O capitalismo, como se apresenta hoje, está mesmo para terminar. Mas não pelas mãos das forças oprimidas para a libertação econômica da maioria, mas pelo comando das classes dominantes, que, inteligentes e "sensitivas” que são, também já viram que a mula já está deitando no chão, de tanto rosetarem com ela mancando
E outras formas de dominação estão na ordem do dia, pelos avanços tecnológicos, colocados a serviço do capital, e com a cooptação de grande parte da esquerda, conservadora que é, que não tem respostas a dar, por atrasadas que são e distantes das camadas populares, e que está inebriada pela sua autodenominada função de “vanguardas condutoras da massa oprimida”, muitos confundindo empregos de barnabés com "estar no topo do Poder".
A História vem de longe. Das comunidades dos clãs (mais horizontais) ao sistema feudal com seus vassalos, ocorreu a desapropriação pelos clãs mais fortes, constituindo uma classe social muito forte, a dos senhores de terras, ou senhores feudais, transformados em “nobres” e correspondentes diretos da “vontade divina”. É lógico que, mesmo parcamente, eram os únicos que tinham acessos culturais ou tinham ao seu dispor quem dominava a cultura, as artes e a ciência, absorvidas do mundo árabe.
Do sistema feudal ao mercantilismo, desenvolveu-se o movimento das novas forças de rapinagem econômica do Novo Mundo, que se apropriavam da produção manufatureira e proto-industrial que incipientemente surgiam na Europa (as etapas da História Econômica não foram bruscas ou datadas exatamente, como muitos parecem pensar).
Com a rapinagem das matérias primas e “especiarias” dos países conquistados nas Américas, Ásia e África, chegando ao Velho Continente, comercialmente tornaram-se mais lucrativas, junto com as produções primeiramente manufatureiras, e depois semi-industriais (navios, artefatos de navegação e roupas etc.) - portanto, naquele momento, mais importantes do que extensões de terras da aristocracia semi-falimentar e já sem Povo para explorar, pois a mão-de-obra urbana crescia na mesma proporção do sumiço da mesma do setor rural, com o advento da urbanização galopante.
Do mercantilismo para o capitalismo industrial foi um pulo, processo que apenas representou a consolidação de uma burguesia que se formou através da apropriação da mais-valia, do trabalho da maioria, acabando inclusive com os artesãos, sob a desculpa de que precisavam massificar industrialmente os produtos (a história dos vinagreiros franceses é um exemplo).
O capitalismo desenvolve-se em suas fases "nacionais", exploratória, intervencionista, imperialista e agora oligopolista por excelência, onde as corporações com altas tecnologias a seu dispor dominaram os Estados, os que se dizem representantes do Povo e parte da Alma de populações inteiras, onde o fator cultural para a dominação é a alienação, má informação e quase nenhuma educação, além da iniqüidade social sem acessos disponíveis à saúde, trabalho, renda, lazer, segurança, transporte, etc.
Mas o espaço está pequeno para as corporações transacionais.
Corromper o Estado está caro e, volta e meia, eles têm uma surpresa (Irã,Venezuela, Bolívia e outros). Ficar matando os Sadams, Kadafis, e ficar sendo acusados de promover doenças e acidentes em líderes que se opõem ou podem ameaçá-los, suja muito a imagem. Os Estados ainda têm muitas regras republicanas e dá muita despesa corrompê-las.
Assim, é já bem visível o que se pode chamar de “Governo Mundial”, que dá as cartas a partir do domínio econômico, hoje representado por não mais de 300 famílias no mundo todo, muito bem disfarçadas em oligopólios, “holdings”, conglomerados multi-setoriais, em uma nova “árvore genealógica” muito mais econômica do que genética. É na defesa do interesse destes poucos e do emprego de seus capatazes subalternos que se dará a Nova Ordem Mundial.
Além do que, os exércitos de reserva produtiva estão quase maiores do que os ativos operários, e a tecnologia está a dispensar a necessidade de mão-de-obra, colocando a seguinte questão: o que fazer com os pobres sem lugar no sistema produtivo?
Nada! Deixá-los morrer à míngua, com supressão de direitos, saúde, e tudo o que sabemos. A população mundial sofrerá (está sofrendo) ataques onde os mais frágeis irão sucumbir sob venenos, transgênicos, poluição, violência social, urbana e rural.
