O neoliberalismo da era FHC, defensora da austeridade fiscal e do Estado mínimo, recebera de herança uma dívida pública de 60 bilhões e entregou ao País uma dívida de 630 bilhões, tendo quebrado o País três vezes e deixado o governo em plena crise econômica. Enquanto na era neoliberal, o País quebrou três vez por conta de três pequenas crises localizadas: Russa, Indonésia e México. O Brasil do neosocialismo petista resistiu ao que foi considerado a segunda maior crise do capitalismo da história. Uma crise que ainda agora está dragando as economias da maior potência econômica do mundo, os EUA, e da segunda maior potência econômica, a UE.
As esquerdas no Brasil, se não repetirem o ditado de que a "esquerda só se une na prisão", poderá oferecer para o País uma grande ofensiva contra a herança neoliberal, empurrando para o lixo da história os partidos intimamente ligados às políticas neoliberais. Isso significaria uma aliança ideológica no primeiro turno, centrando os ataques todos na direita, e com isso lutando para levar candidatos de esquerda para o segundo turno, aonde a partir daí, poderiam se oferecer as diferenças de cada candidato da esquerda.
A era Lula deixará um grande legado para nossos historiadores. Primeiro, de que o governo Lula foi empurrado para esquerda apenas a partir da escalada golpista sob o factóide do mensalão. Isso confirma algumas passagens da obra de Marx em Luta de Classes em França, aonde ele apresenta como dialeticamente a voracidade dos reacionarios foram o fato fundamental para converter os socialistas em revolucionários. Guardadas as devidas proporções, o governo Lula Cardoso cujo Lula foi inclusive vaiado como "traidor" no Fórum Social Mundial, cujo o próprio, nessa fase de conluio com os meios de comunicação conservadores, chegou a declarar que nunca se achou um esquerdista, só saiu da centro-direita para a centro-esquerda após a escalada golpista do factóide do mensalão.
Os verdadeiros articuladores do neoliberalismo popular do primeiro mandato de Lula foi o triunvirato José Dirceu, José Palloci e Henrique Meirelles. José Dirceu representa a política de traição ideológica, descambando para o cinismo pragmático-eleitoreiro, a mesma relação que culminou com a recusa de Lula de sua origem esquerdista e as vaias de traído no Fórum Social Mundial. O que Dirceu representava politicamente, como realismo político, como alguém que se rendeu ao jogo sujo da política, Pallocci representava na economia, ele foi o principal responsável pelo estigma do primeiro governo Lula como sendo o terceiro mandato de FHC. Quando Dirceu caiu, subiu Dilma. Quando depois derrubaram o Pallocci, subiu Mantega. Esses dois foram os principais responsáveis por todas as grandes conquistas da centro-esquerda no Brasil, já no segundo mandato de Lula.
No entanto, restou Meirelles. Esse, um emigrado do tucano, um ex-banqueiro de um banco internacional, um fiel seguidor das políticas monetaristas-neoliberais, a mídia não tocou. E Lula não teve a coragem de tirá-lo, como não teria no caso de Dirceu e Pallocci, que só cairam a reboque dos ataques golpistas da mídia conservadora. Por isso mesmo, o Banco Central é a força mais retrógada no governo Lula, é a ilha de herança maldita que o governo Lula não rompeu. Esperemos que a Dilma tenha a coragem de romper com esse último entulho neoliberal, essa privatização da política monetária que está nas mãos dos "mercados".
Se a eficiência dos mercados não foi descaradamente desmoralizada com a segunda maior crise do capitalismo e atingindo o centro do capitalismo, então este exemplo provará. Quando veio a crise, o governo brasileiro liberou o compulsório (taxa de reservas dos bancos privados que ficam presas no Banco Central para efeito de política monetária), no entanto, os bancos privados ao invés de oferecer crédito com esse dinheiro compraram títulos públicos (assim, o dinheiro retornou ao governo).
Ato contínuo, o governo usou pesadamente e politicamente os seus dois únicos bancos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, através dele ofereceu crédito no momento em que a crise gerava escassez de crédito. Resultado, os bancos públicos quebraram porque não seguiram regras de mercado e foram manipulados politicamente? Não, eles cresceram mais do que os bancos privados, e o Banco do Brasil conquistou o maior lucro da história bancária do País. E isso em um país aonde os bancos sempre lucram muito.
Para a história, deve ficar claro que não cabe qualquer tentativa de aclamação heróica, tudo foi resultado de uma luta de classes que só foi possível graças a radicalização reacionária dos setores refratários da sociedade, o que acabou dialeticamente provocando o seu oposto, o aprofundamento das transformações sociais e do enraizamento político da centro-esquerda. Lula, se tivesse rompido com a política monetária neoliberal, poderia ter entrado na história com todos os méritos, o fato de Meireles e o Copom controlado pelo mercado (o dito BC independente) ter permanecido, prova que Lula foi muito mais resultado das circunstâncias do que de seus compromissos históricos com os trabalhadores brasileiros.
Mas, no entanto, suas últimas declarações mostram um posicionamento mais firme, isso sim, ainda que demasiado tarde, tem a dimensão histórica das reformas sociais que conquistamos nos últimos anos. Mas Dilma, ao que tudo indica, se mostra mais tenaz, valente, coerente e focada que Lula. Tudo nos leva crer que Dilma não será apenas a preservação das conquistas, mas efetivamente a chance de avançarmos muito além, porque convenhamos, todas as conquistas se deram dentro do segundo mandato, e ainda não estavam alinhadas. Agora, com a Dilma, o projeto está alinhado, tudo indica que podemos almejar em breve com uma taxa de crescimento a altura do povo brasileiro.
*wiki repórter Johan, Fortaleza-CE
sábado, 27 de março de 2010
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