Carlos Marighella é daqueles que mesmo depois de assassinado ainda amedronta os inimigos. Comanda mesmo no silêncio, através das idéias e dos exemplos, exércitos de novas gerações que acreditam nas mudanças revolucionárias.
São quarenta e um anos longos e lúcidos cor que em combate ele nos foi tirado à força das fileiras. Quarenta anos de saudade dos mais velhos e de respeito dos mais novos que aprenderam a admirá-lo, mesmo não o tendo conhecido pessoalmente; mas que, sob o seu comando, integram hoje as centenas de trincheiras espalhadas pela pátria inteira.
Nasceu na Rua do Desterro e carregou a sina, desterrando-se e desterrado pelas condenações. Queria o campo; lá era o espaço da guerrilha, mas o tempo não permitiu que fizesse essa inflexão no destino da revolução.
Aprendera nos combates que, para cada ofensiva do inimigo, devia abrir outra frente política. Procurar caminhos alternativos e diversificados, pois é na ação que se faz a organização para acompanhar o movimento das mudanças. Assim sendo, em todo e qualquer avanço sempre deve haver a garantia da retirada. Cuidar de atacar para enfraquecer o inimigo, enquanto se fortalece a própria força.
A geração de Carlos foi de rupturas. Seus comandantes tinham um nome só. Por isso “Carlos” é escrito no plural: Carlos Prestes, Carlos Lamarca e Carlos Marighella. A história esculpira a pancadas cada qual.
A geração de Carlos era universal, porque o imperialismo também o era. Golpeava em todos os lugares do mundo: naqueles já vencidos e nos que ainda se haveria de vencer.
Com sua morte silenciaram as massas e no silêncio a nação perdeu a graça. Não pode haver vitórias quando os povos perdem os seus líderes mais conscientes. Eles compunham a parte que pensava diferente, sonhava diferente para o tempo futuro. Combatiam aqueles que ditavam as diferenças, matavam seus irmãos e bajulavam os capitalistas. Não podem ter vencido aqueles que ao império haviam se vendido.
A geração de Carlos se recolheu e guardou os fuzis. As massas foram ensinadas a empunhar bandeiras. Encheram as alamedas e as avenidas, ouvindo o próprio grito dos aflitos; e o barulho permitiu que o algoz se juntasse a nós.
Disse ele:“A direção ideológica é a condição fundamental para o êxito da direção política”. Quando os êxitos não são êxitos e, nas vitórias ninguém é derrotado; na tática existe algo errado.
Questão de tempo. Se é verdade o que ele defendia, que os meios a serem empregados nas lutas, são aqueles que as massas aceitam, embora os revolucionários devam ajudar a escolhê-los, os fuzis e as bandeiras um dia separados, voltarão e servirão nas mesmas fileiras.
Assim a história encontrará o seu rumo, pois as massas e a vanguarda dela farão o mesmo resumo. Isto sempre ocorre quando as gerações se reencontram e se contam os acertos e as perspectivas, daí renascem as táticas ofensivas.
Carlos Marighella, nunca deixará de ser uma lembrança combativa; a sua imagem continuará viva na memória e em nossos corações. Se os seus exemplos recontam o seu destino, se espalharão como um perfume fino, nas consciências das novas gerações.
Marighella vive!
*Ademar Bogo
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