A transição do feudalismo ao mercantilismo e deste para o capitalismo foi à custa do extermínio pela fome e peste de populações inteiras, além de guerras de conquista, com seus buchas de canhão na frente de batalha. Assim será a superação desta etapa do capitalismo. As classes dominantes sabem que, "para mudar, tem que haver motivos visíveis, para tergirversar os ocultos".
Portanto, o que vemos agora, e é o que eu quero sustentar, não é uma crise terminal do capitalismo, A FAVOR dos trabalhadores e oprimidos em geral, como muitos estão a propalar, vendo “Revolução” onde só há lamúrias pelo que foi perdido e era custeado pelo terceiro mundo. Há sim uma Etapa de Acumulação Capitalista, como a de 1929, do pós-guerra, dos anos 80 e agora. Cada uma destas etapas correspondeu a uma fase do capitalismo (nacional-imperialista, globalizado geopoliticamente e, agora, economicamente unificado).
Assim, penso eu, estamos, talvez, vendo o(s) último(s) movimento(s) do capitalismo, tal e qual ele se apresentou até hoje, representando a etapa de exploração do trabalho, no período industrial mecânico de desenvolvimento da humanidade, que está sendo substituída pela era Cibernética e Nanotecnológica. E com as classes dominantes muito fortalecidas, podendo trocar a mão-de-obra cara, e senhora de consciência sobre seus direitos sociais, pelos quase indigentes, em termos de direitos sociais, como somos nosotros, abaixo da linha do equador.
Desta forma, ao contrário do que vem sendo propalado pela maioria da esquerda brasileira, a que chamo carinhosamente de Ex-Esquerda Corporation W.C., o que há acima do Equador em nada se assemelha a períodos revolucionários ou mesmo pré-revolucionários, constituindo-se, no máximo, em um período de revoltas pelo “bem estar” perdido e, pelo visto, com muito pouca consciência ideológica, haja vista o desprezo ou pouca relevância que estes movimentos relegam aos que construíram boa parte da riqueza da Europa e EUA, como são os de origem árabe, asiática (de menor porte no exterior) e latino-americana (afinal, “farinha pouca meu pirão primeiro”).
Como já escrevi antes, em um comentário ao artigo do Leo Lince, no Correio da Cidadania, penso que o máximo que dá para fazer por agora é aproveitar o momento para tentar unificar as esquerdas com um programa de não colaboração de classes (não só em belas palavras), recusa à participação do jogo institucional, abdicando de quaisquer participações em governos, parlamentos e partidos institucionalizados na ordem legal burguesa, que de democrática, na verdade, nada tem.
Mas, a ver o que acontece com aqueles que se dizem parte da esquerda revolucionária, isso parece longe, lá no primeiro mundo e aqui no terceiro, particularmente no Brasil, onde temos vários reduzindo seus patamares ideológicos, programáticos, ampliando à direita seus leques aliancistas.
Tem Partido que diz ter se formado integrado pela via Revolucionária, mas que mascou o mesmo cacoete eleitoral do “derrotar Serra nas urnas e DiLLma nas ruas”, igualzinho aqueles que se dizem de esquerda e permanecem no PT. Outro que se diz retornando ao terreiro Revolucionário esteve há pouco na Grécia em reunião de Partidos que se dizem Comunistas e Operários (como sabem, a prática é o que determina o que somos e não os slogans), em uma sopa de letrinhas entre leninistas, estalinistas e outros, onde é impossível enxergar uma possível unidade, além dos nomes de suas agremiações. Ainda nos brindou, este mesmo partido brasileiro, com a divulgação, como algo positivo, de que, na Rússia, a principal oposição a Putin é o... Partido Comunista Russo, de vocação stalinista inconteste. Vendem velocípede sem rodinhas como bicicleta de velocidade, e justificando a façanha como um ato de “agitação e propaganda”... Só se for contra. Outros apóiam os rebeldes financiados pela OTAN, em ação preparatória para a rapinagem energética em curso. Estes são os “revolucionários brasileiros”, ao menos aqueles que o dizem ser e estão vendo saída na política institucional burguesa, reunidos que estão em partidos que, a meu ver, apenas justificam o falso aspecto de “democracia” que temos entre nós.
Mas, neste curso de Titanic que vivemos, caso algo não surja de novidade no cenário político (e terá de ser obra dos homens e mulheres, e não de algum Deus ou Santo Salvador), o que poderá suceder?
