No princípio era o verbo. Depois vieram os substantivos, os adjetivos, os pronomes.
E o homem começou a produzir discursos e a conquistar seu mundo por intermédio da palavra. Nominar para conhecer, conhecer para conquistar. E jamais houve arma mais poderosa do que a palavra.
E o homem usou a palavra para continuar suas descobertas. Para perpetuar suas experiências. Para acumular seu conhecimento.
E o homem usou a palavra para cativar amigos, para seduzir amantes, para celebrar comunhões.
E o homem usou a palavra para conquistar fiéis, para dominar territórios, para exercer o poder.
E o homem criou novas palavras para velhas coisas. Traduziu-as para novos idiomas, diversificou-as na torre que buscava a própria palavra em sua origem.
Mas a palavra sempre se impôs a qualquer homem. Sempre perdurou para além de qualquer discurso. E onde já não há rosas, ainda seu nome perpetuado para além de sua efemeridade. E onde já não há existência, palavras renitentes ainda existindo.
Ainda hoje, a palavra transformada em pulso eletrônico, em onda magnética, em pixel luminoso, concretiza-se na matéria etérea de significados da qual é feita.
Dominá-la e entregarmo-nos ao domínio que nos impõe. Eis o sentido último do encanto, do jogo, da paixão e de nossa devoção e vício. A palavra, vivida como profissão.
*Eduardo Carvalho
domingo, 22 de novembro de 2009
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