domingo, 20 de julho de 2008

Daniel Dantas e a mediocridade da burguesia nacional


As espertezas protagonizadas pelo banqueiro Daniel Dantas e sua turma simbolizam com nitidez e definição de formas como de fato se desenvolve e prospera o capitalismo no Brasil. Como os ideais do velho liberalismo estão mortos e enterrados na cova rasa da ignorância da burguesia, subexiste para eles apenas o negócio, o business, e este geralmente colocado sob o signo da vigarice, como bem apontou uma vez Ernest Bloch.

No Brasil, nós não tivemos uma revolução burguesa do tipo clássico, embora o país tivesse se inserido, desde cedo, no modo de produção capitalista, sempre de forma subordinada. Assim, a burguesia sempre foi dependente, ora do Estado, ora das economias centrais. Por ser subordinada e sócio menor, nunca foi revolucionária, no sentido de protagonizar, com originalidade, a renovação de velhos padrões pré-capitalistas. Permanentemente, conviveu com o arcaico e o tradicional, em detrimento daquilo que era vanguarda na matriz do próprio sistema do qual era periferia.

Getulio Vargas é o nome da revolução burguesa no Brasil. Sentindo ele, Getulio Vargas, a mediocridade burguesa, tratou de dotar o Estado de instituições que fizessem o papel e a fala da modernidade burguesa. Mas Getulio era um só e portanto, acabou faltando aquilo que nos países que fizeram revolução burguesa tinham de sobra ou tinham, pelo menos até o advento do neoliberalismo. Primeiro, uma sólida cultura de classe dominante, que hegemonize a cena pública e privada nas diversas esferas da vida social. Dois, um eco social próprio da classe, mas capaz de informar e formar traços psicológicos e morais também nas classes dominadas. Três: uma ética burguesa que fale por si mesma como classe, mas sobretudo para a sociedade como um todo, sob prescrições comportamentais, normas civilizatórias, valores iluministas e exortações republicanas.

Portanto, a tragédia ética do Brasil é muito motivada por essa completa ausência de espírito revolucionário, no sentido burguês mesmo, e das nossas medíocres elites econômicas. Neste país, todo burguês é um usurpador. Chegou onde se encontra, no topo da pirâmide, sem nunca ter feito qualquer esforço social, intelectual ou econômico para justificar a sua condição de classe dominante. Chegaram ali, ou por força de vantagens adquiridas junto ao aparelho de Estado, ou por serem sócios menores de interesses geopolíticos das economias centrais.

Daniel Dantas, portanto, é apenas e somente o herdeiro mais fiel e bem sucedido de uma longa tradição de nossa burguesia brasuca.

Pensem nisso, enquanto eu me despeço.

Até mais!
Cristóvão Feil é sociólogo

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