São Paulo - Com 2,5 mil pessoas no Centro de São Paulo, a Assembleia de Movimentos Sociais definiu propostas para o país. Apesar de haver a previsão de que o material seja entregue a todas as candidaturas à Presidência da República, sobraram críticas e ataques ao PSDB e ao DEM. Delegações de 20 estados estiveram no evento. Vários dos ativistas qualificaram a assembleia como um momento histórico.
Foram realizadas assembleias em 20 estados para definir as propostas, segundo a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), organizadora do evento. Nesta terça-feira (1º), a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, no estádio do Pacaembu, também na capital paulista, define plataforma análoga, desta vez por centrais sindicais.
O integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, fez um alerta endereçado especialmente a jornalistas de veículos de comunicação: "Não viemos aqui fazer comício nem programa de governo da Dilma (Rousseff)." Em seguida, desafiou: "Mas não tenham dúvida de que todos queremos derrotar os tucanos em todas as partes do Brasil."
Em ano eleitoral, centrais querem redução da jornada aprovada até junhoUma lista de 56 itens compõe a pauta dos movimentos. De redução do superávit primário e dos juros básicos da economia até a nacionalização da Petrobras, os itens abarcam até questões internacionais. Há críticas à política externa dos Estados Unidos e manifestação de solidariedade ao povo palestino, além de pedir o fim da prisão de Guantânamo.
Nem todos os pontos defendidos seriam corroborados por um programa de governo da pré-candidata Dilma Rousseff. A defesa do fim do fator previdenciário, aprovado no Congresso e a espera de sanção de Luiz Inácio Lula da Silva é um deles. Diferentes ministros do governo federal defenderam publicamente o veto. A democratização dos meios de comunicação e do Conselho Monetário Nacional (CMN) também seriam pontos que dificilmente fariam parte de um programa oficial.
A assembleia dos movimentos repete um encontro realizado em 2006, quando uma plataforma unitária de propostas foi apresentada aos candidatos. Além dos projetos, o encontro foi voltado a definir um calendário de mobilização para garantir conquistas que "derrotaram o modelo neoliberal e decretaram o fim da Alca (Área de Livre Comércio das Américas)", conforme definiu João Paulo.
Artur Henrique da Silva Santos, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entende que a assembleia tem importância internacional em um contexto em que os reflexos da crise financeira internacional, que eclodiu em 2008 e 2009, ainda são percebidos em países como a Espanha, Grécia e Itália. "Precisamos mostrar ao mundo o que acontece em nosso continente, a América Latina, quando governos populares e democráticos promovem 'outro desenvolvimento'", defendeu.
O presidente da CUT deixou clara a predileção pela pré-candidata Dilma Rousseff, embora tenha evitado mencionar diretamente o nome da petista. "Precisamos de uma... precisamos de uma... precisamos de uma mulher na Presidência da República", defendeu. "A tentativa do PSDB e do DEM de vencer a eleição é para voltar e repetir o que o PPPP fez: o partido da privatização, do presídio, do pedágio e da paulada em professor", discursou.
O deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, lembrou que já foi condenado a duas multas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por campanha antecipada, mas não hesitou em reafirmar sua posição. Ele prometeu manter as declarações de apoio à pré-candidata petista, por não ter a mídia para defender suas ideias. Recebido sem entusiasmo pelos participantes da marcha, já que a central sindical não integra a CMS nem tinha delegações, ele saiu aplaudido após críticas ao pré-candidato José Serra (PSDB).
"A direita tenta barrar os avanços dos trabalhadores", afirmou Paulinho. "Podem processar que nós vamos falar. Como esse sujeito vai ser presidente sem dialogar com os movimentos sociais? Se isso ocorrer, vai haver conflitos. Precisamos derrotá-los, para ele aprender como ouvir os trabalhadores", ameaçou. Segundo o sindicalista, caso José Serra seja eleito, ele acabaria com a política de reajuste do salário mínimo acima da inflação, definida a partir de 2006, entre outras medidas adotadas pelo governo Lula.
Augusto Chagas, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) comemorou o fato de o Brasil ter deixado para trás o "momento de marasmo" econômico e social, quando "milhares passavam fome e viviam sem emprego". Atualmente, o cenário é de democracia fortalecida, segundo ele. "Isso acontece pelo protagonismo político dos movimentos sociais e de trabalhadores que criaram as condições para os avanços", celebrou.
"A elite brasileira está furiosa e vai mobilizar todas as suas armas", disse Chagas. Ele classificou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de "mentiroso" por estabelecer, ao comandar as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), uma "criminosa" taxa de juros "que impede dias de mais desenvolvimento".
"Nosso projeto popular com soberania para os povos é contra o modelo machista e homofóbico que valoriza o latifúndio e o agronegócio, que estimula o consumo desenfreado e não valoriza o trabalho das mulheres", enumerou Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres.
A CMS é formada por 28 movimentos e entidades sociais, incluindo três centrais sindicais, entidades de representação de negros, mulheres, ativistas pelo direito à moradia, entre outros.
* Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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