Segundo
dados mais recentes da FAO, a safra 2011/2012 deverá fechar com mais um
recorde de produção de cereais. Em números seriam 2,325 bilhões de
toneladas métricas, que se dividindo pela população mundial e por 365
dias do ano haveria uma disponibilidade técnica de 930 gramas para cada
terráqueo. Em termos dietéticos isto é mais que necessário para
alimentar a todos. Estes números são somente cereais. Se somarmos outros
itens da dieta humana (legumes, frutas, carnes, peixes etc.) então dá
para se empanturrar. Mesmo assim uma em cada sete pessoas passa fome.
Agora
vem a grande pergunta: o porquê de tanta fome pelo mundo? Será que a
diferença fica por conta do “gato que comeu” - usando nossa gíria
popular?
Sim
há um gato que comeu e continua comendo. Sinistramente há um grande
interesse político que assim o seja. Há uma certa analogia com o
“exército de desempregados” de Marx, uma manobra do modelo capitalista,
para manter salário baixos e com isto maiores lucros. Pela lei do
mercado, um exército de famintos também levanta preços.
Homem
com fome, como o homem analfabeto, seu espírito critico fica limitado.
Não há tempo para quem passa fome, pensar mais em outra coisa a não ser
como conseguir a comida para as próximas seis horas. Assim para manter
um nível de preço que seja condizente com os custos da indústria do
Agronegócio, é “necessário” que haja fome. Quem se beneficia com a fome
são os especuladores do mercado alimentício. Fora os desvios para o
mercado de bicombustíveis, os alimentos básicos transformaram-se em
objetos de especulação e manobra política, cujos preços aumentaram 35%
de 2010 para cá.
Por
outro lado, uma parcela da população de renda elevada acaba consumindo
alem das suas necessidades básicas. A ansiedade pela sobrevivência
gerado pela insegurança leva as pessoas armazenarem maior quantidade de
comida tanto em espécie, como através da comilança até onde alcança seus
limites físicos. Assim vemos dois limites catastróficos, uns morrendo
por doenças ligadas ao excesso de obesidade, e na outra ponta outros
morrendo de insuficiência alimentar. Neste último caso, sinistramente as
crianças são as maiores vítimas. A elevação dos preços agrícolas
ocorrido na primeira crise (2007/2008) empurrou mais 100 milhões de
terráqueos para o contingente da fome e miséria e na alta de 2010/2011
mais 40 milhões.
No
terreno político, a voz dos famintos não conta - se é que tem voz - nas
grandes resoluções. Uma imensa maioria das famílias mora no campo, por
conseqüência vivem da agricultura familiar onde não tem seus interesses
representados nas instituições econômicas multilaterais mesmo neste
mundo globalizado. Eles não têm lobby. A preocupação política está
sempre por conta da produção industrial, do crescimento do PIB, dos
índices da Bolsa de Valores. Depois disto vamos nos preocupar com a fome
– dizem eles. Só que esquecem que povo morto de fome não gera PIB.
Se
politicamente os países ricos ou desenvolvidos fizerem doações
generosas (não empréstimos) ativará a economia global. Em outros termos,
abrir mão da comilança é num primeiro momento reduzir o lucro das
multinacionais. Mas a médio prazo todos ganharão. O Brasil através de
uma distribuição de renda na forma de bolsas famílias gerou uma dinâmica
interna de mercado sem precedentes na história. Em termos orçamentários
é uma “titica”.
Sinistramente
o sistema capitalista como concebido, somente sobreviverá pela
diferença de mercado entre a oferta e a procura, que no final será a
morte de milhões pela fome para que os outros sobrevivam.
Por
ironia do destino, a única saída para salvar a economia do desastre
será pela solidariedade e não pela ganância de uma minoria privilegiada.
Sergio Sebold – Economista Independente e Professor.
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