Ora! A literatura, as artes pictóricas e musicais e a filmografia mundiais estão fartas de nos alertarem sobre o futuro, embora muitos duvidem da capacidade de alguns artistas nos colocarem frente a frente com o futuro.
Obras como Guernica (Pablo Picasso), A Barcarola (Pablo Neruda), Tropicália (Caetano Veloso), Vidas Secas (Graciliano Ramos), 2001, Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick), Idaho Transfer (Peter Fonda), O Discreto Charme da Burguesia (Luiz Buñuel) são algumas que posso citar, assim de repente, para ilustrar o que digo.
Mas existem três filmes que não posso deixar de colocar centralmente nesta exposição. O primeiro é O Sétimo Sêlo, obra prima de Ingmar Bergmann, onde, há cerca de 40 anos, nos colocou de frente para a invasão obscurantista das religiões (que me desculpe aquela ínfima minoria que lê o Evangelho como pessoas normais e progressistas, e não como aproveitadores da Fé alheia). As hordas de viventes submissos e tementes à morte (leia-se qualquer subversão da ordem), que apenas acompanham a própria mediocridade, através da iniqüidade social a que se acostumaram, sem certo comodismo (pensar e agir com a própria cabeça dá muito trabalho, angústias e aflições).
O segundo filme ao qual me reporto como principal é O Ovo da Serpente (também de Ingmar Bergmann), uma aula para aqueles que insistem em dizer que tudo o que está se configurando é obra de “interesses mais ou menos estanques entre si”, para combater o que acham uma exagerada visão própria de adeptos do que chamam de “teoria da conspiração”. Como se eu pudesse acreditar que o intrincado e complexo processo capitalista mundial, com sua rede de multi-configurações, pudesse ser erigido a partir de uma “mão invisível”, como quis que acreditássemos o tal do Adam Smith - em quem nem os verdadeiros capitalistas acreditam, apenas o apresentam como ídolo, para enganar os trouxas e dar desculpas para facínoras manterem as suas mãos bobas em uso.
E o terceiro filme, este do diretor Jean Jacques Annaud, que filmou o livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa, nos coloca de frente com uma situação que persiste entre nós desde os tempos imemoriais, a segregação social e econômica da grande maioria do povo.
E tem gente que diz que a humanidade avançou. Não, a maioria da humanidade não avançou, se formos comparar a evolução tecnológica, extração e acumulação de riquezas, acumulação de saberes com o contingente social segregado através dos tempos e, principalmente, na atualidade. Às vezes penso que muitos que se dizem progressistas acham que o mundo começa nos jardins paulistas, passa por Ipanema e acaba em Nova Iorque...
Podemos relacionar um quarto filme, se considerarmos a última cena da tragicomédia, O Jovem Frankenstein (Roman Polansky), quando a personagem da linda Sharon Tate, em fuga do castelo do Vampiro, acaba por morder o cangote de seu herói (o próprio personagem de Polansky), indicando-nos que o vampirismo, afinal, venceu e saiu dos domínios restritos da Transilvânia...
Pensando, então, em tudo o que já li, vi e ouvi, e que há tempos nos vem alertando sobre o que se sucederá com nosotros, avento que urge, portanto, que não acompanhemos a visão pragmático-industrial do capitalismo, mas sim entendamos a lógica de comunidades consideradas mais primitivas que as nossas (índios bolivianos, dos Chiapas etc.), com suas lógicas mais simples e econômicas e de menor complexidade, para sabermos resistir aos novos tempos. Estes, considerados por muitos “vanguardistas de molde europeu” como politicamente inferiores, pois refratários às formas de organizações impostas pelas sociedades que nos exploram há 500 anos, são os que estão a nos dar exemplos de resistência, e até enquadramento de governante - que até apóiam (no caso de Evo Morales), mas dos quais não são vassalos, como se comportam os que fazem parte de nossa colonizada Ex-Esquerda Coorporation W.C em relação aos seus eleitos.
Infelizmente, o sonho de consumo extremo democratizado “para todos”, a adoção de quinquilharias tecnológicas, tornadas ultrapassadas, como verdadeiros calhambeques, a cada seis meses, nada mais é do que o grande desvio pequeno burguês que se entranhou na alma dos que dizem terem vindo para revolucionar a política, mas que apenas se adaptaram ao que veio de fora, como “última novidade”.
