quinta-feira, 1 de abril de 2010

BBB = Um imenso comercial sem intervalos em meio a tempestades hormonais

“BBB” é melhor forma de merchandising da televisão

Programa, que deu ao vencedor R$ 1,5 milhão, atrai todos os nichos mercado; audiência do reality show aumenta com o uso redes sociais e blogs na internet

“Minhas derrotas eu perco pra ganhar”, a frase “nonsense” do lutador pitboy Marcelo Dourado, vencedor do “Big Brother 10″, resume o vazio de “sentido” de mais uma edição do “zoológico humano” que teve 154 milhões de votos na sua final. Um recorde de participação mundial entre os reality shows do mundo que deve parte de seu sucesso no Brasil a entrada pesada dos usuários das redes sociais e ferramentas de postagem on-line como Twitter, Facebook, Orkut e blogs.

O que parecia ser um fenômeno limitado à TV aberta foi ressignificado com uma sobrevida on-line, na qual mesmo quem não assiste ao programa ouve falar dele e se posiciona sobre os “desacontecimentos” do laboratório televisivo.

Essa ideia da “torcida” que a televisão não pode materializar. Quem são esses 60% de votantes em Marcelo Dourado? Tornam-se frases, “flames” e disputas na internet. Como no Twitter da @mafiadourada que repercute a homofobia do vencedor: “o grande problema desse BBB10 foi juntar gays a seres humanos”. Mas a internet também introduz elementos críticos, de desconstrução dos discursos e comportamentos clichês, além das suspeitas de manipulação das votações levantadas pelos internautas.

Mais importante do que o que é dito pelos participantes da casa (onde está Jean, o homosexual que ganhou uma das edições? Que mudanças ele trouxe para a causa gay?) é esse componente “viral” do programa. Durante três meses, ou pelo menos nas últimas semanas, o BBB abduz e mobiliza um contingente de telespectadores/consumidores que migra de atração em atração, paredão a paredão, num comportamento randômico, mas previsível.

Daí a necessidade de “empacotar”, “glamourizar” esse cotidiano amesquinhado em “atrações” ultraeditadas e editorializadas: clipes de bundas malhadas, corpos ensaboados, músculos, festas a fantasia e figurinos escolhidos, choros copiosos, gritos, sussurros, orgias plastificadas, no meio do que realmente importa: merchandising e comercial sem fim. Não são os BBBs que valorizam as marcas, mas as marcas que dão subjetividade e singularidade aos participantes do BBB!!!

É o telespectador-produtor de audiência, a mobilização da vida que dá “alma”, com suas participações, ao vazio das atrações e virais. Afinal, logo os brothers serão esquecidos. Ou ganharão sobrevida em pontas de novelas, festas de “presença”, programas de fofocas e comerciais do varejo. Muito mais impressionante do que as opiniões polêmicas ou risíveis dos habitantes da casa, com suas subjetividades “prêt-à-porter” -o homofóbico, a “frágil guerreira”, o macho “alfa”, a lésbica, a drag queen, o gay-, é esse democratismo frouxo, United Colors of Benetton, de uma “diversidade” não problemática- um arco-íris de vendas potenciais para todos os “nichos” de mercado.

O dispositivo televisivo descobriu a melhor forma de venda. Em vez de teledramaturgia com intervalos comerciais, um mega comercial de carro, computador, televisor, refrigerante, protetor solar, creme de cabelo, detergente, tira-mancha, cartão de crédito, moto, celular, no meio de uma tempestade hormonal/emocional.

A telenovela do real não vale um milhão e meio para o vencedor, vale um passe-celebridade provisório para que alguns possam acumular capital social antes de desaparecer no limbo televisivo, substituídos pelo próximo “viral”. Vale milhões em ligações telefônicas, merchandising, publicidade, audiência para a emissora. Vale zilhões de subjetividades potenciais capturáveis para dar sentido, encanto, fetiche aos brothers despotencializados e “agregar valor”, “vida” às mercadorias.

IVANA BENTES é professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ e diretora da ECO-UFRJ

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