise. Para Istvan Mészáros,
húngaro e grande pensador marxista, essa crise não é mais cíclica e sim
estrutural, caracteriza se assim pelo fato de as medidas que são
adotadas para contornar uma crise cíclica não terem efeitos mais que
amenizadores nessa. A falta de uma estrutura econômica e social
sustentável para o capitalismo faz com que suas fragilidades se exponham
e exacerbam muito mais, aumentando às lacunas e diferenças sociais
através da expropriação das terras de pequenos camponeses e acumulação
dos meios de produção nas mãos de poucos. Historicamente nesses momentos
acontecem grandes revoltas que acabam culminando em processos
revolucionários que acabam por alterar toda a estrutura da sociedade a
começar pelas relações de trabalho.
Infelizmente mesmo nós estamos
vivendo em uma conjuntura favorável a busca pela emancipação da classe
trabalhadora não estamos unidos e muito menos consciente do que está
acontecendo. Vivemos em uma sociedade que foi dividida em varias castas
diferentes por esses aparelhos de hegemonia privados. Ao invés de
existir as duas classes que caracterizam e dão corpo ao capitalismo, a
classe trabalhadora e a classe burguesa, a grande massa enxerga
sociedade repartida em homens, mulheres, jovens, velhos, negros,
brancos, amarelos, descrentes, crentes, lésbicas, gays, índios entre
outras diferenciações feitas e impostas como dogmas à opinião pública
pelos interessados em manter esse sistema explorador e gerador de
diferenças.
Manter as minorias afastadas umas das outras, impedir
com que o trabalhador se reconheça como agente histórico e desperte sua
consciência classista garante uma sobrevida ao capitalismo, já que ele
depende desse individualismo para se reproduzir. A ganância e o egoísmo
são ensinados as crianças desde o primeiro momento que estão expostas a
sociedade. A banalização do ser e a supervalorização do ter tem se
mostrado a principal forma de adestramento das massas.
Temos que
estar preparados se quisermos construir uma sociedade livre, justa e
igualitária nos direitos e deveres coletivos, múltipla e com diversidade
nas opções individuais, costumes e culturas. Manter se preso no
conservadorismo pode parecer ser muito cômodo no momento, mas nada mais é
que uma negação da nossa própria existência enquanto agentes políticos e
transformadores da realidade. Nossa luta é para que as diferenças
sociais sejam repudiadas e combatidas com veemência, mas as diferenças
de opinião ou opção sejam respeitadas e assimiladas.
Como diria o sábio Antonio Gramsci; "O desafio da modernidade é viver sem ilusões , sem se tornar desiludido ".
Por: Marcelo Cadore, Cordenador Estadual - SindaspiSC
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