O jeito foi se adaptar à institucionalidade burguesa, mas com discurso esquerdista, para salvar a própria honra, mesmo desonrando a memória daqueles que verdadeiramente lutaram e lutam por um mundo realmente diferente. Não passam de Calabares modernos, para não os chamarmos pelo nome daquele ex-cabo da Marinha de triste existência, ainda entre nós. Já a burguesia não são os traidores, são os próprios inimigos de classe, que temos de combater diuturnamente, sem concessões tão fartas.
Bem, o que dá o nome a este artigo (Junto da Burguesia, Só Haverá Lugar para os Jacarés) decorre de que, ao andar nas margens do Canal de Marapendi, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, “a cidade maravilhosa”, deparamo-nos com enormes Jacarés, com cerca de até 3,5 metros de comprimento e cerca de 250 Kg, muito bem adaptados em ilhas de lodo feito do esgoto que sai “in natura” das ligações clandestinas dos edifícios da burguesia, misturando-se com o esgoto também não tratado das comunidades (antes se chamavam Favelas), desaguando no mar, “embelezando” a paisagem e turbinando o banho de mar dos cariocas e turistas “do Leme ao Pontal”. Não há praia no Rio e em Niterói em que o esgoto não esteja presente (que me conteste quem for capaz).
A minha conclusão, na mesma hora em que vi tal cena, foi a de que só poderão participar da festa da burguesia, e assim mesmo em função subalterna (quem sabe como animal para visitação turística, como já o são os moradores das favelas “pacificadas”), aqueles que se transformarem em Jacarés e se submeterem a morar no esgoto da iniqüidade social, que cada dia atinge mais e mais habitantes. Malgradas as novas nomenclaturas e faixas econômicas maquiadas, como é a nossa Nova Classe Média, que ganha ATÉ R$1500,00 por mês, ou R$333,00 “per capta” em famílias de 4 pessoas, sem educação, transporte, segurança e saúde pública.
Bom Jacaré para todos, neste 2012!!!
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e não está gostando do cheiro deste 2012.
Tita Ferreira, pessoa cuja contribuição e observações foram essenciais para este artigo, recomenda o livro Não Verás País Nenhum (Ignácio de Loyola Brandão) e eu ainda sugiro o Admirável Mundo Novo, do excelente escritor estadunidense Aldos Huxley.
E outras formas de dominação estão na ordem do dia, pelos avanços tecnológicos, colocados a serviço do capital, e com a cooptação de grande parte da esquerda, conservadora que é, que não tem respostas a dar, por atrasadas que são e distantes das camadas populares, e que está inebriada pela sua autodenominada função de “vanguardas condutoras da massa oprimida”, muitos confundindo empregos de barnabés com "estar no topo do Poder".
A História vem de longe. Das comunidades dos clãs (mais horizontais) ao sistema feudal com seus vassalos, ocorreu a desapropriação pelos clãs mais fortes, constituindo uma classe social muito forte, a dos senhores de terras, ou senhores feudais, transformados em “nobres” e correspondentes diretos da “vontade divina”. É lógico que, mesmo parcamente, eram os únicos que tinham acessos culturais ou tinham ao seu dispor quem dominava a cultura, as artes e a ciência, absorvidas do mundo árabe.
Do sistema feudal ao mercantilismo, desenvolveu-se o movimento das novas forças de rapinagem econômica do Novo Mundo, que se apropriavam da produção manufatureira e proto-industrial que incipientemente surgiam na Europa (as etapas da História Econômica não foram bruscas ou datadas exatamente, como muitos parecem pensar).
Com a rapinagem das matérias primas e “especiarias” dos países conquistados nas Américas, Ásia e África, chegando ao Velho Continente, comercialmente tornaram-se mais lucrativas, junto com as produções primeiramente manufatureiras, e depois semi-industriais (navios, artefatos de navegação e roupas etc.) - portanto, naquele momento, mais importantes do que extensões de terras da aristocracia semi-falimentar e já sem Povo para explorar, pois a mão-de-obra urbana crescia na mesma proporção do sumiço da mesma do setor rural, com o advento da urbanização galopante.
Do mercantilismo para o capitalismo industrial foi um pulo, processo que apenas representou a consolidação de uma burguesia que se formou através da apropriação da mais-valia, do trabalho da maioria, acabando inclusive com os artesãos, sob a desculpa de que precisavam massificar industrialmente os produtos (a história dos vinagreiros franceses é um exemplo).
O capitalismo desenvolve-se em suas fases "nacionais", exploratória, intervencionista, imperialista e agora oligopolista por excelência, onde as corporações com altas tecnologias a seu dispor dominaram os Estados, os que se dizem representantes do Povo e parte da Alma de populações inteiras, onde o fator cultural para a dominação é a alienação, má informação e quase nenhuma educação, além da iniqüidade social sem acessos disponíveis à saúde, trabalho, renda, lazer, segurança, transporte, etc.
Mas o espaço está pequeno para as corporações transacionais.
Corromper o Estado está caro e, volta e meia, eles têm uma surpresa (Irã,Venezuela, Bolívia e outros). Ficar matando os Sadams, Kadafis, e ficar sendo acusados de promover doenças e acidentes em líderes que se opõem ou podem ameaçá-los, suja muito a imagem. Os Estados ainda têm muitas regras republicanas e dá muita despesa corrompê-las.
Assim, é já bem visível o que se pode chamar de “Governo Mundial”, que dá as cartas a partir do domínio econômico, hoje representado por não mais de 300 famílias no mundo todo, muito bem disfarçadas em oligopólios, “holdings”, conglomerados multi-setoriais, em uma nova “árvore genealógica” muito mais econômica do que genética. É na defesa do interesse destes poucos e do emprego de seus capatazes subalternos que se dará a Nova Ordem Mundial.
Além do que, os exércitos de reserva produtiva estão quase maiores do que os ativos operários, e a tecnologia está a dispensar a necessidade de mão-de-obra, colocando a seguinte questão: o que fazer com os pobres sem lugar no sistema produtivo?
Nada! Deixá-los morrer à míngua, com supressão de direitos, saúde, e tudo o que sabemos. A população mundial sofrerá (está sofrendo) ataques onde os mais frágeis irão sucumbir sob venenos, transgênicos, poluição, violência social, urbana e rural.
A transição do feudalismo ao mercantilismo e deste para o capitalismo foi à custa do extermínio pela fome e peste de populações inteiras, além de guerras de conquista, com seus buchas de canhão na frente de batalha. Assim será a superação desta etapa do capitalismo. As classes dominantes sabem que, "para mudar, tem que haver motivos visíveis, para tergirversar os ocultos".
Portanto, o que vemos agora, e é o que eu quero sustentar, não é uma crise terminal do capitalismo, A FAVOR dos trabalhadores e oprimidos em geral, como muitos estão a propalar, vendo “Revolução” onde só há lamúrias pelo que foi perdido e era custeado pelo terceiro mundo. Há sim uma Etapa de Acumulação Capitalista, como a de 1929, do pós-guerra, dos anos 80 e agora. Cada uma destas etapas correspondeu a uma fase do capitalismo (nacional-imperialista, globalizado geopoliticamente e, agora, economicamente unificado).
Assim, penso eu, estamos, talvez, vendo o(s) último(s) movimento(s) do capitalismo, tal e qual ele se apresentou até hoje, representando a etapa de exploração do trabalho, no período industrial mecânico de desenvolvimento da humanidade, que está sendo substituída pela era Cibernética e Nanotecnológica. E com as classes dominantes muito fortalecidas, podendo trocar a mão-de-obra cara, e senhora de consciência sobre seus direitos sociais, pelos quase indigentes, em termos de direitos sociais, como somos nosotros, abaixo da linha do equador.
Desta forma, ao contrário do que vem sendo propalado pela maioria da esquerda brasileira, a que chamo carinhosamente de Ex-Esquerda Corporation W.C., o que há acima do Equador em nada se assemelha a períodos revolucionários ou mesmo pré-revolucionários, constituindo-se, no máximo, em um período de revoltas pelo “bem estar” perdido e, pelo visto, com muito pouca consciência ideológica, haja vista o desprezo ou pouca relevância que estes movimentos relegam aos que construíram boa parte da riqueza da Europa e EUA, como são os de origem árabe, asiática (de menor porte no exterior) e latino-americana (afinal, “farinha pouca meu pirão primeiro”).
Como já escrevi antes, em um comentário ao artigo do Leo Lince, no Correio da Cidadania, penso que o máximo que dá para fazer por agora é aproveitar o momento para tentar unificar as esquerdas com um programa de não colaboração de classes (não só em belas palavras), recusa à participação do jogo institucional, abdicando de quaisquer participações em governos, parlamentos e partidos institucionalizados na ordem legal burguesa, que de democrática, na verdade, nada tem.
Mas, a ver o que acontece com aqueles que se dizem parte da esquerda revolucionária, isso parece longe, lá no primeiro mundo e aqui no terceiro, particularmente no Brasil, onde temos vários reduzindo seus patamares ideológicos, programáticos, ampliando à direita seus leques aliancistas.
Tem Partido que diz ter se formado integrado pela via Revolucionária, mas que mascou o mesmo cacoete eleitoral do “derrotar Serra nas urnas e DiLLma nas ruas”, igualzinho aqueles que se dizem de esquerda e permanecem no PT. Outro que se diz retornando ao terreiro Revolucionário esteve há pouco na Grécia em reunião de Partidos que se dizem Comunistas e Operários (como sabem, a prática é o que determina o que somos e não os slogans), em uma sopa de letrinhas entre leninistas, estalinistas e outros, onde é impossível enxergar uma possível unidade, além dos nomes de suas agremiações. Ainda nos brindou, este mesmo partido brasileiro, com a divulgação, como algo positivo, de que, na Rússia, a principal oposição a Putin é o... Partido Comunista Russo, de vocação stalinista inconteste. Vendem velocípede sem rodinhas como bicicleta de velocidade, e justificando a façanha como um ato de “agitação e propaganda”... Só se for contra. Outros apóiam os rebeldes financiados pela OTAN, em ação preparatória para a rapinagem energética em curso. Estes são os “revolucionários brasileiros”, ao menos aqueles que o dizem ser e estão vendo saída na política institucional burguesa, reunidos que estão em partidos que, a meu ver, apenas justificam o falso aspecto de “democracia” que temos entre nós.
Mas, neste curso de Titanic que vivemos, caso algo não surja de novidade no cenário político (e terá de ser obra dos homens e mulheres, e não de algum Deus ou Santo Salvador), o que poderá suceder?
Ora! A literatura, as artes pictóricas e musicais e a filmografia mundiais estão fartas de nos alertarem sobre o futuro, embora muitos duvidem da capacidade de alguns artistas nos colocarem frente a frente com o futuro.
Obras como Guernica (Pablo Picasso), A Barcarola (Pablo Neruda), Tropicália (Caetano Veloso), Vidas Secas (Graciliano Ramos), 2001, Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick), Idaho Transfer (Peter Fonda), O Discreto Charme da Burguesia (Luiz Buñuel) são algumas que posso citar, assim de repente, para ilustrar o que digo.
Mas existem três filmes que não posso deixar de colocar centralmente nesta exposição. O primeiro é O Sétimo Sêlo, obra prima de Ingmar Bergmann, onde, há cerca de 40 anos, nos colocou de frente para a invasão obscurantista das religiões (que me desculpe aquela ínfima minoria que lê o Evangelho como pessoas normais e progressistas, e não como aproveitadores da Fé alheia). As hordas de viventes submissos e tementes à morte (leia-se qualquer subversão da ordem), que apenas acompanham a própria mediocridade, através da iniqüidade social a que se acostumaram, sem certo comodismo (pensar e agir com a própria cabeça dá muito trabalho, angústias e aflições).
O segundo filme ao qual me reporto como principal é O Ovo da Serpente (também de Ingmar Bergmann), uma aula para aqueles que insistem em dizer que tudo o que está se configurando é obra de “interesses mais ou menos estanques entre si”, para combater o que acham uma exagerada visão própria de adeptos do que chamam de “teoria da conspiração”. Como se eu pudesse acreditar que o intrincado e complexo processo capitalista mundial, com sua rede de multi-configurações, pudesse ser erigido a partir de uma “mão invisível”, como quis que acreditássemos o tal do Adam Smith - em quem nem os verdadeiros capitalistas acreditam, apenas o apresentam como ídolo, para enganar os trouxas e dar desculpas para facínoras manterem as suas mãos bobas em uso.
E o terceiro filme, este do diretor Jean Jacques Annaud, que filmou o livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa, nos coloca de frente com uma situação que persiste entre nós desde os tempos imemoriais, a segregação social e econômica da grande maioria do povo.
E tem gente que diz que a humanidade avançou. Não, a maioria da humanidade não avançou, se formos comparar a evolução tecnológica, extração e acumulação de riquezas, acumulação de saberes com o contingente social segregado através dos tempos e, principalmente, na atualidade. Às vezes penso que muitos que se dizem progressistas acham que o mundo começa nos jardins paulistas, passa por Ipanema e acaba em Nova Iorque...
Podemos relacionar um quarto filme, se considerarmos a última cena da tragicomédia, O Jovem Frankenstein (Roman Polansky), quando a personagem da linda Sharon Tate, em fuga do castelo do Vampiro, acaba por morder o cangote de seu herói (o próprio personagem de Polansky), indicando-nos que o vampirismo, afinal, venceu e saiu dos domínios restritos da Transilvânia...
Pensando, então, em tudo o que já li, vi e ouvi, e que há tempos nos vem alertando sobre o que se sucederá com nosotros, avento que urge, portanto, que não acompanhemos a visão pragmático-industrial do capitalismo, mas sim entendamos a lógica de comunidades consideradas mais primitivas que as nossas (índios bolivianos, dos Chiapas etc.), com suas lógicas mais simples e econômicas e de menor complexidade, para sabermos resistir aos novos tempos. Estes, considerados por muitos “vanguardistas de molde europeu” como politicamente inferiores, pois refratários às formas de organizações impostas pelas sociedades que nos exploram há 500 anos, são os que estão a nos dar exemplos de resistência, e até enquadramento de governante - que até apóiam (no caso de Evo Morales), mas dos quais não são vassalos, como se comportam os que fazem parte de nossa colonizada Ex-Esquerda Coorporation W.C em relação aos seus eleitos.
Infelizmente, o sonho de consumo extremo democratizado “para todos”, a adoção de quinquilharias tecnológicas, tornadas ultrapassadas, como verdadeiros calhambeques, a cada seis meses, nada mais é do que o grande desvio pequeno burguês que se entranhou na alma dos que dizem terem vindo para revolucionar a política, mas que apenas se adaptaram ao que veio de fora, como “última novidade”.
O jeito foi se adaptar à institucionalidade burguesa, mas com discurso esquerdista, para salvar a própria honra, mesmo desonrando a memória daqueles que verdadeiramente lutaram e lutam por um mundo realmente diferente. Não passam de Calabares modernos, para não os chamarmos pelo nome daquele ex-cabo da Marinha de triste existência, ainda entre nós. Já a burguesia não são os traidores, são os próprios inimigos de classe, que temos de combater diuturnamente, sem concessões tão fartas.
Bem, o que dá o nome a este artigo (Junto da Burguesia, Só Haverá Lugar para os Jacarés) decorre de que, ao andar nas margens do Canal de Marapendi, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, “a cidade maravilhosa”, deparamo-nos com enormes Jacarés, com cerca de até 3,5 metros de comprimento e cerca de 250 Kg, muito bem adaptados em ilhas de lodo feito do esgoto que sai “in natura” das ligações clandestinas dos edifícios da burguesia, misturando-se com o esgoto também não tratado das comunidades (antes se chamavam Favelas), desaguando no mar, “embelezando” a paisagem e turbinando o banho de mar dos cariocas e turistas “do Leme ao Pontal”. Não há praia no Rio e em Niterói em que o esgoto não esteja presente (que me conteste quem for capaz).
A minha conclusão, na mesma hora em que vi tal cena, foi a de que só poderão participar da festa da burguesia, e assim mesmo em função subalterna (quem sabe como animal para visitação turística, como já o são os moradores das favelas “pacificadas”), aqueles que se transformarem em Jacarés e se submeterem a morar no esgoto da iniqüidade social, que cada dia atinge mais e mais habitantes. Malgradas as novas nomenclaturas e faixas econômicas maquiadas, como é a nossa Nova Classe Média, que ganha ATÉ R$1500,00 por mês, ou R$333,00 “per capta” em famílias de 4 pessoas, sem educação, transporte, segurança e saúde pública.
Bom Jacaré para todos, neste 2012!!!
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e não está gostando do cheiro deste 2012.
Tita Ferreira, pessoa cuja contribuição e observações foram essenciais para este artigo, recomenda o livro Não Verás País Nenhum (Ignácio de Loyola Brandão) e eu ainda sugiro o Admirável Mundo Novo, do excelente escritor estadunidense Aldos Huxley.
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